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Ata do Fed indica alta mais rápida da taxa de juros a partir de março

O documento destaca entre os fatores para a alta, a inflação bem acima da meta de 2% ao ano e um mercado de trabalho forte

Fed

Consulta do Fed junto ao mercado aponta uma probabilidade de 70% de alta de juros em março | Foto: Gety Images

Os dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) avaliaram que a taxa de juros segue como principal ferramenta para ajustar a política monetária e que em breve será apropriado elevá-la, de acordo com a ata da última reunião, divulgada nesta quarta-feira, 16. O documento destaca entre os fatores para tanto a inflação bem acima da meta de 2% ao ano e um mercado de trabalho forte. Em janeiro o índice de preços ao consumidor indicou inflação de 7,5% em 12 meses.

Segundo a ata, os membros do Fed concordaram que os indicadores de atividade econômica e emprego continuaram se fortalecendo, sendo que os setores mais afetados pela pandemia melhoraram nos últimos meses. “Os ganhos de emprego foram sólidos nos últimos meses, e a taxa de desemprego caiu substancialmente”, diz o texto.

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No entanto, os dirigentes reconheceram que o caminho da economia continua a depender do curso do vírus da covid-19. “Esperava-se que o progresso nas vacinações e a redução das restrições de oferta apoiassem os ganhos contínuos na atividade econômica e no emprego, bem como a redução da inflação, mas os riscos para as perspectivas econômicas permaneceram, inclusive de novas variantes do vírus.”

Expectativa do mercado é de aumento iminente dos juros

A expectativa da data para aumento nas taxas de juros pelo Fed foi antecipada, e uma elevação na reunião de março da autoridade foi precificada, segundo a ata. De acordo com a publicação, a consulta do Fed junto ao mercado aponta uma probabilidade de 70% de alta de juros no encontro de março, enquanto as perspectivas para a trajetória dos juros também foram elevadas.

A projeção mediana para o nível mais provável da faixa-alvo dos Fed funds no final de 2024 foi de cerca de 2%, semelhante a dezembro, aponta o documento. No entanto, os entrevistados atribuíram probabilidade de resultados em que o intervalo alvo se moveu mais do que o indicado pelo trajeto projetado, afirma.

Além disso, a ata aponta que a mudança de opinião sobre o provável caminho do balanço do Fed, ocorrida após a divulgação das atas do encontro de dezembro, pareceu afetar os rendimentos dos Treasuries de longo prazo. Os rendimentos reais muito avançados subiram ao longo do período, com grande parte do aumento após o lançamento da ata reunião de dezembro, nota o documento. A projeção mediana da pesquisa para o início do escoamento do balanço patrimonial foi deslocada para o terceiro trimestre deste ano, cerca de um ano e meio mais cedo do que nas pesquisas de dezembro.

Por sua vez, sobre o processo de tapering, a ata aponta que as reduções no ritmo das compras de ativos líquidos pelo Fed decorreu sem problemas até o momento e com os mercados de Treasuries e de títulos atrelados a hipotecas (MBS, na sigla em inglês) permanecendo estáveis.

Inflação ficou acima do esperado

A ata aponta que as leituras de inflação nos Estados Unidos continuaram a exceder “significativamente” a meta da autoridade, e que a elevação de preços vem persistindo mais do que eles haviam antecipado. De acordo com a ata, tal movimento está refletindo a oferta e desequilíbrios de demanda relacionados à pandemia, além da reabertura da economia.

No entanto, alguns participantes do encontro comentaram que a inflação elevada se expandiu para além dos setores mais diretamente afetados por esses fatores, impulsionada em parte pela forte demanda do consumidor, segundo a ata.

Além disso, vários dirigentes citaram outros desenvolvimentos com potencial para exercer pressão adicional sobre a inflação, incluindo o crescimento dos salários reais acima da produtividade e aumentos nos preços dos serviços de habitação, aponta o documento.

Os participantes do encontro geralmente esperam que a inflação se modere ao longo do ano, à medida que os desequilíbrios de oferta e demanda diminuam e que a acomodação da política monetária seja removida, de acordo com a ata.

Alguns dirigentes observaram que as medidas de longo prazo das expectativas de inflação pareciam permanecer bem ancoradas, o que apoiaria o retorno da inflação ao longo do tempo a níveis consistentes com as metas do Fed, diz a publicação.

No panorama, os dirigentes concordaram que a incerteza quanto à trajetória da inflação é elevada e que os riscos foram ponderados para cima. Entre os elementos, a política de tolerância zero da China para a covid-19, os riscos de turbulência geopolítica pesando nos preços de energia, uma persistência no crescimento do salário real superior ao crescimento da produtividade e a possibilidade de que as expectativas de inflação de longo prazo tornem-se desancoradas.

Reflexo na atividade

Os dirigentes do Fed temem que um grande ajuste em ativos pese na atividade adiante. Alguns dirigentes comentaram sobre o risco de que as condições financeiras possam apertar indevidamente em resposta a uma rápida remoção da acomodação política.

Esse risco, segundo o texto, poderia ser mitigado por meio da comunicação clara e eficaz sobre as perspectivas econômicas, os riscos em torno das perspectivas e o caminho adequado para a política monetária.

As compras líquidas de ativos, informa a ata, devem ser concluídas em breve. Segundo o texto, a maioria dos dirigentes preferiu continuar reduzindo as compras líquidas de ativos de acordo com o cronograma anunciado em dezembro, encerrando-as no início de março.

“A maioria dos participantes observou que, se a inflação não cair como eles esperam, seria apropriado que o Comitê removesse a acomodação de política em um ritmo mais rápido do que eles antecipam atualmente”, diz o texto.

Redução do balanço deve ocorrer após alta de juros

Para os dirigentes do Fed, a redução do balanço patrimonial da instituição deverá começar a ocorrer após o inicio do ciclo da alta de juros. De acordo com a ata, os participantes não tomaram ainda nenhuma decisão sobre o tema, o que deverá ocorrer nas próximas reuniões, mas “geralmente observaram que as atuais condições econômicas e financeiras provavelmente justificariam um ritmo mais rápido” do que na última redução do balanço, ocorrida entre 2017 e 2019.

Segundo o documento, os participantes do encontro observaram que, “à luz do atual alto nível do Fed em termos de títulos, uma redução significativa no tamanho do balanço provavelmente seria apropriada”.

Na reunião, os dirigentes julgaram que o momento e o ritmo da redução do balanço seria determinado de modo a promover as metas de máximo emprego e a estabilidade de preços.

“O Comitê está preparado para ajustar a qualquer momento os detalhes de sua abordagem para reduzir a dimensão do balanço à luz da evolução econômica e financeira”, de acordo com o documento.

Ao longo do tempo, o Fed “pretende manter títulos detidos nos montantes necessários para implementar a política monetária de forma eficiente e efetivamente em seu amplo regime de reservas”, diz ainda a publicação. (AE)

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