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Em seis meses, guerra leva Europa a enfrentar dramas de economias emergentes

Inflação e juros em alta e desvalorização da moeda levam países da Europa voltar a ter problemas que já faziam parte do passado

Seis meses da guerra

Bloqueio em portos da Ucrânia pressiona inflação e complica a economia europeia, que deve permanecer por mais tempo em desaceleração | Foto: Getty Images

Após seis meses da invasão da Rússia na Ucrânia a perspectiva econômica no mundo mudou bastante. Se no início do ano a expectativa era de recuperação após dois anos de medidas de reclusão com lockdowns por causa da pandemia, agora, com a longa duração da guerra no leste da Europa, a estimativa é de recessão e de alta inflacionária ao redor do mundo.

Com a guerra veio a crise energética e de alimentos, principalmente na Europa, região muito dependente do petróleo e gás russos. Isso fez com que a União Europeia entrasse em um ciclo inflacionário nunca visto em 40 anos. Em julho, os preços acumularam alta de 8,9% em 12 meses. Trata-se da maior taxa desde que o euro, moeda única do bloco, foi criado em 1999.

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O núcleo da inflação, que exclui produtos mais voláteis como energia e alimentos, avançou 5,1% em julho em relação ao ano anterior. A energia mais cara foi responsável por 4,02 ponto percentual, enquanto alimentos, bebidas e tabaco responderam por 2,08 pontos percentuais do índice.

“A Europa se aproxima cada vez mais de uma condição parecida com a dos países emergentes, com inflação alta e constantes greves em setores fundamentais da economia, como o de transporte”, disse Piter Carvalho, da Valor Investimentos. “Além disso, o euro perdeu a paridade com o dólar depois de 20 anos, o que mostra uma economia cada vez mais fraca.”

Nesta semana, a moeda do bloco caiu abaixo do limite de paridade com o dólar pela primeira vez em 20 anos. No dia 22, o euro perdeu 0,96% e teve valor abaixo de US$ 1, a US$ 0,9941. Esta é a menor cotação desde 2002, quando a moeda europeia foi implantada.

Carvalho ressalta que esta dinâmica na economia europeia deve permanecer por mais tempo, pois o fim do conflito e a reintegração da Rússia ao mundo ocidental ainda está longe de acontecer. “Não há expectativa de um acordo de paz, com o retorno da Rússia para a economia mundial, somente isso poderia mudar o panorama econômico da Europa e do mundo.”

Com isso, a expectativa, segundo ele, é que a inflação no bloco este ano fique ao redor 10%, muito puxada pela Alemanha e Itália, totalmente dependentes do gás russo. Estes países, aliás, tentam mudar a matriz energética, diminuindo a necessidade que têm da Rússia, para tentar passar com mais tranquilidade pelo inverno europeu, pois não há perspectiva do fim do conflito.

No final de julho, a Comissão Europeia propôs que os 27 países membros reduzissem o consumo de gás russo em até 15% entre os meses de agosto e março de 2023. A meta seria voluntária, mas a Comissão poderia torná-la obrigatória em caso de emergência de abastecimento de gás. A Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo depois da Arábia Saudita e o principal fornecedor de gás para a Europa.

Guerra no leste da Europa atrapalha transição energética

“É uma década diferente da passada, com inflação mais longa e persistente e as grandes economias se esforçando para levar os preços a níveis aceitáveis”, ressaltou Carvalho. “A energia vai ser o tema, seja pela falta dela ou pela discussão de como vai ser difícil para fazer a transição energética, de suja para limpa. O mundo, que caminhava para mais limpo agora vê pela frente recessão econômica e a volta ao uso de combustíveis fósseis com mais intensidade.”

A situação ‘caótica’ na Europa contamina os mercados mundiais que também enfrentam alta na inflação e desaceleração da economia. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) iniciou em março um ciclo de alta dos juros para conter os preços, a taxa passou de zero para 2,5% ao ano e, alguns analistas já estimam que os juros anuais na maior economia do mundo podem chegar a 4%.

Se existe algo positivo nesta guerra, pode ser a volta da América Latina como porto seguro para os investidores. “Um exemplo foi a forte entrada de investimento estrangeiro no Brasil até meados de agosto, cerca de R$ 70 bilhões. O País acaba entrando na rota nesta rota assim como outros emergentes”, disse Carvalho.

Para o economista Denis Medina, a região não tem histórico de conflitos armados e pode atrair recursos que seriam destinados aos países do Leste Europeu, por exemplo.

“Estamos no início da cadeia de suprimentos, pois, exportamos os insumos e importamos os produtos acabados. Pode ser uma oportunidade para aumentar o valor agregado nas exportações”, disse Medina.

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