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Avanço do contágio traz risco de terceira onda

Média de casos cresce há 19 dias consecutivos e subiu 8% em duas semanas, indicando agravamento da crise sanitária no país

UTI lotada

UTIs em São Paulo estavam com taxa de 79% de ocupação, mas dados da Secretaria de Estado da Saúde indicam que o índice subiu para 80,5% | Foto: Getty Images

A média de diagnósticos de covid-19 por dia no Brasil está acima de 65 mil, com alta de 8% em 14 dias. O avanço em registros leva a risco maior de contaminação e de internação, ampliando a pressão sobre o sistema e a possibilidade de mais mortes e indicando o risco de uma terceira onda de casos e mortes.

Desde 5 de maio, por 19 dias consecutivos a média móvel de novos registros aumenta a cada 24 horas. Só nesta terça-feira, 25, houve mais 74,8 mil relatos positivos, equivalentes a 52 por minuto.

Para especialistas, só não há um reflexo maior no número de vítimas, por causa do perfil mais jovem da pandemia nos últimos meses. Segundo o Observatório Covid-19 da Fiocruz, pela primeira vez desde o início dos casos de covid-19, a média de idade nas internações está abaixo dos 60 anos.

Internação de mais jovens pressiona sistema

Com isso, exceto nos Estados do Nordeste, a taxa de mortalidade pela doença caiu. Os mais jovens tendem a morrer menos, só que pressionam o sistema por ficar mais tempo internados. “Talvez não seja como já vimos, com mais de 3 mil mortos por dia, porque o jovem adoece menos, mas também adoece”, afirma o médico Alexandre Naime Barbosa, chefe do setor de infectologia da Unesp de Botucatu(SP) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Além dos registros diretos de covid, há os de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Segundo a Fiocruz, oito Estados apresentam sinais de crescimento de casos. As síndromes respiratórias são, neste momento, na grande maioria, causadas por infecções pelo SARS-CoV-2.

O recrudescimento do número de internações ocorre em um momento de elevadas taxas de ocupação de leitos de UTI para adultos com covid-19. O Nordeste e o Centro-Sul apresentaram piora nos últimos dias. Sete Estados têm taxas de ocupação iguais ou superiores a 90%: Piauí (91%), Ceará (94%), Rio Grande do Norte (96%), Pernambuco (97%), Sergipe (93%), Paraná (95%) e Santa Catarina (95%).

No Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal tiveram as maiores altas. Ao lado de Mato Grosso, estão em estado crítico, mas inferiores a 90%.

Ocupação de UTIs em São Paulo volta a superar 80%

No Sul do País, a mesma tendência é observada, com Paraná e Santa Catarina entre os piores Estados. O Rio Grande do Sul permanece na zona de alerta intermediário. No Sudeste, Rio e Minas têm a mesma classificação, com piores índices.

São Paulo estavam em estágio intermediário na ocupação de leitos de UTI, com taxa de 79%. Dados da Secretaria de Estado da Saúde, desta terça-feira, porém, colocam esse índice em 80,5%, o que repõe os paulistas no mesmo patamar das piores unidades da federação.

Na capital paulista, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, seis hospitais da administração pública ou com leitos contratados estão com 100% de seus leitos ocupados.

Na rede particular a situação também já preocupa. O Hospital Israelita Albert Einstein se prepara para a abertura de 60 novos leitos na primeira quinzena do próximo mês como medida preventiva. Há duas semanas, o hospital tinha 114 pacientes em leitos de covid. Nesta terça, eram 168, alta de 47%. Já a taxa de ocupação geral, que inclui pacientes sem covid, estava em 103%. No Sírio Libanês, o aumento anteontem, na comparação com o dia 17, foi de 23%, saltando de 141 casos para 174 em uma semana.

Infecção e futuro

No Estado de São Paulo, a pior região em relação à taxa média de transmissão da doença está em São João da Boa Vista, com 1,63. Ou seja, cada cem pessoas contaminadas transmitem o vírus para outras 163. Franca, Grande São Paulo, Araçatuba e São José do Rio Preto completam as cinco regiões com as mais altas taxas de transmissão. Em todo o Estado, a média é de 1,3.

Para Barbosa, a terceira onda da doença vai chegar e sua força está condicionada à forma como a flexibilização das atividades econômicas e o respeito ao isolamento social vai se dar. “Em algumas cidades de São Paulo, como Ribeirão Preto, esse efeito já está sendo sentido (a cidade fechou o comércio, por estar com 96% de ocupação de leitos de UTI)”, diz. (AE)

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