China enfrenta desafios para garantir ritmo de 5% de crescimento em 2024
Relatório de macroeconomia do Banco Safra aponta obstáculos enfrentados pela China para garantir PIB de 5% anunciado como meta para 2024
26/03/2024A produção industrial chinesa cresceu 7,0% no acumulado de janeiro e fevereiro na comparação com o mesmo período do ano passado, surpreendendo positivamente as expectativas de mercado, com aceleração em produtos manufaturados (+7,7%). Destaque positivo ao segmento de telecomunicações e computadores (+14,6%), além de metais não ferrosos (+12,5%).
Por outro lado, produtos farmacêuticos continuam em retração e a produção de máquinas desacelerou recentemente.
Outro indicador que ficou acima da expectativa do consenso foi o investimento em ativos fixos, impulsionado pela reaceleração das empresas estatais. Enquanto isso, os investimentos do setor privado permanecem estagnados, como mostra o gráfico 7.
A atividade chinesa enfrenta desafios importantes para este ano, segundo análise dos especialistas do Banco Safra. A meta de crescimento do PIB real para 2024 foi estipulada em 5%, mesmo ritmo estabelecido para 2023, quando o país cresceu 5,2%.
Por mais que o ritmo de crescimento buscado seja o mesmo, o desafio agora é maior. No início de 2023 a flexibilização das políticas de isolamento social permitiu uma forte recuperação do setor de serviços no primeiro trimestre daquele ano, por exemplo em lazer e turismo. Isso impulsionou a atividade econômica e permitiu que o PIB crescesse 6,0% já no primeiro semestre do ano passado em relação ao mesmo período de 2022.
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Para 2024, o desempenho da atividade dependerá das condições de demanda doméstica e das exportações ao longo dos próximos meses.
Os indutores ao crescimento chinês enfrentam desafios importantes neste ano. As vendas de imóveis continuam em retração e, consequentemente, o preço de unidades residenciais tem recuado gradualmente desde 2021.
A retração do início de novas construções antecipa um ciclo de queda das construções em andamento, o que prejudicará a produção do setor. Importante destacar que parte da riqueza das famílias é o seu próprio imóvel e, portanto, queda nesse indicador pode manter a confiança do consumidor em patamar historicamente baixo e a taxa de poupança em nível elevado. Assim, o consumo das famílias arrefeceu no segundo semestre do ano passado e as vendas de varejo ficaram praticamente estagnadas no primeiro bimestre deste ano.
O menor de ritmo da demanda doméstica não deve ser compensado pela demanda externa. A redução do dinamismo do consumo mundial de bens manufaturados deve prejudicar as perspectivas da indústria chinesa, dificultando a expansão do volume de produtos exportados.
Diante da demanda mais fraca, as empresas locais devem manter os preços das suas vendas ao exterior mais baixos, como vem sendo
capturado pelo índice de preços de exportação do país.
PIB da China: meta para 2024 é desafiadora
Apesar de as dificuldades para o crescimento serem relevantes, o governo, até agora, não implementou medidas expressivas de estímulo à demanda doméstica. Não há estímulo fiscal relevante previsto para 2024 e os ajustes de política monetária também têm sido modestos.
A taxa básica de juros, que remunera os empréstimos do Banco Central aos bancos comerciais com prazo de até um ano (Medium Term Lending Facility, MLF em inglês) foi reduzida apenas duas vezes desde o início de 2023, acumulando no total corte de apenas 0,25%.
Desde agosto essa taxa não sofre alterações, apesar de em geral a inflação ter tido leituras baixas ou até mesmo negativas.
Assim, a meta de crescimento do PIB para 2024 será mais desafiadora do que foi a de 2023 e os fatores que poderiam permitir que ela seja atingida estão mais restritos. Ao mesmo tempo, não houve até o momento a implementação de medidas significativas de estímulos.
Íntegra do relatório semanal de macroeconomia do banco Safra.