Álcool e vacina: entenda o mito que nasceu na Rússia
Especialista esclarece a relação entre o consumo da bebida alcoólica e a vacinação contra a covid-19
30/05/2021O mundo ficou alarmado com a contraindicação ao consumo de álcool antes e depois de receber a vacina Sputnik.
O Ministério da Saúde russo, quando começou a aplicar seu imunizante, recomendou que a população suspendesse o consumo de álcool duas semanas antes e 42 dias depois da vacinação.
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O alerta caiu como uma bomba no país. Mais da metade da população adulta russa ingere álcool diariamente.
E a notícia se espalhou rapidamente pelo mundo até o pronunciamento de Alexander Gintsburg, diretor do Centro Nacional de Investigação de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, corrigir a fala do ministério de Vladimir Putin.
“Uma taça de champanhe não machuca ninguém”, afirmou o diretor do centro responsável pela vacina russa e que usa a tecnologia de vetor viral.
Até a fala de Gintsburg, porém, a advertência de que o consumo de álcool cortaria o efeito da vacina rodou o mundo, preocupando autoridades por desestimular a vacinação.
E também por deixar a população sem segurança sobre o imunizante já recebido.
Mas, afinal, o que acontece se houver ingestão de álcool perto do dia de vacinação?
“Nada que tenha sido confirmado cientificamente acerca da eficiência das vacinas, nem registro de eventos adversos”, responde a médica Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
“Não existe fato científico que desaconselhe a beber com moderação, nem mesmo na véspera ou dia seguinte à vacina”, diz Levi.
“O que se sabe com segurança é que o organismo de alguém que consome álcool de forma excessiva e sistemática se torna comprometido do ponto de vista da imunidade. E pode, por isso, ter uma resposta menos efetiva à vacina. Mas o mesmo vale para qualquer quadro de imunossupressão, como a de quem recebeu transplante. Não é o efeito imediato do álcool que irá comprometer a eficácia da vacina.”
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicou esclarecimento a respeito do tema.
“Atualmente, não há evidências de que o consumo de álcool interfira na eficácia das vacinas de prevenção à covid-19. A vacinação é considerada uma importante oportunidade para incentivar comportamentos positivos em relação à saúde da população.”
É permitido, portanto, brindar no dia de vacinação, de qualquer uma das doses, sem pôr em risco a imunização oferecida pelas vacinas disponíveis contra a covid-19.
Porém, sobre o consumo de bebidas alcoólicas, é preciso lembrar que:
- Em todo o mundo, 3 milhões de mortes por ano resultam do uso nocivo do álcool, representando 5,3% de todas as mortes
- O uso abusivo de álcool é um fator causal para mais de 200 doenças e lesões
- Em geral, 5,1% da carga mundial de doenças e lesões são atribuídas ao consumo de álcool, conforme calculado em termos de Anos de Vida Perdidos Ajustados por Incapacidade (DALY, sigla em inglês)
- O consumo de álcool causa morte e incapacidade relativamente cedo na vida. Na faixa etária de 20 a 39 anos, aproximadamente 13,5% do total de mortes são atribuíveis ao consumo de bebidas alcoólicas
- Existe uma relação causal direta e comprovada entre o uso abusivo do álcool e uma série de transtornos mentais e comportamentais, além de doenças não transmissíveis e lesões
- Foram estabelecidas recentemente relações causais entre o consumo nocivo do álcool e a incidência de doenças infecciosas, tais como tuberculose, HIV e Aids
- Além das consequências para a saúde, o uso excessivo do álcool provoca perdas sociais e econômicas significativas para os indivíduos, suas famílias e para a sociedade em geral
- O álcool é a segunda causa de acidentes fatais de trânsito no mundo
- Consumir quantidades excessivas de álcool, de maneira sistemática, diminui a imunidade contra qualquer infecção e pode levar a doenças não infecciosas graves, algumas de tratamento difícil e muitas vezes irreversíveis, como a cirrose hepática
- Bebida alcoólica em excesso prejudica a memória, compromete a qualidade do sono, piora a depressão e leva ao vício
Fontes: Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)