Após dois anos de estouro do teto da meta, IPCA tende a ficar em 4,6% em 2023
Banco Safra revê para baixo a projeção da inflação em 2023 após queda de alimentos e redução do preço da gasolina; para 2024 estimativa é de 3,3%
22/10/2023As leituras mensais de inflação têm surpreendido para baixo e mostrado um panorama benigno. Em setembro, por exemplo, o IPCA registrou variação de 0,26% na comparação mensal, ficando mais uma vez abaixo do consenso de mercado (0,33%) e praticamente alinhado com a nossa expectativa (0,29%). Para além da flutuação do índice geral, a inflação de serviços mostrou comportamento favorável e segue arrefecendo na margem. Isso sugere que o setor pode mostrar uma desinflação mais pronunciada no próximo ano, algo já contemplado no cenário base dos analistas do Banco Safra.
Para o ano de 2023, a deflação intensa e disseminada entre os alimentos responde pela maior parte da redução das expectativas de inflação. A pesquisa Focus mais recente indica uma mediana de projeções em 4,75% para o IPCA de 2023, ante um pico de mais de 6% previsto em maio deste ano.
Naquela ocasião, esperava-se uma inflação de alimentos ao redor de 3% enquanto as projeções atuais sugerem variação de -1,6%. No mesmo período, os demais componentes do IPCA tiveram recuo menos expressivo.
O Banco Safra reduziu a projeção para o IPCA desse ano para 4,6%, movimento explicado majoritariamente por alimentos e, em menor parte, pelo anúncio de redução do preço da gasolina na última quinta-feira.
Se confirmado o número, a inflação ficará dentro da banda de flutuação da meta de deste ano – o teto da meta é 4,75% – um resultado interessante para o Banco Central do Brasil (BCB) após dois anos consecutivos de descumprimento.
IPCA 2023: maior risco de alta vem dos combustíveis em tempos de guerra
O maior risco altista à projeção está na inflação dos combustíveis, ou seja, a previsão é condicional a não haver reajuste no preço doméstico da gasolina. Apesar da elevação do preço internacional do petróleo nas últimas semanas, o preço da gasolina do golfo do México mostrou queda. Isso se refletiu numa redução do chamado crack spread, a relação entre esses dois preços (produto refinado e óleo cru).
As projeções do Banco Safra de inflação para os próximos meses supõem estabilidade para os preços da gasolina afora a redução anunciada no último dia 19. Caso o crack spread retorne para o patamar do início de setembro e ocorra reajuste nas refinarias brasileiras, a inflação do ano pode ficar mais próxima de 5,0%.
De toda forma, o arrefecimento nos custos de produção das empresas deverá beneficiar a inflação do próximo ano, se aproximando da meta já no primeiro semestre. O Safra projeta variação de 3,3% para o IPCA de 2024.