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PIB pode crescer 2,5% em 2024 e garantir equilíbrio fiscal

Análise Safra: Com disciplina fiscal, queda da Selic e maior consumo das famílias, país pode crescer mais no ano que vem

análise Safra

Moderado aumento da confiança da indústria na esteira da queda da Selic pode ser suficiente para aumentar a taxa de investimento e favorecer crescimento | Foto: Getty Images

A dinâmica do consumo das famílias no ano que vem deve contrastar com a de 2023. Como indicado no PIB do primeiro trimestre, no ano corrente, o consumo pessoal deve crescer pouco, apesar do forte aumento da massa de renda nominal em torno de R$ 706 bi, equivalente a 11% de incremento em relação a 2022.

Esse pouco crescimento da demanda se explica pelo alto endividamento das famílias e, especialmente, pela elevação do custo do serviço dessa dívida. O aumento do comprometimento da renda com esse serviço chegará a R$ 265 bilhões em 2023.

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Na hipótese de estabilidade da taxa de poupança, o orçamento familiar é tal, que o espaço para o aumento nominal do consumo é de apenas R$ 418 bilhões, ou 6,7% maior do que em 2022. Descontando a inflação média esperada para 2023, o consumo a preços constantes deverá crescer apenas 1,5%.

No próximo ano, a redução da taxa Selic irá liberar recursos para o financiamento das famílias. Imaginando-se a queda gradual da Selic nos próximos 18 meses para 8,75% a.a., o custo do serviço da dívida das famílias poderá cair em mais de R$60 bilhões, em relação ao cenário sem alteração nos juros e nos prazos de financiamento.

Além da diminuição do pagamento de juros, a queda da Selic abre a possibilidade de renovação das dívidas, com aumento de prazos, o que também pode destravar um valor significativo para o orçamento das famílias, por conta da queda do valor da prestação destinado à amortização das dívidas.

Assim, haveria reversão do processo dos últimos trimestres de diminuição da concessão de crédito nas linhas com maior prazo, como o consignado, e dependência maior no cartão de crédito e cheque especial. A volta do consignado, mesmo que sem grande aumento do saldo total, mas com significativa expansão da concessão (extensão do prazo) do crédito permitida pela queda da Selic abaixo dos tetos de juros admitidos nesses empréstimos lastreados nas aposentadorias do INSS e outras fontes de renda das famílias, complementará a renda familiar.

Essa renda deve se manter estável, considerando a perspectiva de estabilidade da taxa de desemprego. Mas, ela ganha fôlego com o aumento efetivo do crédito. Assim, a relativa robustez do emprego, com a redução do serviço da dívida e a extensão dos prazos, somadas a uma moderada expansão da concessão de crédito em 7%, permitiriam crescimento do consumo das famílias em R$ 432 bi no próximo ano. Utilizando a nossa expectativa de inflação média de 4% para 2024, a variação do consumo real poderia acelerar para cerca de 2,3% no ano que vem. A inflação média de 4% é compatível com uma variação do IPCA sobre 12 meses em dezembro de 2024 perto de 3,4%.

Saldo de crédito consignado (% do total):


Orçamento Familiar (valores correntes em R$ bilhões, exceto Consumo Real)

O segundo maior componente da demanda doméstica é o investimento, que pode readquirir alguma cor no ano que vem. O investimento é muito dependente das expectativas dos empresários e tem recuado nos últimos trimestres.

Naturalmente, um dos principais fatores que ajudam na formação da confiança empresarial é a taxa de juros futura. Essa relação se deve não só ao custo do dinheiro para as empresas, mas também às expectativas de aumento do consumo — e das vendas — associadas à queda de juros, como discutido acima.

Estudos econométricos também sugerem que um moderado aumento da confiança da indústria na esteira da queda da Selic pode ser suficiente para aumentar a taxa de investimento em alguns pontos percentuais.

Um nível de confiança da indústria abaixo do pico verificado em 2021, e próximo ao que se viu mesmo na época do governo Temer ou no período pré-pandemia (na faixa de 105-108) se traduziria em um investimento crescendo em torno de 3,2% no próximo ano.

Parte do aumento do consumo e do investimento tende a ser atendido por um aumento das importações, levando o crescimento do PIB ano que vem a também depender do desempenho das exportações. Os principais grupos das exportações estão bem posicionados para crescer em 2024. O último relatório divulgado pela USDA1 estima que a nossa produção de soja crescerá 5% no próximo ano, o que contribuiria com 1 ponto percentual para a variação das exportações.

Além disso, organismos governamentais e internacionais esperam por um importante aumento da produção de petróleo e sua exportação. Há a expectativa de entrada em funcionamento de várias novas plataformas de petróleo, e mesmo que o valor de 15% de aumento da produção indicado pela EPE não se manifeste, pode-se contar com um crescimento de 5% em 2024.

Por fim, mesmo que o crescimento mundial e da Ásia seja modesto, pode-se contar com um crescimento do volume exportado de minério em torno de 2,6% em 2023. No conjunto, as
exportações devem crescer 2,6%, enquanto as importações um pouco menos de 1%, levando a um crescimento das exportações líquidas da ordem de 1,7%, o que adicionaria 0,3 pontos percentuais ao PIB, levando o crescimento real total do PIB a alcançar 2,5% no ano que vem.

Esse valor é o mínimo necessário para que, repetindo-se pelos próximos anos, dê-se plena expressão aos objetivos do arcabouço fiscal de levar o resultado primário da União a 1% do PIB até 2026, com estabilização da dívida abaixo próxima a 80% do PIB antes do final da década.

Portanto, na hipótese de disciplina fiscal que favoreça o aumento da confiança do empresário na esteira da queda da Selic e da melhora das perspectivas de consumo das famílias, o PIB brasileiro pode crescer 2,5% em 2024. Esse crescimento é importante para dar sustentação ao novo arcabouço fiscal e estabilizar a dívida da União como proporção do PIB em até 5 anos.

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