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Infectados leves podem ter anticorpos permanentes

Estudo publicado na revista Nature traz resultados otimistas, mas descoberta não exclui necessidade da vacinação contra a covid-19

Pesquisa em laboratório

Pesquisa aponta que anticorpos contra a covid-19 de curados são produzidos por células plasmáticas, que vêm da medula óssea | Foto: Getty Images

Estudo publicado na revista científica Nature mostra que pessoas que contraíram a covid-19 de forma leve ou moderada podem produzir anticorpos de forma permanente contra o novo coronavírus.

Entretanto, a recuperação da doença não anula a necessidade de vacinação, uma vez que pessoas reinfectadas podem desenvolver formas graves da doença.

Além disso, a efetividade dos anticorpos gerados naturalmente pode ser baixa contra variantes do coronavírus. No Brasil, já houve uma morte confirmada por reinfeção por uma nova cepa do vírus.

No estudo publicado na Nature, uma das observações em pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 mostra que o nível de anticorpos começa a diminuir após quatro meses.

O importante é perceber se, apesar da queda de anticorpos, o doente desenvolveu também uma resposta imunológica completa, que inclui a criação de glóbulos brancos capazes de eliminar o vírus, muitos meses e até anos após a primeira infecção.

Detalhes da pesquisa

De acordo com a publicação na Nature, especialistas analisaram um grupo pequeno de 77 doentes que tiveram a doença de forma ligeira ou moderada (grupo sobre o qual existiam dúvidas).

Os cientistas notaram que, na maioria do casos, os anticorpos contra a covid-19 diminuem acentuadamente depois de quatro meses.

No entanto, a redução é mais lenta e essas moléculas ainda estão presentes no sangue 11 meses após a doença. O estudo foi o primeiro a analisar a presença de células plasmáticas de longa vida na medula óssea.

As células plasmáticas são geradas quando um patógeno entra no organismo. No caso da covid-19 é, por exemplo, a proteína S que o vírus usa para infectar as células humanas.

Após a infecção, essas células imunes viajam pela medula óssea, onde permanecem em estado latente. Se o vírus reaparecer, as células regressam à corrente sanguínea e começam novamente a produzir anticorpos.

O estudo mostra que a grande maioria dos doentes que conseguiram recolher amostras de medula óssea – 15 de 18 – gerou células plasmáticas no sistema imunológico.

“As células plasmáticas podem durar a vida inteira”, disse ao jornal espanhol El País Ali Ellebedy, imunologista da Escola de Medicina da Universidade de Washington.

Anticorpos não garantem imunidade à reinfecção

Por outro lado, a presença de anticorpos nem sempre significa que a pessoa está “imune” à reinfecção por covid-19, embora possa acontecer em algumas pessoas.

Ellebedy esclarece que se os anticorpos produzidos por células de longa vida não forem suficientes, o sistema imunológico ativa as células B de memória, capazes de produzir ainda mais anticorpos.

Uma das questões que se coloca é se esse tipo de célula do sistema imunológico é capaz de neutralizar as novas variantes que têm surgido. “Tudo depende de quanto muda a sequência genética do vírus”, afirma Ellebedy.

Existem alguns tipos de anticorpos que não conseguem neutralizar o vírus, mas o sistema imunológico nunca aposta tudo numa jogada e produz anticorpos contra muitas proteínas diferentes do vírus e das células de memória com as mesmas capacidades.

“Essas células de longa vida são uma ajuda na imunidade contra outras doenças por muitos anos”, afirmou Manel Juan, chefe do serviço de Imunologia do Hospital Clinic em Barcelona.

O mesmo ocorre com outras infecções. Os anticorpos e células de memória contra o SARS, um coronavírus que provocou a morte de pelo menos 800 pessoas no início da última década, duram pelo menos 17 anos.

Com a varíola, mais de 50 anos após a vacinação, as pessoas retêm células B capazes de produzir anticorpos se o vírus reaparecer no organismo. (Com Agência Brasil)

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