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Após alívio na inflação, juros podem surpreender positivamente, diz Levy

No programa Conjuntura Safra de janeiro, o diretor de Estratégia Econômica do Banco Safra, Joaquim Levy, analisa as perspectivas para 2023

Joaquim Levy

Volta dos impostos sobre os combustíveis preocupa, mas no geral as condições são favoráveis para a política monetária, afirma Joaquim Levy | Foto: Divulgação

A atividade econômica no Brasil em 2023 começa muito dependente das chuvas, e a agricultura deve ter um bom desempenho e favorecer o crescimento econômico. Apesar da seca no Rio Grande do Sul, a produção agrícola nacional deve crescer dois dígitos. Segundo Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados no Banco Safra, Nas demais atividades, o consumo vem caindo com as altas taxas de juros, e a inadimplência é alta.

No programa Conjuntura Safra de janeiro, Levy avalia as condições da economia brasileira e também dos Estados Unidos, Europa e China. “2023 será um ano com desafios, com algumas dúvidas no setor monetário, mas tudo indica uma dinâmica de juros cautelosamente otimista. Podemos ter algumas surpresas positivas ao longo do ano”, comenta Levy, ao falar da inflação e dos juros no Brasil.

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Segundo ele, o emprego no Brasil vem desacelerando e a demanda interna está franca, após a expansão dos gastos do governo no ano passado, quando o governo gastou muito e criou despesas de caráter permanente.

“O desafio do governo é administrar as despesas de cerca de R$ 200 bilhões previstas no Orçamento e há uma discussão a ser feita sobre a questão fiscal, que precisa superar algumas questões técnicas e outras políticas”, comenta. Nas próximas semanas, conforme o encaminhamento, o mercado pode dar uma sinalização positiva, além da que já deu até o momento, o que poderá favorecer a Bolsa de Valores, segundo ele.

Sem tanta pressão fiscal, o Banco Central deve estar atento ao câmbio, onde o dólar deve continuar ao redor dos R$ 5. “O que preocupa é a possibilidade de volta dos impostos sobre os combustíveis, mas no geral as condições são favoráveis para a política monetária, após a inflação mostrar um certo alívio no fim do ano”, comenta Joaquim Levy.

Desaceleração da economia chinesa em 2023

O ano começa com o impacto da desaceleração da economia chinesa, revelada da divulgação do resultado do PIB de 2022, que indicou uma expansão de 3% na segunda maior economia do mundo.
Para Joaquim Levy, a desaceleração da China era prevista diante do longo período de isolamento social, mas nos últimos meses a política de covid zero foi revertida, trazendo a expectativa de recuperação a partir de agora.

Levy destaca medidas de incentivo anunciadas pelo governo chinês, como o apoio ao mercado imobiliário. Além disso, ele lembra que durante o período de isolamento social, a poupança das famílias chinesas aumentou. Segundo dados do Banco Safra, em quase três anos de confinamento social a poupança extra das famílias chinesas chega a meio trilhão de dólares. Este volume de recursos pode ajudar a impulsionar a economia quando houver recuperação da confiança.

Essa poupança extra deve impulsionar o setor imobiliário e também pode beneficiar o mercado de capitais, dando impulso ao mercado financeiro em geral. “As pessoas gostam de entrar na bolsa quando ela está subindo, e esse vai ser um ano que pode trazer uma mudança de comportamento importante”, comenta Levy.

Segundo ele, as exportações da China não tem tantas perspectivas de crescimento mais acelerado, e os investimentos no setor imobiliário e infraestrutura também não devem ter grande destaque.
“A ideia que o governo chinês tinha lá em 2020 de diminuir a participação e o peso da construção civil no PIB está evoluindo. Vamos ver quais serão as outras oportunidades de expansão da atividade econômica na China, particularmente no setor de serviços, onde tem muita coisa ainda a ser feita”, diz Levy.

Para ele, 2023 vai ser um ano muito interessante, porque marcará o começo da reorganização atividade econômica da China, possivelmente com indícios de uma mudança estrutural.

Aumento de juros e transição climática na Europa

Na Europa, a principal novidade é a climática, segundo Levy. “O inverno europeu tem sido muito suave, podemos perceber a falta de neve na tradicional reunião do Fórum Econômico Mundial em Davos”, comenta. “Isso significa um grande alívio pra economia, porque toda aquela preocupação com a falta de gás natural por causa da guerra na Ucrânia se esvaneceu, o preço do gás natural caiu, dando um grande alívio para as famílias e empresas”.

Embora não se possa minimizar o impacto da guerra na economia europeia, os setores com uso menos intensivo de energia estão indo relativamente bem, destaca Levy. Mas os setores mais intensivos estão encolhendo, o que afeta principalmente a indústria da Alemanha. “O custo de energia vai subir na Europa, e a consequências nos próximos anos será uma reorganização bastante cara, com risco de maior pressão inflacionária”. A Europa deve continuar a aumentar os juros, o que tem impacto na valorização do euro, destaca Levy.

Boas notícias nos Estados Unidos

A economia americana segue com boas notícias que trazem otimismo para o mercado financeiro, comenta Joaquim Levy. A inflação vem caindo com a queda dos preços da energia, diante da desaceleração mundial. “O preço das commodities e da energia estão controlados, houve deflação no CPI”.

Segundo Levy, é provável que o Federal Reserve desacelere a alta dos juros daqui para a frente. Assim, o núcleo da inflação poderia terminar 2023 em cerca de 3% e cair para 2,5% em 2024. O processo é semelhante ao que ocorre no Brasil, segundo Levy.

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