close

Bolsa brasileira volta a fechar no negativo e dólar encosta nos R$ 5

Ibovespa inicia mais uma semana em queda após novo corte nos juros na China, onde o Banco Central tenta conter desaceleração da economia

Ibovespa

Investidores adotam cautela diantes dos sinais de desaceleração da China | Foto: Getty Images

O Ibovespa ficou perto de ceder a linha dos 114 mil pontos na mínima desta segunda-feira, 21, após ter interrompido na sexta-feira série histórica de 13 perdas consecutivas, a mais longa desde 1968. Nesta segunda-feira, a referência da B3 oscilou dos 114.066,51 – ainda na mínima intradia desde 6 de junho (112.695,60) – aos 115.424,65 pontos, saindo de abertura aos 115.403,81.

Ao fim, o índice caiu 0,85%, aos 114.429,35 pontos, agora o menor nível de encerramento desde 5 de junho (112.696,32), com giro financeiro fraco, a R$ 19,5 bilhões, na sessão. No mês, o Ibovespa acumula perda de 6,16%, limitando o ganho do ano a 4,28%.

Saiba mais

“A queda por si só já é ruim, mas com tantas perdas acumuladas, começa a acender luz de alerta, com possibilidade de revisões para o cenário, no sentido de baixa. A China cortou mais uma vez os juros, o segundo em dois meses para a taxa de um ano, mas os analistas esperavam redução um pouco maior, em meio às preocupações quanto ao risco de contágio, na economia, dos problemas do setor imobiliário do país, a partir de grandes empresas do segmento, como a Evergrande”, diz Fernanda Bandeira, sócia e especialista da Blue3 Investimentos, mencionando a correlação de ações de peso na B3, como Vale (ON -0,03%, a R$ 61,20), à demanda por commodities na China.

“O Banco Popular da China cortou sua taxa principal de um ano, referência para empréstimos domésticos e corporativos, em 10 pontos-base, de 3,55% para 3,45%, abaixo dos 15 pontos-base que se esperava como corte”, aponta em nota a Monte Bravo Investimentos, acrescentando que, ainda assim, parte dos mercados globais ensaiou uma recuperação nesta segunda-feira, apesar do nível, ainda alto, nos rendimentos dos Treasuries – títulos públicos americanos, referência de segurança para os investidores em momentos como o atual, de aversão a risco.

Simpósio de Jackson Hole desperta interesse do mercado

Outro destaque da semana, que contribui para manter a cautela vista nesta segunda-feira, é a expectativa pelo simpósio de Jackson Hole, evento anual organizado pelo Federal Reserve de Kansas City, sempre acompanhado com interesse pelo mercado em razão das pistas que costumam emergir, no evento, quanto à orientação da política monetária não apenas dos Estados Unidos, mas também de outras grandes economias globais. O presidente do Fed, Jerome Powell, falará na sexta-feira no evento de Jackson Hole, que começa na quinta.

Na agenda doméstica, destaque para o IPCA-15, na sexta-feira, e para a possibilidade de nova votação do arcabouço fiscal na Câmara após a passagem da matéria, com algumas modificações, pelo Senado. A votação pelos deputados pode ocorrer ainda nesta semana, mesmo com a ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em viagem à África do Sul para reunião de cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Na manhã desta segunda-feira, destaque para o Boletim Focus que trouxe projeção um pouco maior para o IPCA deste ano, a 4,90%, comparada a 4,84% no boletim da semana anterior, e o câmbio projetado passando, no mesmo intervalo, de R$ 4,93 para R$ 4,95 com manutenção do PIB e da Selic, sem variações, no fechamento do ano, observa Roseane Duarte, analista da Toro Investimentos.

Como pano de fundo, na semana passada terminou o período de divulgação dos resultados do segundo trimestre das empresas no Brasil. “Em resumo, os resultados vieram muito machucados pelo impacto das altas taxas de juros, tanto diretamente, com o incremento das despesas financeiras das empresas, como na própria parte operacional, com a dificuldade de fazer com que o faturamento cresça”, diz Eduardo Cavalheiro, fundador e gestor da Rio Verde Investimentos.

Mesmo com a pequena redução da Selic, de 13,75% para 13,25% ao ano decidida no início de agosto, “o mercado de crédito segue restrito, com muitas empresas ainda encontrando dificuldade para rolar seus financiamentos, em ambiente também difícil para os bancos, o que ainda amarra a economia”, acrescenta o gestor, prevendo melhora nos resultados das empresas apenas no médio prazo, à medida que os efeitos da redução da Selic se transmitam à atividade econômica.

Destaques do Ibovespa

Nesse contexto, as ações de maior peso e liquidez na B3 voltaram a se alinhar em direção única, negativa. Entre os grandes bancos, as perdas da sessão variaram entre 0,36% (BB ON) e 0,72% (Bradesco PN). Petrobras ON e PN, por sua vez, caíram nesta segunda 0,99% e 0,70%. Na ponta perdedora do Ibovespa, destaque para IRB (-9,24%), Carrefour Brasil (-4,14%) e Yduqs (-3,86%), com Petz (+2,45%), Magazine Luiza (+1,67%) e Cemig (também +1,67%) no canto oposto.

Dólar volta a subir e encosta nos R$5

Após três sessões consecutivas de leve queda, o dólar à vista encerrou o pregão desta segunda-feira, 21, em alta moderada no mercado doméstico de câmbio, respeitando novamente a barreira psicológica de R$ 5,00. Com agenda esvaziada e liquidez reduzida, investidores recompuseram parcialmente posições defensivas diante de dúvidas sobre o crescimento chinês, com corte de juros aquém do esperado pelo Banco do Povo da China (PBoC), nova rodada de avanço das taxas dos Treasuries e desconforto com a votação da agenda econômica no Congresso.

Afora uma queda nos primeiros negócios, quando registrou mínima a R$ 4,9584, o dólar operou com sinal positivo ao longo do restante da sessão. Com máxima a R$ 4,9965, a moeda fechou cotada a R$ 4,9787, em alta de 0,22%, acumulando valorização de 5,27% em agosto.

Bolsas de NY

As bolsas de Nova York fecharam mistas nesta segunda-feira, 21, em viés de alta, com os papéis de tecnologia impulsionando os índices Nasdaq e S&P 500. Investidores tentaram recompor as fortes perdas da semana passada, antes do Simpósio de Jackson Hole, mas Johnson & Johnson (J&J) e Nike ajudaram a impedir ganhos ao Dow Jones.

O índice Dow Jones fechou com queda de 0,11%, aos 34.464,41 pontos; o S&P 500 ganhou 0,69% aos 4.399,90 pontos; e o Nasdaq avançou 1,56%, aos 13.497,59 pontos.

A gigante de semicondutores Nvidia saltou 8,47%, na expectativa para a publicação do seu balanço trimestral nesta quarta-feira, 23, e puxou outras fabricantes de chips que, em sua maioria, terminaram o dia no azul.

Broadcom e Applied Materials ganharam mais de 4%. “Essa é uma grande semana para ações de tecnologia e o otimismo está crescendo de que a Nvidia apresentará alguns bons resultados”, comentou o analista da Oanda Edward Moya. “A chave para os papéis de tech será se a Nvidia pode mostrar que está prestes a ganhar muito dinheiro com IA.”

Já Moderna avançou 9,31% após firmar parceria com a biofarmacêutica chinesa Carsgen para o desenvolvimento de um possível tratamento contra o câncer a partir do uso de vacinas.

A Tesla ganhou 7,33%, corrigindo as perdas que registrou ao anunciar cortes de preços em alguns de seus veículos. A Palo Alto Networks disparou 14,84%, encabeçou a alta do Nasdaq, na esteira da divulgação do balanço trimestral na sexta-feira passada, 18.

Por outro lado, pesando sobre o Dow Jones, a Johnson & Johnson cedeu 2,98% depois de anunciar que vai manter uma participação de cerca de 9,5% em sua recém-separada unidade de saúde do consumidor, Kenvue.

A Nike (-1,86%) completou sua oitava sessão consecutiva em queda, sequência que não batia desde 4 de dezembro de 1998, de acordo com a Dow Jones. Nas redes sociais, os traders atribuem a desvalorização à exposição da fabricante de tênis à China, que desacelera economicamente.

Goldman Sachs caiu 0,88% no dia em que a Bloomberg noticiou que o banco planeja vender um negócio de gestão financeira pessoal, que administra cerca de US$ 29 bilhões em ativos. A AMC Entertainment Holdings despencou 23%, às vésperas da conversão de suas units preferenciais (APE) em ações comuns, na sexta-feira, 25. (AE)

Abra sua conta no Banco Safra.

Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra