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Ano novo com menos inflação e mais consumo deve garantir PIB de 2,5%

Relatório de macroeconomia do Banco Safra aponta que PIB de 2024 deve ser robusto, com menos inflação, demanda doméstica maior e mais exportações

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Crescimento da demanda deve favorecer o mercado de trabalho e a arrecadação federal, tornando a economia mais robusta, segundo a avaliação do Banco Safra | Foto: Getty Images

A atividade econômica brasileira deve se manter dinâmica em 2024, beneficiando-se da queda da inflação, com maior contribuição da demanda doméstica e menor destaque das atividades ligadas à exportação, exceto a produção de petróleo. Essa composição da demanda favorecerá o mercado de trabalho e a arrecadação federal, tornando a economia mais robusta, segundo a avaliação do Banco Safra, em seu último boletim macroeconômico de 2023.

O cenário pode ser prejudicado por questões meteorológicas, segundo o Safra, que cita o fenômeno climático El Niño com impacto mais exacerbado na Amazônia e Centro Oeste, o que poderia retirar 0,4 ponto percentual do PIB.

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O crescimento do PIB em 2024 pode ser menos favorável também se a indústria manufatureira doméstica se mostrar vulnerável às compras externas em certos segmentos ou não for capaz de responder efetivamente ao aumento da demanda por bens industriais estimulado pela manutenção do nível de emprego, baixa inflação e expansão do crédito na esteira da queda dos juros.

Nesse caso, um crescimento maior das importações pode se dar em detrimento do crescimento do produto interno bruto, avalia o Banco Safra.

Confira abaixo a íntegra da avaliação do Safra sobre as perspectivas da economia brasileira para 2024

Avaliação do Banco Safra sobre perspectivas do PIB para 2024

“Nesse último Safra Semanal de 2023 divulgamos nossa projeção para o crescimento real do PIB em 2024, discutindo a dinâmica da demanda agregada e a resposta da oferta a esse estímulo. O crescimento do PIB
a preços constantes em 2024 deve ficar próximo a 2,5%.

Do lado da demanda, deverá haver um protagonismo do consumo das famílias, com uma contribuição levemente negativa do setor externo, refletindo um pequeno crescimento das exportações e um maior aumento das importações.

Do lado da oferta, a agricultura se expandirá pouco, enquanto serviços e a indústria deverão suportar o crescimento do PIB, com a possibilidade do crescimento da indústria ultrapassar aquele dos serviços. Um desempenho pior do que o esperado da agricultura ou a falta de capacidade da indústria nacional para responder ao aumento de consumo projetado poderá diminuir a taxa de crescimento real em até 0.5 ponto percentual, levando esse crescimento para perto de 2.0% em 2024.

I. Crescimento do PIB pela Ótica da Demanda

A desinflação continuará a impulsionar a demanda doméstica. Pela ótica da demanda, o PIB brasileiro cresceu em 2023 primordialmente por conta da demanda externa pelas matérias primas brasileiras, notadamente do setor agropecuário e do petróleo e, até certo ponto, do da mineração. A demanda doméstica foi menos proeminente, até pela contração do investimento, ainda que tenha apresentado uma surpresa positiva, decorrente do efeito da deflação de itens da cesta de alimentos e da moderação dos bens industriais no consumo das famílias.

A dinâmica benigna dos preços deveu-se bastante à desinflação mundial e à robustez do real apoiada nas exportações e na política monetária contracionista, que ajudou a segurar os preços domésticos. Com isso, apesar de o consumo a preços correntes ter desacelerado substancialmente, de 14,9% de crescimento nominal em 2022 para 8,1% em 2023 (Gráfico 1), o consumo a preços constantes foi vigoroso, alcançando 3,3% (Gráfico 2).

Assim, enquanto o crescimento real do consumo ficou acima da sua média histórica, o nominal ficou bem abaixo da média correspondente. A diferença entre o ritmo do consumo real e nominal veio da forte desinflação refletida no deflator do consumo e do PIB menor. Essa queda do deflator abriu espaço no orçamento das famílias para, com a mesma renda, poder consumir mais, levando o crescimento do consumo no ano a ser pelo menos o dobro do que era projetado no final de 2022.

O bom comportamento da inflação também será chave para o PIB em 2024, ao dar folga no orçamento das famílias e permitir a continuação do ciclo de cortes de juros pelo Banco Central, o que deverá estimular o crescimento do crédito às famílias e às empresas.

A manutenção do nível do emprego, a continuação da desinflação e a queda de juros impulsionarão o consumo em 2024. Esses movimentos devem compensar a ausência de reajuste do Bolsa Família e de parte do funcionalismo federal e a desaceleração dos dissídios coletivos, que tendem a frear o crescimento do consumo nominal.

A redução da inflação ao consumidor (variação do IPCA) de perto de 4,5% no ano de 2023 para menos de 3,5% em 2024 será chave para o consumo crescer 3,2% em termos reais, mais uma vez acima da média histórica.

O crescimento do consumo de bens manufaturados deve ser importante, já que a redução da taxa de juros e a melhora gradual da concessão de crédito têm efeito mais forte sobre esse tipo de item da cesta do consumidor. Historicamente, os ciclos de redução da taxa de juros são acompanhados pela expansão mais forte das vendas no varejo em relação a dos serviços às famílias (Gráfico 3).

O aumento do consumo e a redução da taxa de juros impulsionarão os investimentos das empresas. A relação histórica entre queda das taxas de juros e aumento da confiança dos empresários é forte, e a relação entre essa e os investimentos das empresas é bastante positiva (Gráfico 4).

O bom desempenho do consumo e a queda dos juros devem, assim, possibilitar que os investimentos em máquinas e equipamentos cresçam 4,8% em relação a 2023. O setor de construção civil apresentará desempenho mais modesto com a estabilização dos lançamentos de imóveis ao longo desse ano (Gráfico 5), em função da escassez do crédito direcionado lastreado na caderneta de poupança, cujos depósitos vêm caindo por pressão da Selic, e do nível ainda relativamente alto desta, que inibe os financiamentos a taxas de mercado.

O setor externo deverá contribuir menos para o crescimento do PIB em 2024. As exportações deverão crescer 1,7% em 2024, após a exuberante expansão de 8,7% nesse ano. A expansão projetada reflete a estabilidade do volume exportado de soja, retração de 8% daquele de milho e expansão de 20% do de petróleo.

A expansão da exportação de petróleo se beneficia da pouca capacidade ociosa no refino doméstico e crescimento persistente da extração do produto no mar e em terra. O volume de importações de bens e serviços deve subir 5,0%, após a queda de 0,7% da média anual em 2023 (Gráfico 6).

A subida se dará em resposta à expansão do consumo de bens manufaturados e investimentos e à recuperação das compras de insumos agrícolas, sem maior pressão na compra de derivados de petróleo.

O resultado da dinâmica descrita acima é um crescimento de 2,7% da demanda doméstica, contra os 1,8% de 2023 (Tabela 1). O crescimento da demanda doméstica será, portanto, um pouco maior do que o do
PIB, também em contraste com 2023, quando o crescimento da demanda externa foi quase três vezes maior do que o do PIB.

II. O crescimento do PIB pela ótica da Oferta

O PIB do setor agropecuário deverá expandir apenas 0,5% em 2024 (Tabela 2). O volume de produção da soja deve se manter estável, apesar do fenômeno do El Niño, com o aumento de produção na Região Sul
compensando a diminuição no Centro Oeste.

Não se repetirá, portanto, o crescimento de 22% na produção da soja verificada em 2023, ainda que no conjunto o volume de produção continue extremamente significativo. Os efeitos adversos do El Niño devem prejudicar a safra de milho e trigo, cujo volume também deve recuar em torno de 8%. Por outro lado, a produção de café, cana de açúcar e pecuária deve crescer.

A demanda por bens, especialmente manufaturados, será beneficiada pela recuperação do consumo de serviços para as famílias em curso nos dois últimos anos, que projeta certa saciedade por esses itens, e pela redução da taxa de juros, dado o papel do financiamento na compra de bens duráveis. Esse movimento deverá beneficiar a indústria de transformação nacional, criando um potencial de crescimento de 2,6% em 2024.

O PIB da Indústria poderá crescer 2,7% no ano que vem. A projeção é amparada por uma modesta expansão da construção civil (+1,6%) e pela entrada de mais plataformas de produção de petróleo, que deve se
refletir no crescimento de 3,6% da indústria extrativa.

O setor de serviços continuará crescendo tendencialmente, apesar da desaceleração da demanda por serviços para as famílias. O dinamismo da indústria também aumentará o valor adicionado do comércio (+2,8%) em função do maior valor dos bens industriais em relação aos serviços para as famílias, mantidas as margens do varejo até agora. A indústria também impulsionará o setor de transportes (Gráfico 7), cujo crescimento será de 2,3%.

A desaceleração dos serviços de informática representa mais uma acomodação após forte crescimento nos anos passados do que um problema estrutural, dada a demanda por esses serviços por parte dos outros setores da economia, até pelo seu caráter indispensável para o aumento da produtividade das empresas, inclusive na agropecuária.

Além disso, a retomada do crédito, de emissões nos mercados de capital e preparativos para o investimento das empresas, inclusive via fusões e aquisições, devem impulsionar a intermediação financeira, que já apresentou forte crescimento em 2023, após vários anos de estagnação (Gráfico 8).

No conjunto, o PIB de Serviços deverá crescer 2,3% em 2024, ritmo menor do que o do crescimento previsto para a indústria no ano que vem, mas próximo do ritmo de 2023.

III. Riscos ao cenário central

Os principais riscos para esse cenário estão na possibilidade de efeitos mais adversos do El Niño sobre o setor agrícola ou um maior vazamento da demanda doméstica via importações, prejudicando a produção doméstica.

Se a safra de soja recuar 5% e a de milho 15%, o PIB da agricultura recuaria cerca de 3,0% e o PIB total teria crescimento real próximo de 2,1% no próximo ano. Esse cenário comporta também alguma pressão adicional nos preços, o que implicaria em maior aperto no orçamento familiar e possivelmente na política monetária, contribuindo por seu lado também para um menor dinamismo do conjunto das atividades econômicas do país.

O segundo risco é a indústria local não conseguir atender com alguma folga a maior demanda por bens manufaturados projetada para o ano que vem. Se a indústria de transformação, que representa 15% do PIB, apresentar crescimento nulo ou negativo, a economia cresceria próximo de 2% apenas.

Essa preocupação deriva da observação de que a indústria de transformação apresentou fraco desempenho nos últimos oito anos (Gráfico 9), o que tende a deteriorar o real valor da sua capacidade instalada. Assim, apesar do índice de utilização da capacidade da indústria estar abaixo do patamar que vigorava no período de expansão da economia até 2014 (Gráfico 10), aquele foi um período inflacionário e não é sabido hoje o quanto a atual folga é real.

Efetivamente, o índice de ocupação está hoje sensivelmente acima do seu valor em 2019 e a rápida subida de preços seguindo-se à alta da demanda após a disponibilização das vacinas contra a covid-19 em 2021 aponta para a possibilidade de pouca elasticidade na oferta doméstica nos atuais níveis de disponibilidade de capacidade.

Assinale-se que apenas os setores de máquinas e equipamentos, derivados do petróleo, celulose e papel e bebidas apresentam hoje nível de produção acima do observado antes da pandemia. Os outros setores apresentam persistente declínio na produção, e provavelmente de forma mais acentuada no seu valor agregado, dada a tendência de aumento do conteúdo importado em diversos segmentos da indústria manufatureira no Brasil (Gráfico 11).

Nesse contexto nota-se, aliás, uma rápida subida da penetração de produtos importados nos segmentos de metalurgia e químicos da indústria brasileira, com o aumento do volume importado de laminados de ferro
e aço em 42% nos últimos doze meses.

O setor automobilístico, ilustra bem esses riscos, tanto no que se refere à atonia das vendas e talvez margens de expansão limitadas do parque produtivo, quanto ao aumento do conteúdo importado. A falta de perspectiva de estímulo aos veículos leves híbridos poderá acentuar esse problema, com eventual direcionamento da demanda para importados tecnologicamente mais avançados, mesmo que as restrições ao crédito para a compra de veículos sejam relaxadas nos próximos meses.

A resposta do setor manufatureiro ao aumento da demanda dependerá, em certa medida, das expectativas de que esse aumento se mostre sustentável. Em uma perspectiva sustentável, haveria incentivos para expansão da capacidade instalada e modernização dos produtos ofertados, facilitando um crescimento não inflacionário.

Essa perspectiva de sustentabilidade dependerá da percepção da existência de vetores de crescimento bem estabelecidos, dado que a taxa de juros deve encontrar seu piso perto do final de 2024, não podendo por si só garantir a expansão do consumo e da atividade nos anos futuros.

Nesse sentido, a agenda de melhoras regulatórias na esteira da reforma tributária e crescimento em torno da transição para uma economia de baixo carbono e competitiva terá grande importância para o setor industrial, a agricultura e o setor de serviços, inclusive na geração de energia elétrica. Ela poderá estimular o investimento, reforçando a entrada de capital e a abertura de mercados internacionais para produtos brasileiros inovadores, com reflexos positivos para o câmbio, a inflação, a taxa de juros e o emprego, especialmente na segunda metade da década.

Portanto, a atividade econômica brasileira deve se manter dinâmica em 2024, beneficiando-se da queda da inflação, com maior contribuição da demanda doméstica e menor destaque das atividades ligadas à exportação, exceto a produção de petróleo. Essa composição da demanda favorecerá o mercado de trabalho e a arrecadação federal, tornando a economia mais robusta.

Esse cenário pode ser prejudicado por uma meteorologia pior do que estimada, na esteira de um El Niño com impacto mais exacerbado na Amazônia e Centro Oeste, o que pode retirar 0,4 ponto percentual do PIB.

O crescimento do PIB em 2024 pode ser menos favorável também se a indústria manufatureira doméstica se mostrar vulnerável às compras externas em certos segmentos ou não for capaz de responder efetivamente ao aumento da demanda por bens industriais estimulado pela manutenção do nível de emprego, baixa inflação e expansão do crédito na esteira da queda dos juros. Nesse caso, um crescimento maior das importações pode se dar em detrimento do crescimento do produto interno bruto”.

Análise macroeconômica do banco Safra sobre a economia brasileira em 2024.

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