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Consumo fraco derruba inflação e facilita relaxamento dos juros

PIB deve crescer 2,1% em tem 2023, puxado pelo agronegócio, e demais setores não terão crescimento significativo, segundo relatório do Banco Safra

Construção em são Paulo

O crescimento do PIB em 2023 deverá ser mais alto do que o previsto no começo do ano, excedendo 2% em comparação a 2022 | Foto: Getty Images

O PIB brasileiro deve crescer 2,1% em termos reais em 2023, puxado pelo setor agropecuário. A leitura do PIB do primeiro trimestre indicou um crescimento do valor agregado pelo setor agropecuário de 21,6% em relação ao quarto trimestre do ano passado, com ajuste sazonal. Com base nesse resultado e nas projeções de safra do IBGE para o ano cheio, incluindo a expansão de 25% para a soja e 9% para o milho, o Banco Safra estima em relatório de macroeconomia que o PIB agro apresentará crescimento real de 13% em 2023. Esse aumento da oferta tem contribuído para a queda da inflação dos alimentos capturada no IPCA.

Os demais setores produtivos deverão ter pouco crescimento ao longo do ano, ainda que com nível de atividade acima da média de 2022. Esse fenômeno estatístico, chamado de carrego, decorre do nível de atividade em 2023 estar próximo ao do final de 2022, que foi maior do que o do início daquele ano. Assim, comparando a média do nível de atividade em 2023 com a média em 2022, o setor de serviços deve subir 1,8%, ainda que o crescimento ano contra ano em finais de 2023 deva ser de apenas 1,0%.

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Esse crescimento tem sido impulsionado pelos serviços de transporte e escoamento de grãos pelo agronegócio durante o primeiro semestre, enquanto os serviços para as famílias têm estagnado e ainda não atingiram o nível pré-pandemia. A indústria deverá crescer apenas 0,3% em relação a 2022, já que teve uma pequena retração nesse semestre e pouco crescimento também em 2022, não se beneficiando de nenhum carrego expressivo. O comportamento de serviços e indústria reflete uma demanda doméstica que deverá crescer apenas 0,6% nesse ano, apesar do carrego dos serviços.

Do lado da demanda, apenas o setor exportador deverá apresentar crescimento relevante, impulsionado pelas safras recordes de grãos. O consumo das famílias (C) e da administração pública (G) deve crescer apenas 1,5% e 1,2%, respectivamente (Tabela 1). Os investimentos (I) – formação bruta de capital fixo – deverão variar -2,7%, devido ao alto patamar do juro real e ao nível de confiança dos empresários e da indústria abaixo da média histórica. As exportações, por seu lado, devem crescer 7,2%, enquanto as importações mantêm-se estagnadas. O bom saldo comercial resultante da exportação forte e demanda doméstica fraca tem ajudado a estabilidade do câmbio, favorecendo a queda da inflação.

Safra forte dá impulso do PIB de 2023

O PIB em 2023 já está em grande parte definido, em função da excelente safra. A estabilidade do nível de atividade nos setores de serviços e da indústria deverá continuar nos próximos meses, levando o crescimento total do PIB a 2,1% em relação a 2022, com pouca margem de surpresa, salvo algum evento muito negativo associado à “safrinha” a ser colhida até julho.

A manutenção do nível da demanda doméstica perto daqueles do segundo semestre de 2022 reflete a combinação da permanência do aumento das transferências de renda para as famílias, o ganho de poder de compra do consumidor em função da queda da inflação mundial, inclusive dos combustíveis, e um nível de emprego relativamente alto, com os freios da política monetária no Brasil. Essa estabilidade não parece vulnerável a curto prazo, reduzindo o espaço para surpresas e permitindo a contribuição do “carrego” ao PIB, e.g., no setor de serviços.

O crescimento do PIB em 2023 deverá ser mais alto do que o previsto no começo do ano, excedendo 2% em comparação a 2022. Esse resultado deve-se à excelente safra de grãos, contrabalanceada pela demanda doméstica fraca na esteira do aperto do crédito para as famílias como parte do aperto monetário dos últimos trimestres, e apesar do aumento do poder de compra da população em função do processo desinflacionário, do nível relativamente satisfatório do emprego e da manutenção das transferências públicas no nível do segundo semestre de 2022.

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