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Morre aos 91 anos o filósofo José Arthur Giannotti

Um dos maiores nomes da filosofia brasileira, professor defendia a proximidade da filosofia com outras áreas das ciências sociais

Gianotti

Filósofo foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, entidade de estudos sociais e de formulação de políticas contrárias ao regime militar | Foto: Estadão Conteúdo

Morreu nesta terça-feira, 27, o professor José Arthur Giannotti, considerado um dos maiores nomes da filosofia brasileira, aos 91 anos. Paulista de São Carlos, no interior, ele era professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) e ajudou a fundar o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), entidade de estudos sociais e de formulação de políticas que surgiu em 1969 e reunia opositores do regime militar.

Crítico dos métodos tradicionais de se pensar a política, ele defendia a proximidade da filosofia com outras áreas das ciências sociais. Era um dos mais respeitados estudiosos da obra de Karl Marx no Brasil e autor de obras que tratam da reflexão sobre o trabalho e sobre a viabilidade de modelos políticos no capitalismo.

A morte foi confirmada pelo Cebrap, que não divulgou o motivo. O velório está marcado para as 8h desta quarta, 28, na Rua São Carlos do Pinhal, na Bela Vista, região central de São Paulo.

Giannotti foi um dos maiores intelectuais do Brasil

O ex-presidente Fernando Henrique lamentou a morte de Giannotti, que segundo Fernando Henrique foi um “amigo como poucos”, e destacou a longa trajetória de amizade. “Amigo há mais de 70 anos. Filósofo e grande leitor dos clássicos. Amigo como poucos, desses que são raros. Deixa saudades e gratidão”, escreveu o ex-presidente no Twitter.

Em nota, o Cebrap classificou o estudioso como “um dos maiores intelectuais brasileiros” e lamentou a morte. “É com imensa tristeza que o Cebrap recebe a notícia do falecimento de um de seus fundadores, o prof. José Arthur Giannotti. Aos familiares e amigos que tiveram o privilégio de conviver com Giannotti, um dos maiores intelectuais brasileiros, nossas sinceras condolências”, diz a nota.

O sociólogo Sergio Abranches destacou a trajetória de Giannotti, que para ele foi “um dos maiores pensadores do Brasil”. “Vida longa dedicada ao pensamento”, escreveu Abranches.

O professor Raphael Neves, do curso de Direito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), lembrou dos tempos em que era estagiário e se encontrava com o filósofo. Hoje Neves é diretor científico do Cebrap. “Já faltei a estágio para ver o Giannotti e estive em uma prévia do último livro. 91 anos, mas com vontade de discutir e empolgação de um estudante”, escreveu.

Influência de Oswald de Andrade

Giannotti decidiu ingressar na USP por influência do escritor Oswald de Andrade, que conheceu na adolescência, após se mudar para a capital paulista com a família.

Assistiu sua primeira aula universitária no prédio da Rua Maria Antônia, no início de 1950, com outros nove alunos. Na virada para a década de 1960, fundou o grupo “Seminários Marx”, que também tinha entre seus participantes historiadores, economistas, cientistas sociais, críticos literários e filósofos – entre eles Fernando Henrique Cardoso, Paul Singer, Ruth Cardoso e Roberto Schwarz, em diferentes gerações.

Integrantes do mesmo grupo seguiriam para a fundação do Cebrap no fim da década. Ele presidiu o centro de estudos de 1984 a 1990 e entre 1995 e 2001.

Muito próximo do ex-presidente Fernando Henrique, o filósofo se tornou uma referência teórica para integrantes do PSDB durante os anos em que os tucanos ocuparam o governo federal e depois, quando era o partido de referência na oposição aos petistas.

Desde a década de 1980, Giannotti foi membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) e de diversos conselhos deliberativos da área educacional e científica, como da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Publicou, entre outras obras, os livros Apresentação do mundo (1995), Certa herança marxista (2000), O jogo do belo e do feio (2005) e Lições de filosofia primeira (2011), todos pela Companhia das Letras.

Uma de suas obras mais recentes é Os Limites da Política – Uma Divergência, pela mesma editora, que assina em coautoria com o também filósofo Luiz Damon Santos Moutinho. É um denso diálogo filosófico sobre aborda as possibilidade de democracia no capitalismo contemporâneo. Seus últimos trabalhos se debruçavam sobre as contradições do pensamento político. (AE)

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