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MG assina decreto para atrair R$ 26 bi com ferrovias

Estado quer permitir que 19 projetos de operação de ferrovias por empresas sejam realizados no modelo de autorização

Trem em ferrovias de Minas Gerais

Governo de Minas Gerais planeja que trecho de 130 quilômetros de trilhos entre Lavras e Varginha seja o primeiro no novo modelo | Foto: Getty Images

O governo de Minas Gerais assinou um decreto que deve viabilizar um novo regime de operação de ferrovias no Estado, com estimativa de atrair R$ 26,7 bilhões em investimentos.

A ideia é possibilitar o primeiro trecho ferroviário do Brasil administrado no modelo de autorização, pelo qual uma empresa privada atua por conta e risco próprios.

Com o movimento, Minas Gerais se antecipa ao Congresso Nacional, que ainda não aprovou o projeto de lei que permite esse tipo de regime em ferrovias federais (mais informações nesta página).

A Assembleia Legislativa do Estado já deu aval ao modelo, faltando apenas a regulamentação, despachada na terça-feira, 8, pelo governador Romeu Zema (Novo). Minas mapeou 19 projetos que, potencialmente, podem ser operados (veja ao final do texto) no modelo de autorização.

Primeira ferrovia de Minas Gerais no modelo

O governo estadual já previu qual trecho vai estrear o novo regime. São os 130 quilômetros de trilhos entre Lavras e Varginha.

O projeto envolve a VLI Logística, que hoje tem a concessão desse trecho, mas abandonou sua operação, segundo o secretário estadual de Infraestrutura e Mobilidade, Fernando Marcato.

Em vez de pagar uma multa ao governo federal, a empresa propôs à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) revitalizar o percurso da ferrovia e deixá-lo pronto para Minas Gerais repassá-lo em formato de autorização a um novo operador, que já está em tratativas com o Estado.

A estimativa é de que R$ 140 milhões sejam aplicados nessa reforma. “Conseguimos negociar com a VLI para que faça a renovação, porque a empresa tem de devolver o trecho renovado ou pagar a multa”, disse Marcato. Procurada, a VLI informou que não irá se manifestar sobre o assunto no momento.

Com a estratégia, o Estado tenta tornar o trecho mais atrativo para o próximo operador privado, já que retira do futuro administrador o ônus de desembolsar o investimento.

“Acho que realmente seremos o primeiro Estado a ter a primeira ‘shortline’ (trecho curto de ferrovia operado por autorização)”, afirmou o secretário, segundo quem uma resposta da ANTT sobre o processo é esperada para julho.

De acordo com a secretaria comandada por Marcato, Minas Gerais é o primeiro Estado do País em extensão de malha ferroviária, com cerca de 16,3% de toda a rede nacional de ferrovias.

O problema, no entanto, está em trechos e ramais ferroviários abandonados que poderiam atender a necessidades regionais do Estado, como no caso entre Lavras e Varginha.

O governo federal também tenta resolver esse problema por meio de projeto de lei no Congresso desde 2019, mas o texto que vai permitir a mudança de regras no setor ainda aguarda votação no Senado.

Enquanto isso, Minas procura solucionar gargalos logísticos internos, aplicando o novo regime a trilhos que ficam dentro dos limites geográficos do Estado.

Quem assumir um trecho abandonado ou apresentar ao governo local projeto para construir uma ferrovia do zero, poderá operar o traçado por até 99 anos, com possibilidade de prorrogação, sem interferências de regulação econômica.

Turismo e cargas

O trecho entre Lavras e Varginha, em princípio, tem vocação para abrigar um trem turístico, mas o Porto Seco no Sul de Minas também teria interesse no traçado para transporte de cargas, segundo a secretaria do Estado.

No futuro, a ligação ainda pode favorecer outro projeto, a partir de Três Corações (MG) – uma das cidades por onde passam os trilhos que conectam Lavras e Varginha – até a cidade de Cruzeiro (SP), atravessada pela ferrovia da MRS Logística.

O Plano Estratégico Ferroviário de Minas Gerais estima que, em 2025, no trecho entre Cruzeiro e Varginha, 3,97 milhões de toneladas possam ser transportadas ao ano, com previsão de chegar a até 5,27 milhões em 2055.

O destaque nos números é cargas em geral. Para viabilizar esse traçado, no entanto, o Congresso Nacional vai precisar dar aval ao regime de autorização, já que nesse caso os trilhos saem do limite mineiro e passam pelo Estado de São Paulo.

O governo de Minas prevê que, considerando os projetos que podem ser destravados no Estado com o regime de autorização, 373 mil empregos diretos e indiretos poderiam ser gerados.

Além disso, a arrecadação de impostos indiretos chegaria a R$ 2,8 bilhões e haveria ainda crescimento de 3% do PIB do Estado – a partir dos investimentos previstos em obras e materiais rodantes para o funcionamento das ferrovias.

Trechos ferroviários com potencial em Minas Gerais

Turismo

  • Caparaó – Espera Feliz
  • Cataguases – Além Paraíba
  • Jacutinga
  • São Sebastião do Rio Verde – Passa Quatro
  • Viçosa – Cajuri
  • Lavras – Três Corações – Varginha
  • Ramal de Águas Claras (Vila da Serra – Belvedere – Olhos D’Água)

Regional

  • BH – Sabará – Raposos – Nova Lima – Rio Acima – Itabirito – Ouro Preto
  • Mariana – Além Paraíba

Cargas

  • Unaí – Pirapora
  • Conceição do Mato Dentro – Ipatinga
  • Porteirinha – Salinas – Itaobim – Jequitinhonha
  • Uberlândia – Ituiutaba – Chaveslândia (Santa Vitória)
  • Itaobim – Teófilo Otoni – Governador Valadares
  • Janaúba – Porteirinha – Grão Mogol
  • Extensão Ferrovia do Aço (Rio Acima – Belo Horizonte)
  • Araçuaí – Teóofilo Otoni – Nanuque
  • Miguel Burnier – Ponte Nova – Ubá – Muriaé
  • Varginha – Três Corações – Passa Quatro

(Com AE)

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