Com pandemia sem controle, 108 países vetam brasileiros
Descontrole da epidemia no Brasil preocupa especialmente os vizinhos da América do Sul, que reforçam medidas de segurança nas fronteiras
12/04/2021Peru e Colômbia proibiram voos do Brasil. O Uruguai mandou mais doses de vacinas para a fronteira com o Rio Grande do Sul. O Chile prevê possível quarentena para quem chega do Brasil. Os argentinos impuseram restrições à entrada de brasileiros e a Venezuela tem medo da variante surgida no País.
Ao todo, 108 países impedem a entrada livre de brasileiros ou turistas que tenham passado por aeroportos no País, segundo levantamento do jornal O Estado de S. Paulo, com base em dados da Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata), sites de agências de viagens e contatos com as embaixadas no Brasil.
Líder de contaminações e mortes em números absolutos e relativos na região, o Brasil desperta preocupação especialmente dos vizinhos. Este é o sentimento predominante em entrevistas feitas pelo Estadão com moradores de países sul-americanos.
Letalidade preocupa OMS
Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou ter grande preocupação com a letalidade e a transmissão do vírus entre os brasileiros.
“Se o Brasil não for sério, continuará afetando sua vizinhança – e além”, afirmou Tedros Adhanom, diretor da OMS. O Brasil é o terceiro país com mais vizinhos no planeta – faz fronteira com 9 nações, além da Guiana Francesa, ficando atrás de Rússia e China. “Muitos estão caminhando na direção certa, mas não é o caso do Brasil”, criticou Mark Ryan, da cúpula da OMS.
Embora tenha 3% da população mundial, hoje um em cada quatro mortos por covid no mundo é brasileiro. O País registra ainda recordes negativos em sua média de mortes desde o início de março, mostrando que a pandemia está em seu pior momento.
Para Marcos Azambuja, ex-embaixador do Brasil na Argentina, o País precisa “voltar aos trilhos” e agir depressa no momento em que a pandemia perde força em outras partes do mundo, com a vacinação.
“O Brasil não pode ser retardatário. Não pode se transformar num pária sanitário do planeta”, disse.
País ameaça a saúde global
“Como grande laboratório da imunidade de rebanho, o Brasil tornou-se uma ameaça para a segurança da saúde global”, afirma a professora Deisy Ventura, coordenadora da pós-graduação em saúde global da USP. “Além de sequelas, mortes evitáveis e do custo para o sistema de saúde em insumos e leitos, a disseminação do vírus favorece mutações virais e novas variantes.”
As restrições afetam ainda os clubes brasileiros que disputam a Copa Libertadores. No início do mês, a Conmebol transferiu o jogo entre Ayacucho e Grêmio do Peru para o Equador.
A mudança foi necessária em razão do veto imposto pelas autoridades peruanas à entrada de brasileiros. Os peruanos jogaram no Brasil, já que a tradicional regra de reciprocidade adotada entre nações não se aplica a normas sanitárias. Os brasileiros, portanto, têm recebido tratamento diferente nos países vizinhos em relação ao dispensado a eles aqui.
Este problema não se restringe aos gramados. As restrições deixaram o Brasil de fora do panamericano de mountain bike, que conta pontos para o ranking olímpico. As barreiras para a entrada de brasileiros em Porto Rico, sede da competição e território administrado pelos EUA, inviabilizaram a viagem, prejudicando a corrida dos atletas por uma vaga nos Jogos de Tóquio. (AE)