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Agência Fitch rebaixa classificação de crédito dos Estados Unidos

Agência de classificação de crédito cita o agravamento das divisões políticas em torno dos gastos e da política tributária ao rebaixar nota dos EUA

Fitch EUA

Na visão da Fitch, houve uma deterioração constante nos padrões de governança nos EUA nos últimos 20 anos, inclusive em questões fiscais e de dívida | Foto: Getty Images

A agência de risco Fitch rebaixou ontem a classificação de crédito do governo dos Estados Unidos, citando o aumento da dívida federal, estadual e dos municípios e uma “deterioração constante nos padrões de governança” nas últimas duas décadas. A classificação foi reduzida em um nível, de AAA (a mais alta possível) para AA+. A nova classificação ainda está em grau de investimento.

Conforme especialistas, a decisão mostra como a crescente polarização política e os repetidos impasses de Washington sobre gastos e impostos podem acabar custando caro aos contribuintes americanos. A classificação de crédito do governo havia sido rebaixada pela última vez, pela agência Standard & Poor’s, em 2011, após impasse sobre o teto da dívida semelhante ao que ocorreu neste ano.

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As classificações de crédito reduzidas ao longo do tempo podem aumentar os custos de empréstimos para o governo dos EUA. O Government Accountability Office, em um relatório de 2012, estimou que o impasse orçamentário de 2011 elevou os custos de empréstimos do Tesouro em US$ 1,3 bilhão (por volta de R$ 6,3 bilhões) naquele ano.

Na ocasião, porém, o tamanho da economia dos EUA e a estabilidade histórica do governo americano mantiveram seus custos de empréstimos baixos, mesmo após o rebaixamento da Standard & Poor’s.

A Fitch citou o agravamento das divisões políticas em torno dos gastos e da política tributária como um dos principais motivos de sua decisão. A agência disse que a governança dos EUA diminuiu em relação a de outros países que também têm classificação alta, e observou “impasses repetidos de limite de dívida e resoluções de última hora”.

“Na visão da Fitch, houve uma deterioração constante nos padrões de governança nos últimos 20 anos, inclusive em questões fiscais e de dívida”, disse o comunicado da agência de crédito. “Os repetidos impasses políticos sobre o limite da dívida e as resoluções de última hora corroeram a confiança na gestão fiscal.”

Agência Fitch vê recessão leve nos Estados Unidos

Outro fator que pesou na decisão da Fitch foi a projeção de que a economia dos EUA entre em uma “recessão leve” nos últimos três meses deste ano e no início de 2024. Economistas do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) fizeram uma previsão semelhante em junho, mas a reverteram no mês passado e passaram a dizer que o crescimento diminuiria, mas uma recessão provavelmente seria evitada.

“Discordo veementemente da decisão da Fitch Ratings”, disse a secretária do Tesouro, Janet Yellen. “A mudança anunciada hoje (ontem) é arbitrária e baseada em dados desatualizados.”

Janet observou que a economia dos EUA se recuperou rapidamente da recessão causada pela pandêmica, com a taxa de desemprego perto de uma baixa de meio século e a economia se expandindo a uma taxa anual de 2,4% no trimestre de abril a junho. Um acordo para resolver um impasse sobre o limite de endividamento do governo em junho incluiu “mais de US$ 1 trilhão em redução do déficit e melhorou nossa trajetória fiscal”, disse a secretária do Tesouro.

“A decisão da Fitch não muda o que os americanos, investidores e pessoas de todo o mundo já sabem: que os títulos do Tesouro continuam sendo o ativo líquido e seguro mais proeminente do mundo, e que a economia americana é fundamentalmente forte”, disse Janet.

Marc Goldwein, vice-presidente sênior do Comitê Apartidário para um Orçamento Federal Responsável, disse que é improvável que o rebaixamento leve a um aumento acentuado nos custos dos empréstimos. No entanto, se houver mais rebaixamentos, disse ele, isso poderá comprometer a saúde fiscal do governo federal.

“O rebaixamento de hoje (ontem) deve ser um grande sinal de alerta para os EUA”, disse. “Somos uma economia forte e um bom lugar para investir, mas isso pode não ser mais o caso se continuarmos no caminho atual.” (AE)

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