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Aluguel residencial no Brasil cai 0,61% em 2021 em novo índice da FGV

Índice de Variação de Aluguéis Residenciais da Fundação Getulio Vargas reúne informações de contratos de longo prazo de quatro capitais

Aérea de prédios de São Paulo com a Avenida Paulista em destaque no centro, alusivo ao valor do aluguel no Brasil

O maior destaque do trimestre ficou com a região da Paulista, que absorveu mais de 20 mil metros quadrados, a maior parte por empresas financeiras, de serviços de médicos e de saúde | Foto: Getty Images

A crise provocada pela pandemia de covid-19, com reflexos sobre a renda da população, derrubou o valor do aluguel residencial no País.

No momento de redução mais aguda, em meados de 2020, os preços acumulavam em 12 meses uma queda superior a 7%, segundo os dados do Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (Ivar), lançado nesta terça-feira, 11, pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Após recuperação no segundo semestre, os contratos terminaram 2020 com alta de 4,08%, mas encerraram 2021 com queda de 0,61%.

O Ivar reúne informações de contratos de aluguéis em quatro das principais capitais brasileiras: Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo.

Todas as informações são tratadas de forma anônima, respeitando a privacidade de dados.

Segundo Paulo Picchetti, pesquisador responsável pela metodologia do Ivar no Ibre/FGV, o setor imobiliário foi profundamente impactado pelos efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho.

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A perda do emprego e a queda na renda levaram a negociações entre inquilinos e proprietários, que resultaram, em sua maioria, em queda ou manutenção dos valores dos aluguéis.

“Com a pandemia, a gente sabe que muita gente teve perda de renda muito repentina e muito profunda”, lembrou Picchetti.

Também apurado pela FGV, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), índice de preços majoritariamente adotado como base para reajustes no valor de contratos de aluguel, acumulou uma alta de 17,78% no ano de 2021, após já ter subido 23,14% em 2020.

O resultado do Ivar, porém, mostra que a realidade financeira da população, que contribui para a dinâmica de oferta e demanda de imóveis, acabou se sobrepondo aos índices de preços que reajustam os contratos em vigor.

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"A renda não subiu nessa proporção (do IGP-M), na verdade caiu. Muitos locadores se viram numa situação em que tiveram que pegar o apartamento de volta, porque os locatários não tinham condições de continuar pagando", disse Picchetti.

Entre as quatro capitais pesquisadas, a queda acumulada ultrapassou os 10% em Porto Alegre em agosto de 2020 e em Belo Horizonte entre julho e setembro daquele mesmo ano, enquanto as cidades de São Paulo (-6,06% em agosto de 2020) e Rio de Janeiro (-8,83% em julho de 2020) registraram reduções um pouco menos acentuadas.

"De fato, houve muita negociação entre inquilinos e proprietários. Era uma coisa que a gente tinha sensibilidade, mas não tinha a informação. Não havia condições de pagar um reajuste se a família tinha perdido emprego", justificou André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Ibre/FGV.

"Muita gente partiu para a negociação. Até porque, para o proprietário, aluguel é fonte de renda, você não pode abrir mão repentinamente. Então é melhor manter um inquilino bom pagador", completou Braz.

Acompanhando a melhora do poder aquisitivo das famílias e da atividade econômica, em meio ao pagamento do auxílio emergencial e reabertura de estabelecimentos comerciais, os contratos de locação voltaram a mostrar recuperação ao longo do segundo semestre de 2020 nas quatro regiões investigadas, encerrando aquele ano com aumento de 4,08% na média nacional.

No entanto, o índice mostrou novo freio no primeiro trimestre de 2021, época em que o País foi abatido pela segunda onda da covid-19.

Desde então, a variação acumulada em 12 meses ensaiou retomada, voltando a perder fôlego no último semestre do ano passado, quando encerrou em trajetória declinante.

Valor do aluguel em dezembro

O Índice de Variação de Aluguéis Residenciais desacelerou de uma alta de 0,79% no mês de novembro de 2021 para elevação de 0,66% em dezembro.

A taxa acumulada em 12 meses saiu de alta de 0,70% em novembro para terminar o ano de 2021 com uma queda de 0,61%.

Quanto aos resultados regionais, o Ivar desacelerou em duas das cidades de maior peso entre novembro e dezembro: São Paulo (de 0,78% para 0,48%) e Rio de Janeiro (de 1,46% para 1,03%).

Por outro lado, houve avanço no ritmo de alta em Belo Horizonte (de 1% para 1,17%) e Porto Alegre (de 0,27% para 0,43%).

No ano de 2021, os aluguéis recuaram 1,83% em São Paulo. Houve redução também em Porto Alegre: -0,35%. A maior alta foi em Belo Horizonte, 1,46%, seguida por Rio de Janeiro, 0,46%.

Os pesquisadores do Ibre/FGV ressaltam que os aumentos de preços de itens inegociáveis para a população, como energia elétrica, alimentos e combustíveis, ainda prejudicam a capacidade de pagamento das famílias, ao mesmo tempo em que a geração de vagas no mercado de trabalho não tem levado a uma melhora na massa de rendimentos disponíveis.

A inflação elevada reduz a renda familiar, que também é pressionada pela apatia da atividade econômica e pelo alto índice de desemprego, enumera Braz.

"Se a população não tem renda para pagar o aluguel, é provável que os contratos fiquem mais estáveis", explica.

Mudança na coleta de dados

O Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (Ivar) passa a medir mensalmente a evolução dos valores de aluguéis residenciais em quatro das principais capitais brasileiras com base em informações anonimizadas de contratos de locação de longo prazo obtidas pelo Ibre/FGV com empresas administradoras de imóveis e entidades de classe.

Até então, os preços dos aluguéis residenciais eram apurados pela FGV tendo como base anúncios de locação.

A mudança na coleta dos dados explica as diferenças dos resultados do Ivar em relação aos outros índices que medem a evolução do valor do aluguel residencial no Brasil.

No Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o subitem aluguel residencial teve um aumento de 6,98% no ano de 2021.

Enquanto isso, no Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S, do Ibre/FGV) a alta foi de 4,45%.

"O proprietário coloca (o imóvel) no mercado, mantém aquele valor anunciado por um tempo, mas muitas vezes acaba fechando por um preço menor. A mesma coisa acontece no mercado de compra e venda", justificou Aloisio Campelo Júnior, superintendente de Estatísticas Públicas do Ibre/FGV.

O novo índice coletará informações de cerca de 10 mil contratos por mês. A FGV tem intenção de incluir mais capitais no cálculo, mas ainda não obteve dados em quantidade e regularidade suficientes para a produção de estatísticas confiáveis, justificou Picchetti.

A próxima divulgação do Ivar, referente a janeiro, ocorrerá em 10 de fevereiro de 2022. (AE)

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