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Cais do Valongo, Patrimônio Mundial da Humanidade, é reaberto

Revelado, em 2011, durante as obras do Porto Maravilha, o Cais foi construído em 1811 pela Intendência Geral de Polícia da Corte do Rio de Janeiro

Cais do Valongo

As obras de revitalização do espaço receberam financiamento de R$ 2 milhões do BNDES | Foto: divulgação-Iphan

O sítio arqueológico do Cais do Valongo, no centro do Rio, foi reinaugurado hoje. As obras de revitalização do espaço receberam financiamento de R$ 2 milhões do BNDES, que participou da cerimônia com a Prefeitura do Rio e representantes da sociedade civil. O local foi o principal porto de desembarque de escravizados no continente americano e estima-se que tenha sido a porta de entrada de cerca de 1 milhão de africanos no país.

Localizado na área conhecida como Pequena África, que compreende uma parte da zona portuária habitada por pessoas escravizadas durante o século XIX, os vestígios do Cais do Valongo foram descobertos durante as obras do Porto Maravilha, em 2011. Em seguida, o espaço foi cadastrado como sítio arqueológico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco em 2017.

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O projeto intitulado “Cais do Valongo: socialização e valorização do Sítio Arqueológico” realizou obras de valorização do bem, que incluíram a instalação de sinalização do local, módulo expositivo e substituição do guarda-corpo que já existia. Para Eduardo Paes, a entrega é a materialização do trabalho ao longo dos anos e evidencia o sucesso do plano de transformar aquela região, uma das principais bandeiras urbanísticas do prefeito.

Além de Paes e de representantes do comitê gestor do projeto, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, participou da cerimônia – e, como tem sido habitual em agendas com o prefeito, vestiu um chapéu panamá. Essa fase das obras foi patrocinada pela empresa chinesa State Grid Brazil Holding, com financiamento do banco estatal brasileiro. O Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) e a embaixada dos Estados Unidos também fizeram parte da revitalização.

No Valongo, Mercadante anunciou as instituições selecionadas para o Edital Viva Pequena África, que receberão R$ 10 milhões para a execução de projetos culturais e de valorização do povo negro. “Estamos profundamente comprometidos com esse projeto”, disse o presidente. “Um milhão de pessoas passaram aqui acorrentadas, longe das suas famílias, e essa memória não pode ser esquecida. Numa sociedade que ainda é estruturalmente racista, precisamos fazer esse enfrentamento.”

A iniciativa se insere em um plano mais amplo de financiamento do BNDES para o território. Ao lado do sítio arqueológico, está prevista ainda a inauguração de um museu voltado para a história da população negra no país. O espaço, que tende a ficar pronto em 2026, será montado dentro de um prédio já existente, que foi idealizado pelo engenheiro negro e abolicionista André Rebouças (1838-1898).

Em um cenário historicamente hostil e de discriminação da população negra no país, valorizar espaços como o Cais do Valongo, que conta parte dessa história, marca a importante relação entre o Brasil e a África e ajuda a preservar a memória dentro e fora do Brasil, observou a coordenadora de cultura da Unesco, Isabel de Paula.

“Esse dia é da maior importância do ponto de vista da Unesco”, afirmou. “Estamos trabalhando conjuntamente para que essa memória não se perca.”

Cais do Valongo tem importância histórica

Principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas Américas, o Cais do Valongo, localizado no Rio de Janeiro (RJ), passou a integrar Lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1º de março de 2017.

O Brasil recebeu perto de quatro milhões de escravos, durante os mais de três séculos de duração do regime escravagista. Pelo Cais do Valongo, na região portuária da cidade, passou cerca de um milhão de africanos escravizados em cerca de 40 anos, o que o tornou o maior porto receptor de escravos do mundo.

A inclusão nessa Lista representa o reconhecimento do seu valor universal excepcional, como memória da violência contra a Humanidade representada pela escravidão, e de resistência, liberdade e herança, fortalecendo as responsabilidades históricas, não só do Estado brasileiro, como de todos os países membros da Unesco. É, ainda, o reconhecimento da inestimável contribuição dos africanos e seus descendentes à formação e desenvolvimento cultural, econômico e social do Brasil e do continente americano.

Revelado, em 2011, durante as obras do Porto Maravilha, que abrange uma área de cinco milhões de metros quadrados, o Cais foi construído em 1811 pela Intendência Geral de Polícia da Corte do Rio de Janeiro. O objetivo era retirar da Rua Direita, atual Rua Primeiro de Março, o desembarque e comércio de africanos escravizados que eram levados para as plantações de café, fumo e açúcar do interior do Estado e de outras regiões do Brasil. Os que ficavam na capital, geralmente eram os escravos domésticos ou aqueles usados como força de trabalho nas obras públicas.

Em 2012, a prefeitura do Rio de janeiro acatou a sugestão das Organizações dos Movimentos Negros e, em julho do mesmo ano, transformou o espaço em monumento preservado e aberto à visitação pública.

O Cais do Valongo passou a integrar o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, que estabelece marcos da cultura afro-brasileira na região portuária, ao lado do Jardim Suspenso do Valongo, Largo do Depósito, Pedra do Sal, Centro Cultural José Bonifácio e Cemitério dos Pretos Novos.

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