close

Milei é eleito presidente da Argentina e anuncia privatização da YPF

O economista de ultradireita Javier Milei recebeu 55,69% na eleição presidencial argentina, contra 44,3% do candidato governista Sergio Massa

Milei Argentina

“A Argentina vai voltar a ocupar seu lugar no mundo que nunca deveria ter perdido”, afirmou Milei após a vitória | Foto: divulgação

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, reiterou após sua vitória o plano de privatizar empresas estatais, afirmando que “tudo o que puder estar nas mãos do setor privado, estará nas mãos do setor privado”, disse em entrevista à “Rádio Mitre”. Entre as privatizações previstas está a petroleira YPF. Milei defendeu a reconstrução da empresa para que seja submetida a um processo de privatização. “Desde que o senhor [Axel] Kicillof decidiu nacionalizá-la, a deterioração que foi feita à empresa em termos de resultados para que ela valha menos do que quando foi expropriada”, argumentou.

Além da YPF, Milei mencionou a intenção de privatizar outras entidades estatais, incluindo a TV Pública, a Rádio Nacional e a agência pública de notícias Télam. Ele criticou a TV Pública como um “mecanismo de propaganda” e rejeitou a ideia de ter o que chamou de “ministério de propaganda”. Sobre o futuro da companhia aérea Aerolíneas Argentinas, Milei confirmou que pretende entregar a empresa aos seus funcionários para que façam a “sua própria depuração”, pois não haverá mais “ajuda do Estado”, segundo informação de “El Canciller”.

Apesar da determinação em privatizar, Milei não estabeleceu prazos, defendendo a necessidade de reestruturação e racionalização das estruturas das empresas: “Desde que essas estruturas sejam racionalizadas, elas serão colocadas para criar valor para que possam ser vendidas de uma forma muito benéfica para os argentinos”, explicou.

O presidente eleito também discutiu possíveis mudanças nas tarifas de energia, propondo um equilíbrio entre a recomposição tarifária e mecanismos estatais para minimizar o impacto no preço para os consumidores.

Economista de ultradireita tece 55,69% dos votos

O economista de ultradireita Javier Milei (La Libertad Avanza- LLA) é o novo presidente eleito da Argentina. Cinquenta minutos antes do horário previsto para a divulgação da primeira parcial da apuração dos votos, Milei teve a vitória reconhecida pelo adversário, o candidato governista Sergio Massa (Unión por la Pátria) em discurso transmitido pela TV.

“Esta foi uma campanha muito longa, difícil que em algum momento inclusive teve tons ríspidos”, começou Massa, que agradeceu a todos que participaram do processo eleitoral democrático. “Quero dizer que obviamente os resultados não são os que esperávamos, e me comuniquei com Javier Milei para parabenizá-lo”, revelou Massa para surpresa de todos que esperavam primeiro os dados oficiais. Logo em seguida, a Câmara Nacional Eleitoral (CNE) confirmou a vitória de Milei.

Com 99,28% dos votos apurados, Milei recebeu 55,69% contra 44,3% de Massa. Os resultados são parciais e a apuração final só sairá na quarta-feira. A votação de ontem transcorreu sem incidentes significativos e teve uma taxa de participação de 76%, pouco abaixo dos 77,04% do primeiro turno.

Somente depois das 22h que o presidente eleito fez o discurso de vitória. Ao subir ao palco foi recebido pela irmã e braço direito, Karina, que não disfarçou a emoção e as lágrimas. “Hoje é uma noite histórica para a Argentina, que vem trabalhando há dois anos para que isso seja possivel”, afirmou Milei, que fez um agradecimento especial ao ex-presidente Mauricio Macri e a candidata derrotada no primeiro turno da coligação Juntos por el Cambio, Patricia Bullrich.

“Quero dizer a todos os argentinos que hoje começa o fim da decadência argentina”, afirmou. “Não há volta para trás.”

Milei fez também um gesto de união nacional ao dizer que os politicos que queriam somar-se ao seu governo são bem vindos, não importa de onde venham, apesar de ter feito críticas ao que chamou de modelo empobrecedor da “casta”. “É mais importante o que nos une do que o que nos separa”, afirmou.

Ele também mandou um recado para Massa dizendo que o atual governo termina somente no dia 10 de dezembro, em clara resposta ao discurso da derrota do rival que afirmou que a responsabilidade pela Argentina a partir desta segunda-feira é do presidente eleito

Fez ainda um chamado para que todos que queiram abraçar as ideias libertárias que se juntem ao seu governo a partir de 10 de dezembro. “Temos problemas: inflação, estagnação econômica, insegurança, pobreza. Problemas que só podem ser resolvidos abraçando as ideias do liberalismo.”

“A Argentina vai voltar a ocupar seu lugar no mundo que nunca deveria ter perdido. Nosso compromisso é com a democracia, o livre comércio e com a paz. Vamos trabalhar com todos os países de livre comércio”, reiterou Milei. “Apesar dos enormes problemas que têm o país, a Argentina tem futuro. Este futuro existe. Este futuro é liberal.”

“Se abraçamos estas ideias, não somente vamos a resolver os problemas de hoje. Mas em 35 anos voltaremos a ser potência mundial”, continuou. “Hoje vamos festejar, mas amanhã a partir da primeira hora começaremos a trabalhar para que a partir de 10 dezembro trazermos a solução que a Argentina precisa”, acrescentou Milei, que encerrou o discurso com um “Viva la libertad, carajo!”.

A disputa entre Massa e Milei foi definida no interior, onde o ultradireitista teve um desempenho superior aos votos cativos do reduto peronista da província de Buenos Aires. “Massa obteve uma votação muito pior que a esperada”, disse o analista político Carlos Fara.

Javier Milei tem um duro caminho para superar crise na Argentina

Em um país dividido, desiludido com as fórmulas políticas que não foram capazes de resolver os problemas enfrentados pela população, o novo presidente terá um duro caminho pela frente. As medidas para superar a crise não foram esclarecidas durante a campanha, cuja disputa foi marcada pelo medo nas últimas semanas.

Por um lado, o candidato governista apostou no medo da população de perder os benefícios sociais e subsídios às tarifas públicas — principalmente transporte e energia. Sempre que podia, Massa destacava o plano do rival de realizar um corte profundo nos gastos com a motoserra exibida pelo economista durante a campanha, com perda de direitos e da educação e saúde públicas universais.

Nesta reta final também cresceu o medo do desconhecido, já que Milei apareceu no cenário político só há dois anos, quando foi eleito deputado e não apresentou nenhum projeto de lei nesse período. E também o medo da continuidade da atual gestão representada por Massa, da inflação alta, da insegurança, da pobreza, do desânimo e da desesperança.

Milei e sua vice Victoria Villarruel — advogada e deputada — são considerados por vários setores da política e por diferentes ONGs como uma ameaça aos 40 anos de democracia na Argentina. Durante a campanha, a dupla foi apontada como um risco às instituições democráticas. Na semana passada, Villarruel disse em uma entrevista que a única maneira de tirar o país da crise é através da “tirania”.

O país passou o ano praticamente paralisado com o processo eleitoral iniciado em 13 de agosto, com as primárias obrigatórias, que provocou um primeiro choque no país quando Javier Milei saiu à frente com 30,04% dos votos, seguido por Patricia Bullrich (Juntos por el Cambio, JXC) e Sergio Massa, com 27,27%. Esse choque levou o governo a desvalorizar o peso em 18% no dia seguinte às primárias, e a apertar os controles cambiais. Para conter os efeitos da desvalorização, Massa acertou um congelamento de preços de alimentos e combustíveis até o primeiro turno em outubro.

A estratégia do governo trouxe resultados, com Massa surpreendendo no primeiro turno, em 22 de outubro, saindo à frente com 36,68%, seguido por Milei com 29,98% e Bullrich, com 23,83%.

Na campanha do segundo turno, Massa e Milei buscaram os votos dos candidatos eliminados. Apesar dos insultos trocados entre Bullrich e Milei, ele obteve o apoio da aliança de centro-direita do ex-presidente Mauricio Macri.

Já o quarto colocado, o governador peronista de Córdoba, Juan Schiaretti, se declarou neutro mas fez duras críticas à situação econômica do país. Córdoba é o segundo maior colégio eleitoral do país e Schiaretti obteve 6,83% dos votos no primeiro turno.

Durante a campanha para o segundo turno, as pesquisas de intenção de votos, consideradas pouco confiáveis, foram marcadas pela volatilidade. Mas a maioria apontava uma situação de empate técnico entre Massa e Milei.

Na quinta-feira, Milei voltou a falar de risco de fraude nas eleições. Sem apresentar provas, o seu partido acusou as forças de segurança de manipular “o conteúdo das urnas e a documentação” para beneficiar a Massa no primeiro turno. A CNE rejeitou todas as acusações, classificando-as de “infundadas”. Em sua história, a Argentina nunca teve uma eleição impugnada por denúncia de fraude.

Em toda a campanha, Massa buscou diferenciar-se do kirchnerismo com a promessa de que seu governo seria diferente. Milei desafiou os padrões tradicionais da política e atraiu o voto jovem e os descontentes, ajudado pela militância do JxC.

Minutos depois do final da votação, Milei reuniu sua equipe e disse: “sou bilardista, ganhamos, mas vamos esperar o resultado oficial para anunciar”. O que se confirmou por volta das 20h10 de ontem com o pronunciamento do rival Massa. (Valor Econômico)

Abra sua conta no Banco Safra.

Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra