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Naufrágio revela história do abate de elefantes

Descoberta de mergulhadores desvenda o tráfico de marfim durante o período de comércio de especiarias

Elefantes

Comércio predatório de marfim reduziu população de elefantes para cerca de 100 mil animais, segundo pesquisadores / Foto: Getty Images

Em 2008, mergulhadores em busca de diamantes na costa da Namíbia encontraram um tipo diferente de tesouro: centenas de moedas de ouro misturadas com madeira e outros detritos.

A descoberta estava entre os restos do navio comercial português Bom Jesus, que afundou durante uma viagem à Índia em 1533.

Entre as 40 toneladas de carga recuperadas do navio afundado estavam mais de 100 presas de elefante.

Mais de uma década depois da descoberta, uma equipe de arqueólogos, geneticistas e ecologistas conseguiu desvendar a origem das peças de marfim e encaixar a descoberta na história do comércio marítimo.

A análise dos pesquisadores revelou que linhagens de elefantes inteiras foram dizimadas desde a época das navegações pela exploração sem controle.

“A carga é um retrato de de uma interação muito específica que ocorreu nos estágios iniciais da globalização”, disse Ashley Coutu, arqueóloga da Universidade de Oxford e coautora do estudo publicado na Current Biology, em entrevista ao The New York Times.

Material genético desvenda a história

Apesar de passar quase meio milênio no oceano, as presas recuperadas do navio encontram-se surpreendentemente bem preservadas. Oss pesquisadores creditam as águas excepcionalmente frias da Namíbia ajudaram a preservar a carga.

Os pesquisadores extrairam material genético de células preservadas dentro das presas. Isso permitiu que eles identificassem o marfim como tendo vindo de elefantes florestais, diferentes dos primos maiores e mais conhecidos da espécie.

Em seguida, os pesquisadores isolaram o DNA mitocondrial, que é passado pelas mães para seus filhos e pode ser usado para identificar a procedência de elefantes. Eles identificaram presas de 17 espécies de elefantes, dos quais apenas quatro ainda continuam existindo.

“Algumas dessas linhagens foram possivelmente extintas ao longo do tempo do comércio de marfim e destruição de habitats”, disse Alfred Roca, geneticista da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign e coautor do estudo.

Comparando o DNA mitocondrial recuperado com conjuntos de dados genéticos modernos e históricos, os pesquisadores descobriram que as presas vinham de elefantes florestais que viviam no Oeste, e não na África Central.

Pesquisa interdisciplinar

Uma análise química de isótopos de carbono e nitrogênio nas presas também revelou que os animais devem ter vivido não em florestas tropicais profundas, como a maioria dos elefantes florestais fazem hoje, mas em florestas mistas e savanas de pastagens, dos tipos presentes perto dos principais postos de comércio marítimo do século XVI na África Ocidental.

O incrível trabalho de investigação dos autores do estudo demonstrou a importância da colaboração interdisciplinar, segundo os envolvidos. Do ponto de vista histórico, a descoberta foi importante para revelar padrões comerciais do comércio de marfim na África Ocidental, antes e durante o comércio de escravos.

Séculos depois, os elefantes florestais ainda sofrem com a caça ilegal e o desmatamento. De 2002 a 2011, os elefantes florestais experimentaram um declínio de 62% na população, com menos de 100 mil animais sobreviventes hoje.

Leia a íntegra da reportagem do The New York Times.

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