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Descoberta a causa dos casos de coágulos após aplicação da AstraZeneca

Distúrbio raro verificado em pacientes que receberam o imunizante levaram à restrição da aplicação da vacina em muitos países

Gestante recebe vacina contra covid

Por causa das intercorrências, grávidas e mães recentes vacinadas com a AstraZeneca tiveram de completar a vacinação com outro imunizante | Foto: Getty Images

Cientistas da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, descobriram o que desencadeou problemas com coágulos registrados em pacientes que receberam a vacina da AstraZeneca.

Foram casos pontuais em alguns países. No Brasil, a morte de uma gestante em maio, no Rio de Janeiro, alguns dias depois de receber a AstraZeneca, produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi associada ao fenômeno investigado pelos pesquisadores.

A ocorrência levou a mudanças no calendário de vacinação de grávidas, mães recentes e grupos com predisposição a intercorrências vasculares.

O adenovírus, elemento presente na vacina da Oxford, teria, de acordo com o estudo publicado na revista Science Advances, carga elétrica negativa em uma proporção capaz de atrair a proteína do chamado fator plaquetário 4, presente no sangue, que, por sua vez, apresenta polarização positiva.

Esse “deslocamento”, afirmam agora os estudiosos, causaria o problema de coágulos que pode ter afetado o organismo de quem recebeu a vacina e apresentou quadro de trombose.

“O adenovírus tem uma superfície extremamente negativa, e o fator plaquetário 4 (anticorpo ligado às plaquetas sanguíneas) é extremamente positivo, criando atração entre eles”, disse o professor Alan Parker, um dos pesquisadores da Universidade de Cardiff, à BBC News. Entre as vacinas disponíveis no Brasil, apenas a AstraZeneca faz uso do adenovírus.

A descoberta identificou o gatilho da trombose fatal, mas não todas as causas

“Conseguimos provar a forma de ligação entre o adenovírus e o fator plaquetário 4. O que temos é o gatilho, mas há uma série de etapas que precisam acontecer a seguir [para que ocorra um problema vascular letal].”, disse o pesquisador.

O estudo afirma que o corpo humano, após o contato com o adenovírus, começa a atacar o fator plaquetário 4. Assim, os anticorpos são liberados no sangue, que se agregam ao fator plaquetário 4, formando os coágulos sanguíneos. Para chegar a essa situação, porém, é preciso uma série de outros eventos que ainda não foram identificados pela ciência.

A ocorrência de coágulos do tipo foram detectados em raíssimos casos, desde o início da aplicação do imunizante. Foram registradas 73 mortes em quase 50 milhões de doses de AstraZeneca administradas no Reino Unido.

Esses coágulos receberam o nome de trombocitopenia trombótica imune induzida por vacina.

“Não teria sido possível prever essa possibilidade. No mais, as chances são muito pequenas, então precisamos nos lembrar do quadro geral do número de vidas que esta vacina salvou”, disse Parker. A AstraZeneca calcula que sua vacina tenha salvado cerca de um milhão de vidas durante a pandemia de covid-19, até agora.

Embora raros, coágulos levaram a suspensão da vacina para alguns grupos também no Brasil

Desde a chegada da AstraZeneca no país até o dia 10 de maio, mais de 15 mil grávidas receberam a vacina hoje produzida pela Fiocruz. Desse grupo de vacinadas – cujos números ainda não foram atualizados -, só existe a confirmação da morte de uma gestante e seu bebê.

A recomendação agora para as grávidas que receberam a primeira dose da AstraZeneca é aguardarem, se possível em isolamento, o fim do período de 45 dias depois do parto para tomarem a segunda dose da Pfizer.

Grávidas sem doenças pré-existentes, podem continuar recebendo as outras opções de imunizantes, Coronavac e a própria Pfizer, seguindo o calendário e intervalos vigentes, com concordância entre médico e paciente. O Ministério da Saúde só recomenda a vacinação às gestantes com doenças crônicas e comorbidades com Coronavac e Pfizer.

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