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Copom mantém a taxa básica de juros em 13,75% e adverte para risco fiscal

Em recado para o governo que assume em janeiro, o comitê de política monetária adverte que acompanhará com especial atenção a política fiscal e, em particular, seus efeitos na inflação

Prédio do BC

Banco Central decide manter o ciclo de aperto monetário com o cenário de incertezas no país | Foto: Getty Images

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, pela terceira vez consecutiva. Na justificativa, o comitê afirma que “o ambiente externo mantém-se adverso e volátil, marcado pela perspectiva de crescimento global abaixo do potencial no próximo ano, alta volatilidade nos ativos financeiros e um ambiente inflacionário ainda pressionado”.

O mercado financeiro já esperava esta decisão do Copom, que manteve o ciclo de aperto monetário mais longo da história. Esta foi a primeira reunião do comitê após as eleições. No comunicado sobre a decisão, o comitê cita os riscos da transição para a economia:  “O Comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”. Em um recado direto ao governo que assume em janeiro, o comitê enfatiza a necessidade de controle fiscal: “O Comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”.

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Na análise da conjuntura, o Copom cita fatores de risco e adverte que poderá voltar a elevar os juros caso a inflação volte a subir. “O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

Para Ricardo Jorge, da Quantzed, o BC vai atuar conforme perceber que a PEC da Transição possa ter algum tipo de impacto na inflação. Segundo, a autoridade vai esperar a aprovação da medida pelo Congresso para ter uma ideia do tamanho do gasto extra acima do teto permitido para o novo governo do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva.

“Depois disso, o Banco Central tende a acompanhar ainda mais de perto os indicadores de inflação. Então, no primeiro sinal de repasse dos custos para a sociedade e reflexos nos preços, com certeza o Copom poderá atuar e começar uma nova elevação da taxa Selic”, disse Jorge.

Para Ana Paula Carvalho, da AVG Capital, o Banco Central tem adotado uma política monetária contracionista justamente com intuito de conter a inflação, e isso tem surtido efeito, garantindo maior disponibilidade de renda das famílias e alguma recuperação do mercado de trabalho.

“Um dos fatores que podem pressionar a inflação é uma política fiscal expansionista, que colocaria de lado uma rigidez maior nos gastos do governo e consequentemente, pressionaria os níveis dos preços atuais”, disse Carvalho.

A inflação no ano que vem deve estar na ordem do dia do Copom. Idean Alves, sócio da Ação Brasil, disse que no Brasil, a menor pressão dos combustíveis contribui positivamente este ano.

“Em contrapartida, o fiscal fragilizado, risco Brasil em alta, preocupação do aumento de impostos, desemprego e repasse de “tudo isso” pelas empresas via preço, devem começar a pressionar a inflação em 2023 novamente”, ressaltou.

Íntegra do comunicado do Copom

Em sua 251ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 13,75% a.a.

A atualização do cenário do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

  • O ambiente externo mantém-se adverso e volátil, marcado pela perspectiva de crescimento global abaixo do potencial no próximo ano, alta volatilidade nos ativos financeiros e um ambiente inflacionário ainda pressionado. A política monetária nos países avançados em direção a taxas restritivas e a maior sensibilidade dos mercados a fundamentos fiscais requerem maior cuidado por parte de países emergentes;
  • Em relação à atividade econômica brasileira, a divulgação do PIB apontou ritmo de crescimento mais moderado no terceiro trimestre. O conjunto dos indicadores mais recentes corrobora o cenário de desaceleração esperado pelo Copom;
  • Apesar da queda recente, especialmente em itens voláteis e afetados por medidas tributárias, a inflação ao consumidor continua elevada;
  • As diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
  • As expectativas de inflação para 2022, 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 5,9%, 5,1% e 3,5%, respectivamente; e
  • No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 5,25*, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2022 e “amarela” em dezembro de 2023 e de 2024. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 6,0% para 2022, 5,0% para 2023 e 3,0% para 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de -3,6% para 2022, 9,1% para 2023 e 4,2% para 2024. O Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, que reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora os seus impactos secundários. Nesse horizonte, referente ao segundo trimestre de 2024, a projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,3%. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.
  • O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) a elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos; e (iii) um hiato do produto mais estreito que o utilizado atualmente pelo Comitê em seu cenário de referência, em particular no mercado de trabalho. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local; (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (iii) a manutenção dos cortes de impostos projetados para serem revertidos em 2023. A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal, requer serenidade na avaliação dos riscos. O Comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.”

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