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Ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega analisa o cenário para a economia

Sócio da Tendências Consultoria Integrada faz uma análise sobre o ano da economia brasileira e projeções para 2022. Assista

Maílson da Nóbrega foi ministro da Fazenda entre janeiro de 1988 e março de 1990. Veja a entrevista conduzida por Sonia Racy

O ex-ministro Maílson da Nóbrega destacou os desafios que o Brasil tem pela frente a partir de 2022, em entrevista da série Cenários promovida pelo Banco Safra em parceria com o Estadão.

O primeiro grande desafio, segundo Maílson, é a alternância de poder em 2022, com a derrota do presidente Bolsonaro nas eleições do ano que vem.

Ele defende que o país precisa garantir a substituição de Bolsonaro “por um presidente que inspire confiança e saiba conduzir-se na presidência e reestabeleça o prestígio que o Brasil já alcançou nos mercados internacionais em variados campos, não apenas no meio ambiente, mas também na condução responsável das políticas públicas”.

O segundo desafio, destaca o ex-ministro da Fazenda, é sair da armadilha do baixo crescimento, ou armadilha da renda média, conforme explicou na entrevista conduzida pela jornalista Sonia Racy.

A renda per capita está estagnada nos últimos quarenta anos e a causa principal é a estagnação da produtividade, disse Maílson.

“O início da derrocada foi nos anos 80, após o maior crescimento de todos os tempos desde os anos 50 até o milagre econômico brasileiro nos anos 70. A média depois é de crescimento anual de 0,6%, um sétimo da média anterior”.

Maílson da Nóbrega lista motivos da estagnação da economia brasileira

A causa estagnação foi a queda da eficiência da economia brasileira, destacou Maílson. Segundo ele, a queda da eficiência teve fatores externos, como as duas crise do petróleo (73 e 79), e o esgotamento do processo de substituição das importações.

Outra causa foi a piora do sistema fiscal. “O método de tributação do consumo era o mais moderno do mundo quando foi adotado, mas foi deteriorado pela introdução de novas formas de tributação nos anos 70 e 80”, explicou.

A constituição de 88, segundo ele, foi uma espécie de pá de cal, ao conceder poder de triutação aos Estados sobre o ICMS. “Em todos os países, as regras precisam ser harmônicas e padronizadas em todo o território. No Brasil virou uma bagunça, e o principal fator que prejudica a competitividade da economia hoje é o ICMS”.

Maílson lamenta que o governo tenha perdido a grande oportunidade de fazer uma Reforma Tributária quando tinha apoio do Centro de Cidadania Fiscal. Os próprios estados se convenceram de que o sistema hoje é inviável, segundo o ex-ministro..

“A proposta de Reforma Tributária tinha o apoio dos estados e era a melhor proposta até agora, mas o governo optou pelo que não era prioritário, com um projeto péssimo de reforma apenas do Imposto de Renda, que foi piorado no Congresso”

Maílson critica o presidente Bolsonaro pela má condução do processo e pela “capacidade inesgotável de dizer bobagens todos os dias”.

Maílson disse que o mercado financeiro iludiu-se com o ministro Paulo Guedes. “Acharam que um ministro ultra-liberal resolveria tudo, mas o importante é o presidente, que precisa ter capacidade de dicernimento e de coordenação”.

“A reeleição de Bolsonaro significa sair do desastre para uma catástrofe, e o ministro Paulo Guedes virou um cabo eleitoral do presidente, depois de jogar para o alto suas crenças para patrocinar o calote dos precatórios”.

“O ministro Paulo Guedes fracassou, porque prometeu o que não podia fazer, e fez propostas típicas de quem não conhece o sistema político”.

Maílson comentou sobre o grande impacto causado pela pandemia na área de educação e na geração de riquezas, e disse que os efeitos da crise vão continuar por alguns anos.

Sobre a sucessão presidencial, ele disse que o cenário da consultoria Tendências é de Lula e Bolsonaro no segundo turno, com vitória de Lula. “A terceira via só será possível se houver alguém para enfrentar Lula no segundo turno, o que é muito difícil”.

O desastre que foi o segundo governo Dilma, com a nova matriz macroeconômica, virá à tona, mas o Lula tem uma grande capacidade de comunicação e um grande apoio na população de baixa renda, especialmente no Nordeste. Ele sabe se comunicar com o povo. Ele é pragmático e tem experiência de poder, e é sem dúvida melhor do que Bolsonaro”.

Todas as entrevistas da série Cenários podem ser assistidas por este link.

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