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O que esperar da superquarta após mais um susto com a inflação

Relatório do Safra informa que a conta de luz pode pressionar a inflação, mas o Banco Central deve voltar a cortar os juros em mais uma superquarta; nos EUA, taxa deve ser mantida

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Juros devem cair mais esta semana no Brasil, enquanto nos EUA o Federal Reserve deve manter as taxas | Foto: Getty Images

O IPCA de fevereiro teve variação de 0,83% na comparação mensal. O resultado ficou acima da projeção do Banco Safra (de 0,76%) e do consenso de mercado (de 0,79%), mas muito próximo do resultado do mesmo mês do ano passado, de 0,84%. Assim, a inflação acumulada em 12 meses praticamente não se alterou, cedendo de 4,51% para 4,50%. Na quarta-feira, dia 20, tanto o comitê de política monetária do Fed (FOMC) quanto o do Banco Central do Brasil (COPOM) se reúnem para decidir as respectivas taxas de juros. Para o Copom, o projeção do Banco Safra para a superquarta é de continuidade do ciclo de afrouxamento monetário, no mesmo ritmo que o implementado nas reuniões anteriores. Assim a taxa Selic deve cair de 11,25% para 10,75%. Já o Federal Reserve deve manter a taxa no atual patamar, de 5,25%-5,50%, consolidando o cenário de fim de ciclo de elevação de juros.

O relatório de macroeconomia do Safra analisa o contexto das decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos em mais uma superquarta.

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A elevação dos combustíveis foi mais forte que a esperada em fevereiro, enquanto a desaceleração de alimentos foi mais modesta que a projetada. O primeiro efeito reflete o aumento de ICMS sobre gasolina, com impacto indireto sobre o etanol. Já os alimentos mostraram pouco arrefecimento desde o IPCA-15 de fevereiro, com destaque para a aceleração de leite e frutas.

Esses dois fatores explicam a maior parte do desvio de projeção, mas devem ser pouco considerados nas decisões de política monetária. Tanto alimentos como combustíveis são excluídos da maior parte dos núcleos de inflação por terem comportamento demasiadamente volátil ou pouco correlacionado com o ciclo econômico.

A inflação de bens industriais e serviços apresentaram variação próxima da projetada. A média móvel trimestral da inflação de serviços, com ajuste sazonal, arrefeceu marginalmente nos últimos meses e aproxima-se do patamar verificado no período anterior à pandemia. Um destaque de baixa dos serviços no mês passado foi o item “Cinema, teatro e Concertos”, cuja deflação destoou bastante do padrão,
provavelmente refletindo uma semana de descontos em ingressos de cinema. Se esse for o caso, é provável que a contribuição baixista do item em fevereiro seja revertida para altista em março, quando os descontos deixam de valer.

A inflação de serviços subjacentes subiu nos últimos meses, com pressão pontual em alimentação fora do domicílio e serviço bancário.

O Safra acredita que ambas as pressões perderão efeito no curto prazo. No primeiro caso, a atenuação do evento climático El Niño deverá moderar o preço dos alimentos, especialmente os in natura, e ajudará a conter os custos dos bares e restaurantes com reflexo baixista na
inflação ao consumidor. O segundo caso é referente ao aumento pontual das tarifas bancárias no início do ano, sem necessária repetição nos meses subsequentes. Assim, o Safra acredita que a inflação de serviços subjacentes poderá arrefecer gradualmente nas próximas leituras.

Outras medidas importantes para a dinâmica de preços, como a média dos cinco principais núcleos e os índices de difusão, não apresentaram alteração relevante. A média dos núcleos também permaneceu ao redor do patamar vigente antes da pandemia, beneficiada pela ausência de pressão nos bens industrializados. Assim, não houve alteração relevante da dinâmica dos preços recentemente e o Safra mantém a expectativa de redução da taxa de Selic em 50 pontos-base na próxima reunião do COPOM.

O principal risco altista para a nossa projeção de 3,5% para o IPCA de 2024 está relacionado ao cenário pluviométrico adverso do começo deste ano, aliado às recentes decisões dos agentes reguladores do setor elétrico, que elevaram a probabilidade de acionamento das bandeiras tarifárias nos próximos trimestres.

O nível dos reservatórios apresentou menor recuperação no início do ano, especialmente no Sudeste. Nessa linha, medidas já foram tomadas a fim de diminuir a vazão de algumas usinas hidrelétricas. Em paralelo, foi aprovada mudança na metodologia do acionamento das bandeiras tarifárias, a fim de considerar também os custos da geração térmica na decisão sobre a cor da bandeira. Isso, segundo a análise do Safra, diminui consideravelmente a probabilidade de manutenção da bandeira tarifária verde ao longo de todo o
ano, como ocorreu em 2022 e 2023.

Assim, o Safra passa a considerar em seu cenário base a incidência de bandeira tarifária amarela em meados deste ano, com retorno à bandeira verde no último trimestre. O impacto dessas alterações de bandeira é, de acordo com os nossos cálculos, de 10 pontos-base. Vale frisar que essa mudança não afeta a projeção do IPCA do ano, impactando apenas a distribuição na inflação nos meses do ano. O risco, na avaliação do Safra, é de haver manutenção da bandeira amarela durante o começo do período úmido, afetando, assim, a projeção
anual.

Moderação do consumo nos Estados Unidos

O consumo nos EUA tende a moderar ao longo de 2024, segundo o relatório de macroeconomia do Banco Safra. A projeção se deve à desaceleração da renda disponível, menor pressão no mercado de trabalho, gradual redução da poupança das famílias e atonia do crédito, inclusive para o consumidor, exacerbada pela retomada do pagamento do serviço da dívida estudantil por 20 milhões de famílias.

As vendas de varejo do mês de fevereiro já apontam nessa direção, enquanto a inflação continua em trajetória benigna, apesar da volatilidade em itens como preços de passagens aéreas. Não deve haver estímulo fiscal capaz de se contrapor a essa dinâmica.

O desaquecimento tem sido esboçado nas últimas edições do Livro Bege do FED, que tem apontado para um mercado de trabalho em que é mais fácil contratar e reter, sem prejuízo da sua qualificação. A publicação também aponta a maior resistência das famílias ao aumento dos preços de bens e serviços, típica de orçamentos mais apertados.

A pesquisa com empresários elaborada pelo Instituto para Gestão de Oferta (ISM) tem apontado há alguns meses um percentual menor de empresas reportando crescimento de novas encomendas, tanto na indústria da transformação quanto no setor de serviços.

Depois de aparecer nas expectativas, a moderação do consumo pode já estar surgindo também nos dados oficiais, com impacto nas projeções de crescimento anual do PIB. As vendas de varejo do chamado grupo de controle, que exclui alimentos, combustíveis, automóveis e materiais de construção, caíram em termos nominais em fevereiro, ante uma expectativa de alta acima da inflação do período.

Com a revisão dos dados dos últimos meses, percebe-se que as vendas estão estagnadas desde o fim do terceiro trimestre de 2023,
crescendo abaixo da inflação. A revisão dos dados dos últimos meses do ano passado e do início deste ano pode eventualmente estimular uma revisão para baixo na terceira leitura do PIB do quarto trimestre, o que caso ocorra vai reduzir o carrego estatístico para o PIB de 2024.

Dessa forma, começam a aparecer sinais mais marcantes indicando a moderação do consumo na economia americana nos próximos meses. Ao longo do ano novos dados devem corroborar essa leitura, o que não significa que não possa haver ocasionalmente dados pontuais no sentido contrário.

Baixe a íntegra do relatório semanal de macroeconomia do Banco Safra.

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