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Produção de aço cresce o dobro do PIB, e preços sobem até 170%

Siderúrgicas devem crescer mais de 11% este ano, mas aumento da produção não segura alta dos preços e falta aço no mercado

siderurgia

Preço médio por tonelada de aço plano para a linha branca, eletroeletrônicos e veículos subiu 172,4% em 12 meses | Foto: Getty Images

A produção de aço bruto no Brasil deve crescer 11,3% em 2021, mais do que o dobro das previsões mais otimistas feitas para o PIB, segundo o Instituto Aço Brasil, a entidade que reúne as siderúrgicas do País. Hoje, de acordo com dados do instituto, as usinas estão operando com 75% da capacidade instalada, em nível superior aos 63% do período pré-covid. Mesmo assim os aumentos de preços chegam a ultrapassar os 170% em 12 meses, diante da alta demanda.

Puxadas pelo aumento do consumo dos setores de máquinas e equipamentos, construção civil, eletroeletrônicos e veículos, especialmente caminhões, todos com crescimento acima do PIB, as vendas no mercado interno alcançaram 7,9 milhões de toneladas de aço no primeiro quadrimestre, superando o resultado de 2013, considerado o pico do setor, no mesmo período. Isso em cima de um crescimento de 3,5% registrado em 2020, já em meio à pandemia.

“Estamos batendo recorde atrás de recorde”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo da entidade. “Ninguém acreditava quando o ministro Paulo Guedes dizia que a retomada viria em ‘v’, mas foi o que aconteceu.”

Esse desempenho parece ainda mais impressionante quando se leva em conta que, além de ocorrer em plena pandemia, ele se dá num cenário de explosão dos preços do aço no País e no exterior, em decorrência da alta no custo do minério de ferro e de outras matérias-primas e também da mudança de posição da China no mercado, reduzindo exportações e aumentando importações do produto.

Um levantamento da S&P Global Platts aponta que o preço médio por tonelada de aço plano (bobina a quente), utilizado em produtos da linha branca, eletroeletrônicos e veículos, subiu 172,4% em reais nos últimos 12 meses, enquanto o preço do aço longo (vergalhão), usado na construção civil, aumentou 153,3%.

Até pouco tempo atrás, quando o dólar estava subindo, parte da explicação para a alta dos preços, que seguem parâmetros internacionais, recaía sobre o câmbio. Mas, com o dólar acumulando queda de 3,6% em relação ao real de junho de 2020 a maio de 2021, o efeito cambial já não entra mais na conta. “A alta de preços do aço é um fenômeno mundial”, afirma Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), “Se a produção está aumentando e o preço está subindo, é porque há consumo.”

Para atender o mercado interno, que até agora se mostra surpreendentemente resiliente ao salto nos preços, as siderúrgicas reduziram as exportações. Ao mesmo tempo, houve um aumento considerável nas importações, que dobraram nos primeiros quatro meses de 2021 em relação ao mesmo período do ano passado.

Ainda assim, num quadro que lembrou, de certa forma, o Plano Cruzado, de 1986, quando a demanda explodiu e houve falta generalizada de produtos, algumas montadoras chegaram a parar parte da produção por falta de aço e outros insumos, no fim de 2020 e no início deste ano. Construtoras e fabricantes de máquinas e equipamentos e de aparelhos eletroeletrônicos enfrentaram problemas semelhantes.

Hoje, embora haja maior equilíbrio entre a oferta e a demanda, ainda há relatos de falta de aço na praça, em especial por parte de representantes da construção civil. Os prazos de entrega das encomendas se alongaram e os estoques dos distribuidores de aço, que vendem para os consumidores de pequeno e médio portes ainda estão 20% abaixo da média pré-pandemia.

Temendo falta de produtos e novas altas de preços, muitas empresas passaram a fazer estoques preventivos, o que agrava o problema. Outras ainda estão tentando recompor os estoques desovados no auge da crise para fazer caixa e enfrentar a queda brusca na demanda.

“As siderúrgicas dizem que estão produzindo mais do que nunca, mas você conversa com os empresários e vê que eles não conseguem o produto de que precisam”, diz o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins. Alegando a necessidade de haver um “choque de oferta” de aço no País, para acabar com o ‘desabastecimento”, ele apresentou um pedido ao Ministério da Economia para reduzir a alíquota de importação do aço de 12% para 1% durante seis meses, prorrogáveis por mais seis, mas a proposta até agora não foi para a frente.

Lopes, do Instituto Aço Brasil, que pediu ao presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira para não reduzir a tarifa de importação, nega que haja desabastecimento e diz que Martins é o único representante dos grandes consumidores que afirma ainda haver problemas de oferta no mercado.

Mais que o desabastecimento, o grande problema hoje parece ser a escalada dos preços e o impacto que ela pode ter nos produtos que usam o aço como insumo. A própria construção civil, que costuma vender imóveis com “preço fechado” e só iniciar a produção depois, talvez seja a área mais atingida pela questão e ainda busca formas de equacioná-la.

Mas os setores de máquinas , eletroeletrônicos e veículos também estão sendo afetados e já preveem impacto nas vendas se os preços do aço não cederem, por não ter como absorver elevação nos custos desse porte.

No setor de máquinas e equipamentos, com crescimento de 28% no primeiro trimestre, de acordo com o IBGE, há um movimento em curso para facilitar as importações de aço. Na visão de José Velloso Dias Cardoso, presidente da Abimaq, que reúne as empresas do ramo, “vale a pena importar”, apesar da demora de cinco meses entre o pedido e a entrega. Segundo ele, o aço da China chegaria ao Brasil, já com o frete e o Imposto de Importação, de 12%, mais barato do que o produzido aqui. (AE)

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