Arte brasileira vai mudar cartão-postal de Paris
Intervenções urbanas organizadas por curadora brasileira ficarão expostas na margem esquerda do Rio Sena até outubro
29/06/2021Como parte da celebração da retomada à vida cultural, Paris vai enfeitar uma das margens do Rio Sena com arte brasileira. A exposição “Les Amazones” poderá ser vista a partir desta terça, 29, no ponto turístico da capital francesa, por quem passar pelas redondezas de um de seus mais tradicionais cartões-postais.
A mostra é composta por obras em geral grandes, em escala urbana, feitas apenas por mulheres dedicadas à arte de rua. A linguagem escolhida para a intervenção permitirá que o público veja algumas das artistas interferindo nos trabalhos durante a exibição, que permanecerá em cartaz até outubro, no coração das margens do banco esquerdo do Sena, no pé da Ponte dos Inválidos.
Ao lado das obras das brasileiras Drika Chagas, do Pará, e Sayonara Pinheiro, de Natal, parisienses e turistas poderão ver também criações inéditas das francesas Hydrane, Kashink, Loraine Mott, Olivia de Bona e Rouge e, da belga , Jolene Kitsune. A proposta da mostra é aproximar artistas urbanas dos dois países.
A ideia e a curadoria são de Agathae Montecinos, brasileira criada em Natal, pós-graduada em arte urbana na Universidade Paris 1 Sourbonne. Montecinos, que vive na capital francesa desde 2013, falou com O Especialista sobre como é levar a arte brasileira de rua a um dos cenários mais tradicionais de Paris.
O Especialista – Como os parisienses recebem a arte brasileira em suas ruas?
Agathae Montecinos – A arte brasileira é super bem vista pelos parisienses e franceses em geral. Os brasileiros são reconhecidos por sua criatividade aqui. A arte urbana funciona muito bem, vários artistas brasileiros já passaram por aqui participando de exposições coletivas e individuais, residências artísticas e festivais.
Como foi o processo de deixar a arte nas ruas de Natal para ingressar em uma das universidades mais tradicionais do mundo?
Eu sempre fui muito curiosa e buscava novas aventuras, tive a oportunidade de criar a primeira galeria de arte urbana na minha cidade em 2009. Foi bem difícil e logo percebi que Natal não correspondia aos meus projetos. Apaixonada por arte e cultura eu vim me especializar no setor. A vida de estudante estrangeira sem bolsa é muito difícil, Paris é uma cidade maravilhosa e extremamente cara. Eu sempre tive que estudar e trabalhar ao mesmo tempo, e logo acumular vários trabalhos para poder viver e realizar projetos. Mas conei muito com a ajuda de uma irmã, que veio na frente para Paris, e amigos que cultivei aqui sempre foi essencial.
Como foi a vida de estudante de arte na Sorbonne?
Integrar a Paris 1 Sorbonne foi a realização de um sonho. Integrar um dos mestrados mais prestigiados de arte no espaço público do país foi uma realização imensa. Participei da promoção de 10 anos desse mestrado [em arte urbana] e foi algo transformador. Meu orientador da tese de mestrado foi o diretor e criador dessa formação. É uma honra ter sido orientada por Pascal Le-Brun Cordier, referência nacional das artes no espaço público no mundo
Em que momento você passou a vislumbrar essa ponte entre a produção brasileira e as ruas francesas?
O mestrado foi super formador, me abriu muitas portas e foi uma inspiração para criar a Pixo, que hoje tem seis anos de história. A Pixo é uma associação franco-brasileira criada por mim no final de 2014. Desde então trabalhamos para a valorização da arte urbana brasileira na França e criação de pontes entre a França e o Brasil. A associação desencadeou igualmente a criação do “INarteurbana”, projeto de reabilitação urbana que acontece em Natal desde 2015.