Inverno harmoniza com vinho. E não só com o tinto
Especialistas dão dicas de como escolher uvas e rótulos que combinam com a estação mais fria do ano
24/06/2021Nenhuma outra bebida combina tanto com inverno quanto o vinho. O crescimento do consumo e da produção no Brasil no primeiro ano da pandemia se reflete agora na ampliação e diversificação da oferta de rótulos em lojas físicas e on-line e nos menus dos melhores restaurantes, muitos dos quais também entregam a bebida com as refeições em casa.
O relatório anual da Organização Internacional do Vinho (OIV) de 2021 diz que o consumo brasileiro é um dos maiores crescimentos no mundo. A demanda nacional cresceu 18,4%. A italiana, 7,5% e a argentina, 6,5%, na comparação com 2019. Produtores e importadores colocaram o Brasil no centro do seus mercados e por isso esse promete ser o inverno com o maior número de opções de produtores, uvas e inovações da bebida.
A escolha ficou melhor e, por isso, mais difícil. As sommelières Cibele Siqueira e Paula Daidone, da Wine, vivem diariamente o desafio de encontrar os rótulos mais interessantes para o maior e-commerce de vinho do mundo para distribuir no Brasil. Elas compartilham aqui os critérios para a escolher os melhores vinhos para beber no inverno.
Vinhos que ganham com a maturidade
Uvas que geram vinhos mais encorpados, como Touriga Nacional, Tempranillo, Syrah, Pinotage, Nero d’Avola, Malbec e Cabernet Sauvignon são ideais para o inverno. Elas também recomendam vinhos com passagem por madeira, pelas notas aromáticas “mais quentes”.
O sabor quente que lembra baunilha é encontrado principalmente produções armazenadas em barris de carvalho novo. Embora outros tipos de madeira melhorem o que os enólogos chamam de evolução da bebida, nenhuma “tempera” com o mesmo efeito do carvalho novo, graças a porosidade que permite uma pequena oxidação que aumenta a quantidade de taninos responsáveis pelo amadurecimento.
Um exemplo é o Partridge Selección. Feito de uva Cabernet Franc cultivada na Argentina, passa 12 meses em barrica de carvalho novo antes de ir para garrafa. Onde continua evoluindo por mais sete anos. Este, é da colheita de 2017, ótimo momento, portanto, para ser consumido: Partridge Selección de Barricas Cabernet Franc 2017.
Em barricadas de carvalho, brancos adquirem ‘tempero’ do inverno
“Seguindo esse raciocínio é possível degustar até brancos e espumantes no inverno. “É só optar por uvas brancas que dão origem a vinhos encorpados, como Chardonnay, Sémillon, Antão Vaz e Viognier, principalmente se tiverem passagem por madeira”, diz Cibele Siqueira.
Os espumantes elaborados pelo método tradicional também são boas opções, principalmente, os com mais de seis meses de autólise, pois, assim, o vinho ganha mais corpo e cremosidade, além de terem notas quentes, como amêndoas e frutas secas, ensina Paula Daidone. Veja entrevista na íntegra com a sommelière:
Por que o vinho é tradicionalmente associado ao frio se o álcool tem efeito vasodilatador, ou seja, esfria o corpo?
O vinho é a opção “mais quente” entre as preferências brasileiras, como a cerveja e a maior parte dos drinques. Além disso, o álcool como vasodilatador, provoca a diminuição da pressão, e conforme a queda desta, o coração começa a bater de forma mais acelerada para aumentar o fluxo sanguíneo. Isso provoca a sensação de calor e em algumas pessoas, uma cor mais rosada no rosto. Uma das razões para ser ingerido com moderação, aliás.
O consumo do vinho está muito associado ao comportamento. Pessoas incluem o vinho em situações específicas. Casais, por exemplo, adoram viajar para destinos de inverno para curtir um vinho de frente para uma lareira enquanto apreciam comidas típicas do frio como o fondue. O frio faz a gente ficar mais tempo em casa, e o vinho combina com esse momento mais caseiro. E o vinho também está associado ao romantismo, assim como o inverno.
Quais as uvas mais procuradas no inverno? Com que pratos e ou ingredientes harmonizam mais?
Os vinhos tintos são os mais procurados, principalmente os que passam por barrica. As uvas Malbec e Cabernet Sauvignon tendem a ser as mais buscadas, por serem as mais conhecidas e por terem estrutura para aguentar a passagem por madeira. Tannat é uma outra uva que vem despertando o interesse dos consumidores.
Qual a melhor temperatura e forma de guardar vinhos tintos fechados e abertos, nos dias mais frios?
Nos dias frios ou em regiões frias, é possível deixar o vinho fora da geladeira ou da adega (tanto aberto quanto fechado). Mas sempre em um local fresco, sem incidência de luz solar e longe da cozinha, pois este local é um ambiente que tem muita troca de temperatura. Tintos devem ser guardados entre 15 e 18 graus celsius; brancos, entre 12 e 14.
Para quem está começando no mundo dos vinhos, quais são os bons rótulos para descobrir suas uvas ou cortes (mistura de tipos diferentes de uvas) favoritos?
Normalmente, os vinhos da gama de entrada são boas opções de vinhos para iniciantes. Pois são exemplares mais simples e que revelam as suas características de aromas e sabores com maior facilidade. A gama de entrada é o vinho mais simples da vinícola. É aquele na linha de portfólio que o ocupa o primeiro lugar. Normalmente, é o mais barato entre todos os rótulos do produtor. Mas vale reforçar que ser simples e fácil de beber não quer dizer que o vinho não tenha qualidade. Não. São apenas vinhos com menor complexidade.
Por quê?
Começar por vinhos muito complexos pode assustar. Iniciantes no mundo do vinho que não estão acostumados com tipos muito elaborados pode não entender o que ele está tentando passar e acabar tendo uma experiência não muito agradável. Com o passar do tempo e com o conhecimento mais consolidado, fica mais prazerosa a experiência com vinhos mais complexos, o paladar evolui.
Se a sua intenção é agradar logo na primeira escolha, o melhor vinho para um iniciante é um Pinot Noir tinto ou um branco de Chardonnay. A Pinot Noir é a mais elegante das castas tintas e a Chardonnay é considerada a rainha das uvas. Pessoas com paladar acostumado a bebidas mais potentes como whisky e outros destilados podem preferir vinhos mais fortes como Malbec e Tannat.
Alguma sugestão especial para este inverno no Brasil a partir das últimas colheitas?
Sim: espumantes elaborados pelo método tradicional. O Brasil é referência na produção de vinhos com borbulhas. E o espumante elaborado por esse método pode ser consumido em temperaturas mais elevadas, além de ele ter mais corpo e estrutura, o que combina com dias mais frios. Afinal, não é só porque o inverno chegou que vamos deixar de brindar com espumante