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Inflação menor pode permitir cortes nos juros de forma parcimoniosa, diz ata do Copom

Para o Matheus Rosignoli, economista do Safra, a ata traz elementos que não continham no comunicado, como a indicação de que a maioria avaliou que o ciclo de baixa está próximo

Edifício Banco Central

Copom afirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas | Foto: Agência Brasil

Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, o Banco Central afirmou que a maior parte dos oito membros que participaram da reunião avaliam que a continuidade o processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança para iniciar os cortes de juros de forma parcimoniosa no próximo encontro, em agosto.

“Observou-se divergência no Comitê em torno do grau de sinalização em relação aos próximos passos. A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”, disse a ata.

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Para Matheus Rosignoli, economista do Banco Safra, a ata trouxe elementos que não constavam no comunicado logo após a reunião do Copom. Segundo ele, essa indicação de que a maioria do comitê avalia que o ciclo de baixa se aproxima, indica que a decisão de corte nos juros pode ocorrer na reunião de agosto.

“Quando o comitê coloca que pode iniciar o processo de inflexão parcimonioso dá um sinal de que se for cortar, vai diminuir a taxa de maneira devagar. Se o cenário evoluir melhor, pode ser que decidam por um corte de até 50 pontos-base”, disse Rosignoli. Segundo ele, há ainda muitos indicadores para serem divulgados antes da reunião de agosto que podem direcionar a estratégia do Banco Central.

Na ata, o BC ainda esclareceu que outro grupo se mostrou mais cauteloso. Para esses membros, a dinâmica desinflacionária ainda reflete o recuo de componentes mais voláteis e a incerteza sobre o hiato do produto gera dúvida sobre o impacto do aperto monetário até então implementado. “Para esse grupo, é necessário observar maior reancoragem das expectativas longas e acumular mais evidências de desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo.”

O Banco Central alertou, ainda, que o afrouxamento do grau de aperto monetário exige “confiança na trajetória do processo de desinflação”, a custo de, se feito de forma prematura, provocar retomada da aceleração inflacionária e reversão do próprio processo de relaxamento monetário. Essa avaliação foi unânime dentro do comitê.

A avaliação do BC ocorre após certa frustração do governo e de parte do mercado com o comunicado da decisão do Copom na quarta-feira passada, que não trouxe nenhuma indicação explícita sobre o início dos cortes de juros à frente.

“O Comitê unanimemente avalia que flexibilizações do grau de aperto monetário exigem confiança na trajetória do processo de desinflação, uma vez que flexibilizações prematuras podem ensejar reacelerações do processo inflacionário e, consequentemente, levar a uma reversão do próprio processo de relaxamento monetário.”

Estimativa da inflação

A ata indicou, também, que a projeção para o IPCA de 2024, ano em que o BC trabalha para alcançar a convergência da inflação para a meta, está em 3,4% no cenário de referência. Para 2023, a projeção para o IPCA está em 5,0%.

Todas as estimativas já constavam no comunicado da semana passada, quando o Copom manteve a Selic (a taxa básica de juros) em 13,75% ao ano pela sétima vez seguida. Na reunião anterior, em maio, as estimativas oficiais eram de 5,8% e 3,6% para 2023 e 2024, nessa ordem.

Apesar da queda forte, a projeção do BC para o IPCA de 2023 ainda está acima do limite de tolerância da meta, de 4,75%, indicando três anos consecutivos de descumprimento do BC de seu mandato principal, após 2021 e 2022. Para 2024, a projeção do BC se aproximou do centro da meta, de 3,0%.

O cenário de referência pressupõe a taxa de juros variando de acordo com a pesquisa Focus e o câmbio partindo de R$ 4,85 e evoluindo conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC). Além disso, a premissa é de que o barril de petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado pelos próximos seis meses e sobe a 2% ao ano na sequência. O BC ainda considera a hipótese de bandeira tarifária “verde” na conta de luz para o fim de 2023 e 2024.

No comunicado e na ata, o Copom afirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas. “A estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação.”

O comitê ainda indicou que os passos futuros da política monetária dependerão de cinco fatores. São eles a “evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.

Em relação aos preços administrados, a ata repetiu as projeções já informadas no comunicado de 9,0% para 2023 e 4,6% para 2024, ambas mais baixas que as estimativas informadas em maio, de 10,8% e 5,2%, respectivamente. (Com AE)

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