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Crise imobiliária na China traz risco de desvalorização com impacto global

Ajuste do mercado imobiliário na China e desaceleração da atividade global podem catalisar ciclo de desvalorização da moeda chinesa, com repercussão mundial; leia análise do Banco Safra

Construções de prédios na China

O governo tem feito pequenos cortes na taxa de juros, mas em escala modesta, e os bancos estão diminuindo a remuneração de seus depósitos para estimular o consumo | Foto: Getty Images

O consumo pessoal na China cresceu na primeira metade de 2023, após as dificuldades do longo período de isolamento social observado no país. Essa aceleração foi, no entanto, tímida em relação a movimentos pós confinamento no Ocidente. Ela refletiu a queda da taxa de poupança pessoal de 36% no quarto trimestre de 2022 para 32% no segundo trimestre deste ano, mas essa taxa permanece acima do patamar de 2019, em contraste com o ocorrido, por exemplo, nos EUA. Além disso, observa- se no atual trimestre arrefecimento do crédito e retração das vendas de varejo em julho em relação ao mês anterior, além de mais um pequeno aumento do desemprego.

Ao fraco desempenho do consumo, soma-se a estagnação no investimento das empresas do setor privado desde o final de 2022 (Gráfico 1). Em contraste com a retração de 0,5% desse investimento nos últimos doze meses, o investimento das empresas estatais cresceu 7,6% no mesmo período.


O mercado imobiliário segue em retração. As vendas de imóveis recuaram 24% em julho desse ano em relação ao mesmo mês do ano passado, o que tem contribuído para a queda do preço dos imóveis novos. Nesse ambiente, o início de novas construções continua em forte deterioração, o que reduzirá sensivelmente o ritmo de atividade no setor, isto é, as construções em andamento, ao longo dos próximos trimestres.

A contração do setor de construção civil prejudicará, assim, o crescimento do PIB em 2024. As dificuldades do setor têm sido refletidas nos problemas de grandes construtoras honrarem suas dívidas de maneira tempestiva, com repercussões no sistema financeiro.

O volume exportado estabilizou com o arrefecimento da demanda por bens industrializados nos países desenvolvidos. Esse baixo desempenho deverá continuar, diante da perspectiva de crescimento econômico modesto nos EUA e na zona do Euro para o próximo ano.

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Finalmente, os preços ao consumidor recuaram 0,3% nos últimos doze meses, refletindo o ritmo lento da economia. Com essa deflação, a taxa de juros real subiu para 3,0% a.a., acima da média do período de 2016-19 em torno de 1,0% a.a., o que traz novos desafios para a atividade à frente.

O governo tem feito pequenos cortes na taxa de juros, mas ainda em escala modesta. No dia 14 de agosto houve novo corte, de 2,65% a.a. para 2,50% a.a. da taxa básica de financiamento aos bancos (MLF), o que prenuncia quedas nas taxas alvos para os empréstimos para o setor privado (LPR). Além disso, os bancos estão diminuindo a remuneração de seus depósitos para estimular o consumo. Essas medidas são marginais, sendo que a diminuição das taxas de depósitos pode apenas acelerar a busca por investimentos alternativos (shadow banking).

Enfraquecimento da moeda na China causa incerteza nos mercados

Um ciclo de afrouxamento monetário na esteira da incerteza sobre o desempenho da atividade e a estagnação das exportações pode gerar um ciclo de desvalorização da taxa de câmbio. A desaceleração econômica chinesa pode impactar o preço das commodities, como já vem fazendo com o preço do minério de ferro e, indiretamente, moderando a alta do preço do petróleo.

O impacto no preço dos alimentos é mais indireto, conforme o governo tente evitar uma real contração do consumo ou perda significativa do poder de compra da população.

O enfraquecimento da moeda chinesa no quadro de atividade econômica fraca e taxas de juros cadentes já vem forçando o banco central a intervir no câmbio, o que pode exacerbar a volatilidade na taxa de juros longa nos EUA, se essa intervenção exigir a venda de títulos públicos americanos para gerar dólares a vista.

Portanto, o PIB real deverá apresentar expansão em torno de 5,0% nesse ano, com viés para baixo. A continuidade do ajuste do mercado imobiliário e a estagnação do consumo de produtos industrializados ao redor do mundo prejudicarão a atividade do próximo ano, podendo catalisar um ciclo de desvalorização da moeda chinesa, com repercussão global e, especialmente, nos parceiros comerciais.

Leia a íntegra da análise semanal macroeconômica do Safra

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