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Copom inicia redução dos juros com corte de 0,50 pontos na taxa Selic

Comitê de Política Monetária do Banco Central inicia ciclo de corte dos juros com redução da taxa Selic de 13,75% para 13,25% ao ano; decisão não foi unânime

Banco Central

O corte decidido nesta quarta-feira deve ser o primeiro de uma série nas próximas reuniões do Copom | Foto: Getty Images

A taxa básica de juros foi reduzida em 0,50 pontos base, por decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Com isso, a taxa Selic passa a ser de 13,25% ao ano. A taxa estava fixada há seis meses em 13,75% ao ano, o maior patamar desde dezembro de 2016, como estratégia do Banco Central para conter a inflação.

O corte decidido nesta quarta-feira deve ser o primeiro de uma série nas próximas reuniões do Copom, realizadas a cada 45 dias. O início do afrouxamento monetário a partir de agora deve intensificar a valorização das ações, acelerando a entrada de capital estrangeiro na Bolsa brasileira. “O Copom avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros para 13,50%, mas considerou ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual nesta reunião em função da melhora do quadro inflacionário”, diz o comunicado do Copom.

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Votaram a favor do corte de 0,50 ponto percentual o presidente do Banco Central Roberto de Oliveira Campos Neto e os diretores Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Gabriel Muricca Galípolo e Otávio Ribeiro Damaso. 

A proposta derrotada de um corte de apenas 0,25 ponto percentual foi defendida pelos diretores Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura e Renato Dias de Brito Gomes. 

Desde abril, com a proximidades da queda dos juros, a Bolsa voltou a subir, com o “fechamento” da curva de juros futuros. As ações mais favorecidas são justamente as que se desvalorizaram com os juros altos: small caps, tecnologia, incorporadoras e varejo, entre outras.

O Ibovespa teve melhor desempenho no primeiro semestre em três anos. O índice avançou 7,61%, aos 118.087 pontos. Junho foi o melhor mês do ano até agora, com ganhos de 9%. Em julho, o índice da Bolsa brasileira avançou mais 3,27%

Segundo avaliação do Banco Safra, se a taxa Selic cair para 9%, a Bolsa tem um potencial de valorização de cerca de 30% em 12 meses. Para aproveitar a tendência, a recomendação dos especialistas é diversificar as aplicações em renda variável pensando no longo prazo.

A queda dos indicadores de inflação já permite a redução dos juros, mas a dúvida é sobre a velocidade de queda nos próximos meses. Na ata da última reunião, em junho, o Copom sinalizou para a decisão de hoje o início de “um processo parcimonioso” de afrouxamento monetário, tendo em vista a desinflação, com impacto sobre expectativas inflacionárias.

Desde a última reunião, os fundamentos da economia brasileira melhoraram e o mercado passou a acreditar em velocidade maior de queda dos juros.

Projetos importantes avançaram no Congresso, como a reforma tributária, o real se valorizou frente ao dólar e agências de risco melhoraram a nota de crédito do Brasil.

Em agosto de 2022, a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulava 8,73% em 12 meses. Em junho passado, o índice apontou deflação mensal de 0,08%, e a taxa acumulada em 12 meses caiu a 3,16% – abaixo da meta de inflação do Banco Central, de 3,25% para 2023.

Íntegra do comunicado do Copom sobre a redução da taxa Selic

“O ambiente externo mostra-se incerto, com alguma desinflação sendo observada na margem, mas em um ambiente marcado por núcleos de inflação ainda elevados e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue consistente com um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. Não obstante o arrefecimento dos índices de inflação cheia ao consumidor, antecipa-se uma elevação da inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo semestre. As medidas mais recentes de inflação subjacente apresentaram queda, mas ainda se situam acima da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus recuaram e encontram-se em torno de 4,8%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,9% em 2023, 3,4% em 2024 e 3,0% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,4% em 2023, 4,6% em 2024 e 3,5% em 2025.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.  

O Comitê avalia que a melhora do quadro inflacionário, refletindo em parte os impactos defasados da política monetária, aliada à queda das expectativas de inflação para prazos mais longos, após decisão recente do Conselho Monetário Nacional sobre a meta para a inflação, permitiram acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 13,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau menor, o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

O Copom avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros para 13,50%, mas considerou ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual nesta reunião em função da melhora do quadro inflacionário, reforçando, no entanto, o firme objetivo de manter uma política monetária contracionista para a reancoragem das expectativas e a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante. A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Gabriel Muricca Galípolo e Otávio Ribeiro Damaso.  Votaram por uma redução de 0,25 ponto percentual os seguintes membros: Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura e Renato Dias de Brito Gomes. 

* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,75, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2023, de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio é obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.”

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