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Crédito caro segura consumo nos EUA, mas expansão fiscal deve manter juros altos

Análise do Banco Safra sobre efeitos da política monetária nos Estados Unidos indica que o Federal Reserve deve manter os juros nos níveis atuais por mais tempo

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Política monetária está apertando as condições de crédito à pessoa física, com efeitos que já se fazem sentir no comportamento das famílias | Foto: Getty Images

O consumo das famílias americanas cresceu 3% em julho deste ano em relação ao mesmo mês do ano passado, a preços constantes. Para isso contribuíram o aumento temporário da renda disponível ocorrido em janeiro devido aos cortes de imposto de renda por diversos estados e o crédito tributário para a compra de automóveis, que tem estimulado os gastos com esses bens. Além disso, a taxa de poupança das famílias está abaixo dos padrões históricos, o que financia um nível de consumo mais alto que o habitual.

Esses fatores, no entanto, não são permanentes. O efeito da redução dos impostos deve se dissipar nos próximos meses, já que não estão previstas reduções adicionais nos estados nem a nível federal. Além disso, o fato de a taxa de poupança estar mais baixa significa que o volume de recursos extras guardados uma hora irá acabar, o que deve acontecer na passagem do primeiro para o segundo trimestre de 2024. Somado a isso, a política monetária está apertando as condições de crédito à pessoa física, com efeitos que já se fazem sentir no comportamento das famílias e devem se prolongar enquanto os juros continuarem altos. As autoridades do Fed se reunirão nos dias 19 e 20 de setembro e devem avaliar se a taxa de juro de referência atual, elevada para um intervalo de 5,25% a 5,5% em julho, é suficientemente restritiva para desacelerar a demanda e devolver a inflação à sua meta de 2%.

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O eventual arrefecimento do consumo limita a possibilidade de repasse de custos para os preços aos consumidores. Isso deverá esfriar o mercado de trabalho, quebrando possíveis ciclos de realimentação da inflação. Essa dinâmica ajudará o núcleo do CPI a convergir dos 3,7% em 2023 para 2,6% em 2024.

As perspectivas favoráveis para a redução da inflação não significam, no entanto, que não existam riscos. O principal risco altista está na expansão do déficit fiscal federal, que se tornou evidente com o recálculo do déficit de 2022 após a eliminação do custo previsto do perdão da dívida estudantil, cancelado por decisão da Suprema Corte. As receitas em 2023 têm sido bem menores que em 2022, enquanto as despesas, inclusive com juros, têm subido. O recente acordo para o aumento do teto da dívida pública definiu os contornos do gasto público em 2024 que deverá resultar em um déficit federal um pouco acima dos 6% que devem ocorrer em 2023 e bem acima dos 4% verificados em 2022.

Análise Safra: juros devem continuar altos nos EUA por mais alguns trimestres

Esse impulso pode estar por trás da chamada “resiliência” da atividade apesar do aperto monetário. Além disso, por levantar questões de sustentabilidade fiscal, começa a pressionar a taxa de juros de longo prazo para cima, até pelo receio enunciado por alguns analistas de os EUA virem a enfrentar uma situação de “dominância fiscal”, isto é, a gestão da dívida vir a limitar a autonomia da política monetária.

Em sentido contrário ao aumento de demanda ocasionado pela expansão fiscal, há o aumento de produtividade do trabalho, que é um choque de oferta favorável à queda da inflação. A produtividade apresentou crescimento expressivo nos últimos trimestres, permitindo desaceleração dos custos para empresas.

A redução da inflação nos EUA parece, portanto, bem engajada com o arrefecimento do consumo, ainda que vá necessitar a manutenção de juros altos por alguns trimestres e lidar com o impacto da expansão fiscal na demanda agregada e nos juros longos, sem prejuízo imediato à convergência da inflação para os valores divulgados pelo FOMC
em suas comunicações regulares.

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