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Mônica Kruglianskas

O que está tirando o sono dos CEOs em 2023?

Segundo pesquisas de consultorias, a maior preocupação é com o risco de recessão em 2023, mas há outros motivos de preocupação

Casal de diretores em escritório

Quase metade dos CEOs diz que a mudança climática já está impactando significativamente seus negócios – ou logo o fará | Foto: Getty Images

O final de um ano e o começo de outro sempre trazem algumas reflexões e também novas perspectivas. 2022 foi sem deixar muita saudade e 2023 já começou em ritmo acelerado. É isso o que as pesquisas feitas entre CEOs do mundo todo têm revelado.

Algumas dentre as já tradicionais pesquisas realizadas pela PwC, The Conference Board, e EY, por exemplo, indicam um pessimismo generalizado de CEOs nos EUA e no mundo. Mas o que tem tirado o sono dos executivos?

Segundo essas pesquisas, a primeira preocupação é o crescimento lento e a possibilidade de recessão em 2023. A maioria dos executivos não acredita que um crescimento econômico mais forte retornará tão cedo: 51% dos CEOs em todo o mundo – e 60% dos CEOs dos EUA – esperam um ano morno pela frente, com suas economias se recuperando apenas no final de 2023 ou meados de 2024.

Apesar dos CEOs se prepararem para um crescimento mais fraco (pouco ou nenhum crescimento) e recessões, a escassez de mão de obra e a retenção de talentos estão entre os maiores desafios dos executivos em todo o mundo, o que sugere que a crise atual difere das do passado.

As pesquisas também revelam que uma recessão não levará a maioria dos CEOs dos EUA – 55% – a controlar os investimentos ESG de suas empresas em 2023. Apesar da elevada e recente resistência à agenda ESG, especialmente nos EUA, 71% dizem que a reação não os obrigará a reduzir seus investimentos em sustentabilidade para o próximo ano.

Além disso, 59% dos CEOs globais compartilham essa crença. Quase metade dos CEOs diz que a mudança climática já está impactando significativamente seus negócios – ou logo o fará. O capitalismo de stakeholders parece ter uma base sólida em muitas empresas. Ao priorizar os stakeholders, CEOs classificam os clientes em primeiro lugar, os funcionários em segundo e os acionistas/proprietários em terceiro.

Isso é reflexo de alguns fatores: primeiro, a responsabilidade ambiental e social continua sendo prioridade para os principais stakeholders, incluindo investidores, funcionários, consumidores, parceiros de negócios e muitos reguladores nos EUA e na UE. Em segundo lugar, as questões ESG estão sendo cada vez mais incorporadas – e não atreladas – à estratégia e operações de negócios. É uma fonte de oportunidade, não apenas de risco. Em terceiro lugar, reflete um foco no longo prazo: os CEOs reconhecem que o crescimento econômico verdadeiramente sustentável e sua atuação de maneira social e ambientalmente responsável andam de mãos dadas.

Somando-se a este já tumultuoso 2023, está a guerra na Ucrânia. Os CEOs europeus e chineses estão muito preocupados: ocupa o 4º lugar entre os CEOs europeus e o 8º entre os CEOs chineses, já para os CEOs americanos o impacto da guerra na Ucrânia sobre os negócios ocupa o último lugar na lista de preocupações, em 22º lugar.

No geral, considerando todo o mundo, 68% dos CEOs esperam que a guerra cause mais ataques cibernéticos e sanções econômicas e aprofunde as crises de alimentos (65%) e energia (68%). Mas a lista não para por aí e segue com os temas que são apresentados a seguir.

Para os CEOs globais e nos EUA, a inflação é a segunda maior preocupação externa para 2023, aliada aos custos dos empréstimos nos EUA. Já os CEOs chineses estão preocupados, mas em menor grau: a inflação ocupa o 7º lugar.

Apesar das expectativas de recessão, atrair e reter talentos está no topo da lista de preocupações dos CEOs globais, ocupando o primeiro lugar.

E quando os temas transcendem o curto prazo, ou seja, mais além de 2023, a perspectiva não melhora. Todas estas preocupações corroboram com os dados fornecidos pela PwC, em sua 26ª pesquisa anual entre CEOs globais publicada em Janeiro deste ano. A pesquisa foca na perspectiva menos imediatista, mas os resultados são igualmente desafiadores.

Segundo a PwC, além de um ambiente desafiador, quase 40% dos CEOs acham que suas organizações não serão economicamente viáveis em uma década se continuarem no caminho atual. É a perspectiva mais pessimista em mais de uma década.

O padrão é consistente em vários setores, incluindo telecomunicações (46%), manufatura (43%), saúde (42%) e tecnologia (41%). A confiança dos CEOs nas perspectivas de crescimento de sua própria empresa também caiu drasticamente desde o ano passado (-26%), a maior queda desde a crise financeira de 2008-2009, quando foi registrada uma queda de 58%.

Globalmente, a confiança dos negócios em torno do crescimento econômico varia fortemente, com as economias do G7, incluindo França, Alemanha e Reino Unido – todas pressionadas pela contínua crise energética – mais pessimistas sobre suas perspectivas de crescimento interno do que sobre o crescimento global.

Os CEOs também estão vendo vários desafios diretos à lucratividade em seus próprios setores nos próximos 10 anos. Mais da metade (56%) acredita que a mudança na demanda/preferências do cliente afetará a lucratividade, seguida por mudanças na regulamentação (53%), escassez de mão de obra/habilidades (52%) e interrupções tecnológicas (49%).

A lista só aumenta. Mas em cada um destes desafios existe uma oportunidade. Como disse Peter Drucker há muito tempo a “cada questão social e global de nossos dias é uma oportunidade de negócios disfarçada.”

Em linha com os 40% CEOs que veem a perenidade de suas organizações ameaçada, posicionar os negócios como parte integrante da sociedade e do planeta, do meio ambiente, e aliar seu proposito de existência à solução destes desafios não é mais uma opção e sim uma questão de sobrevivência.

Melhorias sistêmicas dependem do avanço tecnológico, diretrizes publicas e governamentais e direcionamento financeiro. Por isso as empresas devem trabalhar para influenciarem essas agendas e reinventarem seus modelos de negócios em busca de um sistema econômico que seja realmente sustentável. Essa deve ser a maior preocupação dos CEOs em 2023 e nas próximas décadas.

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Coordenadora Adjunta do Programa de Gestão Estratégica da Sustentabilidade da FIA Business School. Conselheira e Diretora Não Executiva em diversas organizações no Brasil e Europa.

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