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‘Imagine’, maior sucesso de John Lennon, faz 50 anos

Disco foi investigado pelo FBI, homenageado por Fidel e motivou o ódio do assassino do ex-beatle, por cantar o mundo sem paraíso

Memorial dedicado a John Lennon, no Central Park, em Nova York | Foto: Getty Images

A cena musical ainda cogitava que John Lennon havia enlouquecido em sua love trip com Yoko Ono, quando, no dia 9 de setembro de 1971, ele lançou o que viria a ser um um dos discos mais ouvidos do mundo, “Imagine”.

Fazia um ano que Lennon havia deixado os Beatles e passado a viver o movimento pacifista norte-americano ao lado da artista plástica Yoko Ono. A música-tema estourou nas rádios, nas festas, passeatas e programas de televisão, se tornando um hino contra o envio de soldados à guerra do Vietnã. E não só nos Estados Unidos.

Segundo o jornal The Guardian, em Londres, o refrão que dizia “Eu espero que um dia você se junte a nós/E o mundo será um só”, podia ser ouvido de dentro de todas as casas. O sucesso causava um misto de deslumbre e despeito pelo cantor ter trocado, até em suas letras, a operária Liverpool pela América hippie.

Mesmo nas Américas, “Imagine” incomodava o governo com as falas pacifistas e as alas conservadoras cristãs com a frase inicial: “Imagine there’s no heaven” (“Imagine não haver paraíso). O mais curioso é que, de acordo com jornais da época, o incômodo da igreja começou a aparecer com pedidos da inclusão da música em casamentos, batizados e até funerais nos EUA.

‘Imagine’ foi considerado ao mesmo tempo socialista e americano demais

Fidel Castro, que proibia a veiculação das canções dos Beatles por “propagar valores capitalistas” entendeu que Lennon havia se convertido na personalidade de representação socialista. Ainda como chefe de estado, mandou erguer uma estátua pública do ex-beatle com os dizeres “Dirás que soy un soñador pero no soy el único”. 

“Imagine” é considerada a mais importante gravação solo de John Lennon, mas na verdade teve participações decisivas, como a do ex-colega de banda George Harrisson e da parceira e autora do poema que deu nome ao LP, Yoko Ono, que só recebeu os créditos por isso em 2017, quando as bolachas de vinil voltaram ao mercado como peças vintage de colecionador.

Quando se mudou definitivamente para Nova York, em agosto daquele mesmo ano (para nunca mais pisar no Reino Unido), o compositor trouxe embaixo do braço o disco praticamente pronto, realizado em seu estúdio particular em Londres. Não foi o primeiro pós-Beatles, mas foi a ruptura musical definitiva com tudo o que havia composto até então.

Primeira capa do disco “Imagine”, de 1971: álbum definitivo segundo o Hall of Fame

“Imagine” foi primeiro lugar nas paradas de todos os países de língua inglesa e se manteve perto do topo por três anos. Até hoje não se tem com precisão as vendas do long play, que teve reproduções piratas saindo dos Estados Unidos para o mundo por muitos anos. Conta-se que Lennon fazia mais que vista grossa: era parte de seu projeto de abraçar a contracultura deixar que sua música circulasse fora do esquema capitalista.

Foi lançado pela Apple e é considerado um dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame.

O historiador Mark Lewisohn escreve que Lennon pretendia gravar algo muito pessoal quando começou a compor “Imagine”. De fato, o disco reúne além dos versos pela paz, canções de amor, ciúmes e até uma declaração de ressentimento a Paul McCartney, “How Do You Sleep”, em que endereça ao ex-parceiro estrofes como “A Única Coisa que Você Fez Foi Yesterday”.

A canção-tema foi mais longe que as caixas acústicas do tempo poderiam. Historiadores contam que era ouvida em fitas K-7 no Vietnã até o final da guerra, em 1975. Foi tema de investigação do FBI. Seis discos e nove anos depois, Lennon era procurado por jornalistas e pesquisadores para falar sobre o álbum.

E também por religiosos como Mark David Chapman, que matou John Lennon no dia 8 de dezembro de 1980, na porta do edifício Dakota, onde o ídolo vivia com mulher e o filho Sean, hoje também compositor. Chapman confessou, na época, que planejava a morte do cantor desde o estouro de “Imagine”. Hoje, o assassino cumpre pena em Wende Correctional Facility.

Nos pedidos por liberdade condicional, o criminoso reitera que deseja sair “pelo menos no estado, de igreja em igreja, e contar às pessoas o que aconteceu para mim e mostrar-lhes o caminho para Cristo”.

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