O modelo de empreendedorismo do século XXI, que finalmente passou a predominar nos últimos anos, tem os princípios ambientais, sociais e de governança – a chamada agenda ESG – como centro das estratégias nos negócios de sucesso a longo prazo.
Atualmente, o benefício gerado por essa agenda é tão importante quanto o lucro e a saúde financeira de uma empresa, portanto, é crucial que os membros do conselho das empresas tenham consciência desta mudança de paradigma e saibam comunicar as ações e resultados com os stakeholders, principalmente os investidores. Indo além, já está surgindo nas organizações a figura do conselheiro independente de ESG, focado apenas nestas questões.
Muito mais do que uma vitrine para mercado e investidores, os fatores ESG estão ligados a riscos e oportunidades, de onde surgem diversos questionamentos, tais como (i) probabilidade de invasão nos computadores das empresas; (ii) práticas trabalhistas dos fornecedores e outros parceiros comerciais; (iii) crises hídricas; e (iv) política de diversidade e inclusão da empresa.
Outro ponto de destaque seria a forma como stakeholders, conselheiros e gestores de empresas podem comunicar de maneira padronizada suas ações e resultados. Não basta um relatório divulgado no site institucional que exalta as ações locais, é preciso usar métricas para deixar claros os resultados mensuráveis.
Para que não haja um vácuo de comunicação, a empresa precisa utilizar métricas já consagradas, como o formato multi-stakeholder da GRI (Global Reporting Initiative) – o primeiro e mais utilizado do mundo, com mais de 30 mil usuários – ou os padrões da SASB (Sustainability Accounting Standards Board), que publicou normas para 77 segmentos específicos. Além dessas duas entidades, recentemente, o Fórum Econômico Mundial divulgou um conjunto de métricas universais para prestação de informações relacionadas a temas ESG, que podem ser utilizadas por empresas de todo o mundo, independentemente do segmento ou local de atuação.
Para superar a postura mais cautelosa de alguns conselheiros, ou mesmo no caso de um conselheiro de ESG, não seria necessário divulgar todas as métricas recomendadas para o setor de atuação, mas selecionar as métricas mais relevantes entre as sugeridas por SASB, GRI, entre outras. É importante considerar os riscos relacionados aos temas ESG como parte da avaliação de riscos da companhia. A aplicação dos padrões SASB e GRI pode ser uma oportunidade de identificar tais riscos e estruturar a comunicação como for mais conveniente para os investidores.
Neste sentido, também é preciso separar tempo para desenvolver as estratégias a adotar. Com informações corretas e mensuráveis, um conselheiro ESG pode ter papel fundamental na questão dos riscos, mas o tema não pode ser relegado aos 15 minutos finais de uma longa reunião. É necessário tempo suficiente para que este profissional analise os dados de risco, entenda as mudanças nos regulamentos, seus reflexos no negócio e realize a tomada de decisões de maneira inteligente.
Líderes e conselhos que ainda estão na fase de debate sobre a importância de estabelecer uma estratégia ESG, em vez de já estarem trabalhando juntos para implementá-la, mensurá-la e aprimorá-la estão vivendo no passado, colocando suas empresas em risco.
Uma vez que os riscos e as oportunidades de ESG podem afetar o modelo de negócios de uma empresa no longo prazo, a organização com visão de futuro será aquela que antes integrar valores, metas e métricas em suas estratégias de negócio para minimizar os riscos ESG, aproveitando as oportunidades para inovar e reduzir custos, com esforços alinhados à estratégia e ao propósito corporativo. Neste contexto, um conselheiro ESG se faz mais do que conveniente, se faz de fato necessário para os desafios do futuro.