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Juro do rotativo do cartão de crédito chega a 430%, e cheque especial fica mais barato

Levantamento do Banco Central sobre taxa de juros nas diferentes modalidades de empréstimos mostra que o custo do cheque especial caiu de 134% para 129%

cartão de crédito

O rotativo do cartão e o cheque especial são modalidades de crédito emergenciais, mas muito utilizadas em momentos de dificuldades | Foto: Getty Images

Em meio a discussões levantadas pelo governo de um teto de juros para o rotativo do cartão de crédito, o juro médio total cobrado pelos bancos na modalidade atingiu o maior valor desde março de 2017 (490,3%). A taxa subiu 13,1 pontos porcentuais de fevereiro para março, de 417,4% para 430,5%, informou nesta quarta-feira, 26, o Banco Central. Em 12 meses, o aumento é de 71,4 pontos porcentuais.

O parcelamento de compras sem juros no cartão de crédito é tema de debate no setor financeiro, depois que grandes bancos apontaram essa modalidade como um dos culpados pelas altas taxas de juros do rotativo dos cartões — cobradas no mês seguinte, quando o correntista não paga o valor integral da fatura no dia do vencimento.

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O rotativo do cartão, juntamente com o cheque especial, é uma modalidade de crédito emergencial, muito acessada em momentos de dificuldades. Recentemente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, formalizaram a criação de um grupo de trabalho com o BC para debater as causas e propor soluções para os juros elevados do cartão de crédito.

No caso do parcelado, ainda dentro de cartão de crédito, o juro subiu de 189,6% para 192,0% ao ano. Considerando o juro total do cartão de crédito, que leva em conta operações do rotativo e do parcelado, a taxa passou de 101,6% para 101,7%. Desde abril de 2017, há uma regra que obriga os bancos a transferir, após um mês, a dívida do rotativo do cartão de crédito para o parcelado, a juros mais baixos.

A intenção era permitir que a taxa de juros para o rotativo do cartão de crédito recuasse, já que o risco de inadimplência, em tese, cai com a migração para o parcelado.

A taxa média de juros no crédito livre continua a subir, mesmo após o fim do ciclo de alta da Selic e em meio ao aumento da inadimplência nos últimos meses. A taxa subiu levemente em março de 44,2% ao ano em fevereiro para 44,3% ao ano, informou nesta quarta-feira, 26, o Banco Central (BC). Essa é a maior taxa desde agosto de 2017 (45,6%). No terceiro mês de 2022, era 7 pontos porcentuais mais baixa, de 37,3%.

Para as pessoas físicas, a taxa média de juros no crédito livre continuou em 58,3% de fevereiro para março. Da mesma forma, para as pessoas jurídicas permaneceu em 24,1% entre os dos meses.

Juros no cheque especial tem queda para 129% ao ano

Entre as principais linhas de crédito livre para a pessoa física, destaque para o cheque especial, cuja taxa teve redução: passou de 134,2% ao ano para 129,1% ao ano de fevereiro para março. No crédito pessoal, a taxa também foi reduzida de 42,2% para 42,0% ao ano.

Desde 2018, os bancos estão oferecendo um parcelamento para dívidas no cheque especial. A opção vale para débitos superiores a R$ 200. Em janeiro de 2020, o BC passou a aplicar uma limitação dos juros do cheque especial, em 8% ao mês (151,82% ao ano).

Os dados divulgados nesta quarta pelo Banco Central mostraram ainda que, para aquisição de veículos, os juros foram de 29,0% ao ano em fevereiro para 28,6% em março.

A taxa média de juros no crédito total, que inclui operações livres e direcionadas (com recursos da poupança e do BNDES), foi de 31,2% ao ano em fevereiro para 31,6% ao ano em março. No terceiro mês de 2022, estava em 26,9%.

Já o Indicador de Custo de Crédito (ICC) ficou estável em 22,3% ao ano entre fevereiro e março. O porcentual reflete o volume de juros pagos, em reais, por consumidores e empresas no mês, considerando todo o estoque de operações, dividido pelo próprio estoque.

Na prática, o indicador reflete a taxa de juros média efetivamente paga pelo brasileiro nas operações de crédito contratadas no passado e ainda em andamento.

O spread em operações de crédito apresentou queda marginal em março. Dados divulgados pelo Banco Central mostram que o spread bancário médio no crédito livre passou de 31,6 pontos porcentuais em fevereiro para 31,5 pontos porcentuais em março. O spread médio da pessoa física no crédito livre passou de 45,6 para 45,2 pontos porcentuais entre os dois meses. Para pessoa jurídica, o spread médio continuou em 11,7 pontos porcentuais.

O spread é calculado com base na diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e o que é efetivamente cobrado dos clientes finais (famílias e empresas) em operações de crédito. O spread médio do crédito direcionado foi de 4,3 para 4,7 pontos porcentuais na passagem de fevereiro para março.

Já o spread médio no crédito total (livre e direcionado) continuou em 20,9 pontos porcentuais de fevereiro para março.

Inadimplência sobe para 4,6%

A taxa de inadimplência nas operações de crédito livre com os bancos passou de 4,5% em fevereiro para 4,6% em março, informou o BC. Esse é o maior nível desde maio de 2018, quando também era de 4,6%.

Para as pessoas físicas, a taxa de inadimplência passou de 6,1% para 6,2% de um mês para o outro. Para as famílias, é a maior taxa de calotes desde outubro de 2016, quando também era de 6,2%. No caso das empresas, a inadimplência ficou estável em 2,4% no período.

A inadimplência do crédito direcionado (recursos da poupança e do BNDES) permaneceu em 1,5% de fevereiro para março. Já o dado que considera o crédito livre mais o direcionado mostra que a taxa de inadimplência seguiu em 3,3% de um mês para outro.

Endividamento das famílias

Na mira do governo federal, o endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro fechou fevereiro em 48,6%, menor do que a taxa de janeiro (48,9%). O recorde da série histórica do Banco Central ocorreu em julho do ano passado (50,1%). Se forem descontadas as dívidas imobiliárias, o endividamento ficou em 30,8% em fevereiro, contra 31,0% no primeiro mês de 2023.

Já o comprometimento de renda das famílias com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) terminou fevereiro em 27,4%, mesmo porcentual de janeiro. O maior valor da série foi atingido em setembro de 2022 (27,8%). Descontados os empréstimos imobiliários, o comprometimento da renda ficou estável entre janeiro e fevereiro, em 25,4%. (AE)

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