Morre Mikhail Gorbatchov, último presidente da União Soviética
O político forjou vários acordos com o ocidente para acabar com a cortina de ferro que dividia a Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial
30/08/2022Morreu esta terça-feira o oitavo e último presidente da União Soviética, Mikhail Gorbatchov, considerado uma das figuras mais importantes da segunda metade do século XX, informou a agência estatal russa Interfax. O histórico líder russo, de 92 anos, sofria de vários problemas de saúde.
Gorbatchov foi um dos principais responsáveis pelo fim da Guerra Fria e da União Soviética. O político, de origens russas e ucranianas, forjou vários acordos com o ocidente de forma a acabar com a famosa “cortina de ferro” que dividia a Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial, culminando na unificação da Alemanha.
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Ao contrário dos seus antecessores, que enviaram tanques para esmagar protestos populares, recusou-se a utilizar a força contra os manifestantes pró-democracia que inundaram o bloco soviético no ano de 1989. Esses mesmos protestos haveriam de motivar as aspirações da autonomia de 15 repúblicas soviéticas, entre as quais a Ucrânia. Os dois anos seguintes acabariam por culminar no colapso da União Soviética.
Ideologicamente, sua identificação inicial era com os ideais marxistas-leninistas, tendo, entretanto, no início da década de 1990, se inclinado à social-democracia.
De origens russas e ucranianas, Gorbatchov nasceu em Privolnoye, Krai de Stavropol em uma família pobre camponesa. Nascido e criado durante o governo de Josef Stalin, operava colheitadeiras em uma fazenda coletiva durante sua juventude, antes de filiar-se ao Partido Comunista, que, à época, governava a União Soviética sob um regime unipartidário de orientação marxista-leninista.
Durante seus estudos na Universidade Estatal de Moscou, casou-se com sua colega de faculdade Raíssa Titarenko em 1953, dois anos antes de graduar-se em direito. Ao mudar-se para Stavropol, trabalhou para a Komsomol, organização juvenil do PCUS e, após a morte de Stalin, tornou-se um forte apoiador das reformas desestalinizadoras do líder soviético Nikita Khrushchov. Foi nomeado Primeiro Secretário do Comitê Regional de Stavropol do PCUS em 1970, posição na qual supervisionou a construção do Grande Canal de Stavropol.
Em 1978, retornou a Moscou para tornar-se Secretário do Comitê Central do PCUS e, em 1979, entrou para o Politburo. Após os três anos que se seguiram desde a morte do líder soviético Leonid Brezhnev, após os breves governos de Yuri Andropov e Konstantin Chernenko, o Politburo elegeu Gorbatchov Secretário-Geral, tornando-o chefe de governo de facto, em 1985.
Gorbachov defendeu reformas políticas e criou a glasnost e a perestroika
Apesar de seu compromisso de preservar o estado soviético e seus ideais socialistas, Gorbatchov acreditava que reformas políticas significativas eram necessárias, especialmente após o acidente nuclear de Chernobyl de 1986.
Ordenou a retirada soviética da Guerra do Afeganistão e participou de diversos encontros com o presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan para limitar a proliferação de armas nucleares e acabar com a Guerra Fria.
No que diz respeito à política interna, implementou a glasnost (“transparência”), política que aumentava as liberdades de expressão e imprensa, e a perestroika (“reestruturação”), política que objetivava descentralizar a tomada de decisões no âmbito econômico, com o propósito de aumentar a eficiência econômica. Suas medidas democratizantes e a formação do Congresso dos Deputados do Povo enfraqueceram o sistema estatal unipartidário.
Gorbatchov recusou-se a intervir militarmente nos vários países do Bloco do Leste que abandonaram suas orientações marxistas-leninistas nos anos de 1989 e 1990. Um sentimento nacionalista crescente ameaçava o colapso da União Soviética, levando partidários marxistas-leninistas a tentarem um golpe de Estado contra o governo de Gorbatchov em agosto de 1991.
Depois disso, houve a dissolução da União Soviética contra os desejos de Gorbatchov, levando-o a renunciar em dezembro. Após deixar o cargo, criou a Fundação Gorbatchov, tornou-se crítico dos governos dos presidentes russos Boris Yeltsin e Vladimir Putin, e fez campanha pelo movimento social-democrata russo.