Vendas do setor imobiliário desaceleram no 3º trimestre
Embora os lançamentos tenham crescido mais de 19%, vendas não acompanharam e expandiram menos de 2% no período
23/10/2021Após vários meses consecutivos de alta, o setor imobiliário abriu o trem de pouso e começou a baixar voo.
Os relatórios operacionais preliminares divulgados pelas maiores incorporadoras do Brasil mostram que o setor ampliou os lançamentos no terceiro trimestre, mas as vendas não acompanharam.
Os lançamentos do setor imobiliário cresceram 19,2% no terceiro trimestre, na comparação com o mesmo período de 2020, chegando a R$ 9,023 bilhões.
Mas as vendas líquidas não cresceram na mesma proporção: a alta foi de apenas 1,7%, alcançando R$ 7,090 bilhões.
Os dados representam a soma dos resultados das 14 incorporadoras listadas na Bolsa de Valores que já divulgaram suas prévias operacionais:
- Cury (CURY3)
- Direcional (DIRR3)
- MRV (MRVE3)
- Tenda (TEND3)
- Plano & Plano (PLPL3)
- Cyrela (CYRE3)
- Even (EVEN3)
- Eztec (EZTC3)
- Helbor (HBOR3)
- Lavvi (LAVV3)
- Melnick (MELK3)
- Mitre (MTRE3)
- Moura Dubeux (MDNE3)
- RNI (RDNI3)
O mercado de média e alta renda teve desempenho mais fraco do que o segmento popular.
Empresas como Cyrela, Even, Eztec e Melnick apresentaram recuo nas vendas, apesar de aumentar os lançamentos.
Lavvi e Moura Dubeux tiveram expansão em ambos. No Casa Verde e Amarela, MRV e Tenda tiveram aumento de vendas discreto, enquanto Direcional e Cury registram alta mais forte.
De modo geral, a estagnação das vendas vem da diminuição do poder de compra dos consumidores, que viram os preços dos imóveis na planta subirem para compensar a disparada nos custos dos materiais de construção.
Também pesou nas contas do setor imobiliário a elevação dos juros dos financiamentos imobiliários pelos bancos.
Em setembro, enquanto a Caixa anunciou redução de 0,4 ponto porcentual nos financiamentos atrelados à poupança, os grandes bancos privados aumentaram suas taxas em cerca de 1 ponto nas linhas de crédito tradicionais.
Também no mês passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros em 1 ponto, levando a Selic para 6,25% ao ano. Novo aumento deve vir na reunião do colegiado da semana que vem.
"A demanda está marginalmente pior", diz o analista do BTG Pactual Gustavo Cambauva. "As famílias se retraíram porque o affordability (capacidade de pagamento) diminuiu. Quem compra imóvel para investir saiu um pouco desse mercado porque está mais cauteloso com o aumento dos juros."
O levantamento dos dados das empresas também demonstra que a velocidade média de vendas do setor baixou de 25,5% para 20,2% - esse indicador calcula o percentual das vendas no período diante da oferta total de lançamentos e estoques.
"A velocidade de vendas forte que víamos no passado caiu", afirma Cambauva. "As empresas estavam vendendo até metade dos apartamentos na largada. Isso não é comum."
Analista de mercado imobiliário do Credit Suisse, Daniel Gasparete concorda que a demanda está esfriando e acrescenta outra razão para a menor velocidade de vendas.
"O consumidor está vendo que há bastante oferta. Basta atravessar a rua ou dobrar a esquina para encontrar outro estande", diz.
"As incorporadoras lançaram bastante nos últimos meses e aumentaram estoques. A oferta está mais alta, só que a demanda está mais baixa." (AE)