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As lições que a pandemia trouxe para a Santa Casa

Filantropia tem sido um dos pilares que sustentam a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em meio à recuperação de uma profunda crise

Santa Casa

Dívida da Santa Casa está em torno de R$ 600 milhões, segundo Antonio Penteado Mendonça, provedor da irmandade de 2017 até 2020 | Foto: Estadão Conteúdo

Os últimos meses ficaram marcados como um dos períodos mais difíceis dos 460 anos de história da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

“A pandemia foi uma lição diária para nós. A maior dificuldade foi entender o que estava acontecendo e qual o nosso papel dentro do quadro”, afirma Antonio Penteado Mendonça, provedor da irmandade de 2017 até 2020.

A Santa Casa é um centro médico filantrópico privado, que não cobra seus pacientes. Trata-se de uma instituição que desenvolve pesquisas e oferece atendimento em 54 especialidades, incluindo as de alta complexidade.

Todo o atendimento da Santa Casa é financiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os recursos são recebidos do Ministério da Saúde e complementados pelo governo do estado de São Paulo.

O problema é que o repasse sempre foi insuficiente e, por isso, ações filantrópicas se tornaram ainda mais essenciais ao hospital desde que a pandemia começou.

O Banco Safra é uma das instituições que têm compromisso filantrópico com a Santa Casa, além de muitas outras ações em diferentes frentes.

“Essa ajuda do Banco Safra foi fundamental para a realização da profunda reforma e reaparelhamento dos hospitais da irmandade em 2020”, avalia Mendonça.

O site O Especialista conversou com o ex-provedor da Santa Casa de São Paulo. Confira:

O Especialista – O senhor encarou um período historicamente desafiador. Qual foi a maior dificuldade de sua gestão?

Antônio Penteado Mendonça – Foi a profissionalização da instituição, que foi feita por meio de uma consultoria para identificar os problemas. Depois tivemos a implantação das soluções, pela FIA (Fundação Instituto de Administração).

Quantas pessoas a Santa Casa atendeu desde o início da pandemia?

Atendemos cerca de 5 mil pessoas com Covid-19. Destas, 1666 morreram.

Em 2020, a Santa Casa recebeu 50 milhões de reais em doações, uma quantidade recorde. Na prática, como esse dinheiro ajudou a instituição?

Foi com ele que conseguimos abrir novos leitos de UTI e de enfermaria, compramos novos equipamentos de ressonância magnética e de tomografia computadorizada – também trocamos o sistema de ar-condicionado do pronto socorro e das enfermarias do Hospital Central. Além disso, compramos mais de cem leitos novos e material hospitalar.

O senhor acha que a filantropia na área da saúde deve mudar depois da pandemia? Ou seja, esse período deixou lições sobre responsabilidade social para empresas e pessoas?

Com certeza. O Brasil adquiriu uma noção mais sólida sobre a importância da filantropia. Mas, em 2021, as doações caíram significativamente em relação a 2020. Eu acho que a noção de ajudar está clara, mas a necessidade da ação, ainda não. Mesmo assim, tem bastante gente fazendo a sua parte, mas o foco mudou da saúde para a fome.

Atualmente, a dívida da Santa Casa está em 600 milhões de reais e já foi maior. O que esperar daqui pra frente?

Tenho a esperança de que este ano a irmandade consiga reduzir significativamente esse total. Aliás, no balanço, as mudanças já estão acontecendo, com o aumento da liquidez ficando cada vez mais evidente.

Como são feitos os repasses à Santa Casa?

O Sistema Público de Saúde paga 60% dos custos. Os outros 40% saem dos recursos próprios, doações e empréstimos bancários. Este cenário não é exclusivo nosso, pois todos os hospitais filantrópicos estão na mesma condição.

A Santa Casa também precisa vender seus imóveis para se manter. Como o senhor avalia essa situação?

Foi a única solução no passado e continua sendo atualmente. O problema é que são recursos finitos. Não tem como perpetuar esse modelo. É bom não esquecer que os hospitais filantrópicos respondem por mais de 50% do atendimento do SUS e por 65% dos procedimentos de alta complexidade.

Como é o recebimento dos recursos do SUS pelos hospitais federais e pelas Santas Casas? O senhor já reforçou várias vezes que há uma desproporcionalidade nisso. Apesar das limitações financeiras, a Santa Casa ainda consegue otimizar esses recursos?

Sim. O pagamento não é uniforme para as Santas Casas. Os hospitais de São Paulo recebem um complemento do governo estadual. Há também várias tabelas aplicáveis a diferentes situações. Mas, um hospital federal, por exemplo, chega a receber 15 tabelas do SUS, enquanto à Santa Casa de São Paulo não chega a 3. Se tivéssemos mais aportes poderíamos girar com déficit zero. Inclusive, já propus que o governo federal transfira a gestão dos hospitais federais para as Santas Casas. Com a competência delas, não seria necessário um centavo a mais do que é pago hoje para o sistema girar de forma equilibrada.

Qual a grande lição que o senhor tirou durante o período como provedor?

Que profissionalismo, planejamento, amor à camisa e trabalho sério fazem a diferença. É isso que faz a Santa Casa estar superando a crise de 2015 e estar se reinventando como um hospital de ponta. Isso só foi possível graças ao amor e a dedicação integral da maioria dos colaboradores da irmandade.

Qual mensagem o senhor gostaria de deixar?

Se Deus ajudar, a Santa Casa continuará no caminho atual, com um dos maiores prontos socorros do país e se consolidará como um centro de excelência em alta complexidade, capacitada a atender um número maior de pessoas todos os anos.
Há muito a ser feito em todos os campos, mas o Brasil tem jeito e a maioria da população é gente séria e trabalhadora. Não podemos perder a esperança e deixar de lutar por um futuro melhor.

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