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Risco fiscal derruba Bolsa e leva dólar ao maior valor desde outubro

Piora na percepção de risco local diante dos investimentos públicos para estimular a indústria fez a Bolsa fechar em queda de 0,81%; dólar subiu a R$ 4,98

Dólar

Dólar sobe 1,24% a R$ 4,98 maior nível desde 31 de outubro | Foto: Getty Images

O Ibovespa iniciou a semana em queda, em linha com os demais mercados locais e descolado das bolsas americanas, conforme investidores aprofundam uma dinâmica de correção após ganhos robustos no fim do ano passado e adicionam prêmios de risco aos ativos domésticos com temores fiscais no radar. A sessão da Bolsa nesta segunda-feira teve liquidez reduzida.

No fim do dia, o índice recuou 0,81%, aos 126.602 pontos. Nas mínimas intradiárias, tocou os 125.876 pontos, e, nas máximas, os 127.843 pontos.

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O volume financeiro negociado na sessão (até as 18h15) foi de R$ 14,01 bilhões no Ibovespa e R$ 18,47 bilhões na B3.

Em Nova York, o S&P 500 subiu 0,22%, aos 4.850 pontos, o Dow Jones fechou em alta de 0,36%, aos 38.001 pontos e o Nasdaq avançou 0,32%, aos 15.360 pontos.

Dólar sobe a R$ 4,98, maior valor desde 31 de outubro

O câmbio doméstico deu prosseguimento à desvalorização observada na semana passada e encerrou o pregão desta segunda-feira (22) com o dólar em forte alta, de 1,24%, negociado a R$ 4,9878, maior nível desde 31 de outubro.

A depreciação do real não foi isolada e outras moedas de mercados emergentes também sofreram. No entanto, a piora na percepção de risco local pesou e levou os agentes a exigirem prêmios adicionais no câmbio, em um momento de posicionamento técnico negativo do real.

Com os agentes ainda à espera de pistas sobre o rumo da política monetária nos Estados Unidos, o mercado doméstico de câmbio sofreu uma correção técnica relevante neste início de semana. O novo programa industrial, apresentado hoje pelo governo federal, fez os agentes exigirem prêmios adicionais pelos ativos brasileiros e o real foi o mais penalizado. Embora o plano seja uma reunião de medidas já existentes, a sensação entre os agentes de que o governo pode utilizar medidas fiscais e parafiscais para estimular adicionalmente a economia deteriorou a percepção de risco durante o dia.

Temor fiscal volta a abalar o dólar e a Bolsa

Na máxima do dia, o dólar chegou a R$ 4,9924. “O que possivelmente está contaminando o mercado é o novo debate econômico e a possibilidade de implementação de velhas políticas, que não funcionaram bem no passado”, nota o profissional da tesouraria de um banco local. Para ele, o mercado ignorava até agora as discussões fiscais, “mas, em breve, elas voltarão ao radar dos investidores, principalmente dada a importância das eleições municipais como indicador antecedente e termômetro da política”.

O retorno dos riscos fiscais à pauta dos agentes ocorre no momento em que a taxa da T-note de dez anos segue em 4% e em que os investidores estrangeiros têm reduzido a exposição aos ativos locais, o que contribuiu para um movimento de “stop-loss” no real no início da tarde. Nesse contexto, um gestor observa, em condição de anonimato, que, durante a tarde, corretoras estrangeiras estavam na compra de dólar. “Então nossa suspeita é de que há alguma redução de posição comprada em real por parte dos estrangeiros, seja contra o dólar, seja contra outros pares, que estão melhores que o real hoje.”

Correção após euforia

Desde o início do ano, o mercado doméstico de câmbio tem sofrido uma correção técnica após a euforia vista no fim do ano passado. De acordo com a B3, a posição comprada em dólar do estrangeiro via derivativos (dólar futuro, swap cambial, cupom cambial e dólar mini) aumentou US$ 3,85 bilhões somente na semana passada e chegou a US$ 65,31 bilhões, próximo das máximas históricas.

“Temos visto investidores offshore reduzirem a exposição ao Brasil – não uma redução dramática, mas possivelmente uma bandeira amarela, dada o tamanho das posições dos investidores locais”, diz o profissional da tesouraria. Além do mercado de câmbio, vale observar que o investidor estrangeiro já sacou R$ 951,1 milhões em recursos do segmento secundário de ações da B3 neste ano até o dia 18 de janeiro.

“Os locais aumentaram maciçamente [a exposição] em dezembro, e continuaram em janeiro, embora em tamanhos menores, contra uma pequena redução líquida da exposição pelos estrangeiros. Não é uma boa imagem, especialmente devido ao fraco desempenho [dos mercados] observado em janeiro”, afirma.

A piora na sensação de risco nos ativos domésticos afeta o câmbio no mesmo momento em que o otimismo com o desempenho do real aumentou, especialmente entre os investidores locais. Vale notar que o Boletim Focus trouxe, novamente, uma melhora na expectativa para o câmbio no fim do ano, com uma ligeira redução da mediana das estimativas dos economistas de mercado de R$ 4,95 para R$ 4,92 por dólar. (Valor Econômico)

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