Desaceleração global derruba juros e garante PIB de 2,5% no Brasil
Arrefecimento da atividade global, o fortalecimento das contas externas e a desaceleração de custos reduzem a inflação e favorecem o corte de juros, destaca o Safra Report
08/02/2024A atividade mundial está desacelerando e os principais bancos centrais devem iniciar um ciclo de redução da taxa de juros até meados deste ano. O aperto monetário realizado ao longo dos últimos dois anos colaborou para o arrefecimento da demanda de bens manufaturados. Consequentemente, a produção industrial global expandiu apenas 0,7% nos doze meses encerrados em novembro passado, abaixo da média anterior à pandemia em torno de 2,5% ao ano. Além disso, na China, a taxa de poupança pessoal voltou a subir no último trimestre com a queda da confiança do consumidor, o que tem prejudicado a demanda doméstica e as encomendas de fábrica.
Nesse ambiente, a estabilização dos preços das commodities e o ajuste do mercado de trabalho têm colaborado para a redução da inflação mundial, o que levará o Fed (banco central americano) e o ECB (banco central europeu) a iniciarem o ciclo de corte de juros no
próximo trimestre. Isso, por sua vez, favorece a liquidez para países emergentes.
A atividade econômica brasileira apresentou crescimento próximo de 3,0% em 2023, impulsionada pelos setores agropecuário e extrativo. A forte expansão da safra de grãos, especialmente soja e milho, viabilizou o maior aumento do PIB agropecuário da atual série histórica
iniciada em 1996, enquanto o forte crescimento da produção de petróleo e de minério de ferro permitiu a expansão da oferta extrativa mineral acima de 7%.
O consumo das famílias permaneceu robusto ao longo do ano passado com a resiliência do mercado de trabalho, a manutenção do valor para o programa Bolsa Família estipulado em meados de 2022 e, especialmente, a redução da inflação.
Por outro lado, o elevado nível da taxa de juros prejudicou as decisões de investimentos das empresas e, consequentemente, a demanda
doméstica apresentou desempenho moderado.
O processo desinflacionário continuará beneficiando o poder de compra das famílias neste ano, enquanto a queda da taxa Selic permitirá uma aceleração gradual da concessão de crédito, sustentando o consumo pessoal e favorecendo os investimentos das empresas.
Safra projeta PIB de 2,5% em 2024
Diante do cenário global e da economia brasileira, Banco Safra estima que o PIB real apresentará expansão de 2,5% em 2024.
As contas externas permanecem saudáveis: o saldo comercial atingiu superávit recorde de US$ 99 bilhões no ano passado, favorecido pelas exportações de grãos, petróleo e minério de ferro. Por outro lado, a expansão moderada da demanda interna e o patamar desvalorizado da taxa de câmbio real ajudaram a arrefecer as importações.
O Safra acredita que o saldo comercial continuará robusto neste ano, em torno de US$ 86 bilhões, especialmente influenciada pela expansão do setor petrolífero.
Inflação e situação fiscal no Brasil
O IPCA passou de 5,8% em 2022 para 4,6% em 2023, incluindo aumento de impostos e tarifas sobre combustíveis e energia elétrica. A queda do preço das commodities em moeda local contribuiu para a redução de 5,0% dos preços no atacado, com reflexos ao consumidor.
A inflação de bens industrializados passou de 9,5% em 2022 para apenas 1,1% em 2023, incluindo a deflação de 0,4% nos duráveis. Além disso, o aumento da oferta agrícola permitiu que os preços de alimentos no domicílio recuassem 0,5% no ano passado.
Nosso indicador que mensura a variação dos custos de produção das empresas brasileiras permanece bem-comportado, o que suporta nossa expectativa de que o IPCA caminhará para 3,5% nesse ano, já incluindo novamente o aumento de impostos e impactos adversos do evento climático El Niño.
Nesse ambiente, o Banco Central do Brasil continuará o ciclo de afrouxamento monetário e levará a taxa Selic para, pelo menos, 8,75% ao ano nesse ano, o que beneficiará o mercado de crédito e a demanda doméstica ao longo dos próximos trimestres.
No âmbito fiscal, o resultado primário do setor público consolidado deve ter apresentado déficit de 2,3% do PIB em 2023, incluindo pagamento de precatórios e compensações a Estados de R$ 107 bilhões em dezembro.
Excluindo esses dois efeitos pontuais, o déficit fiscal se aproximou de 1,1% do PIB. O arcabouço fiscal implicará em ajuste gradual das contas públicas nos próximos anos, mantendo a nossa solvência fiscal, sendo que estimamos déficit de 0,6% do PIB em 2024.
Portanto, o arrefecimento da atividade mundial, o fortalecimento das contas externas e a desaceleração do custo trabalhista contribuem para a redução da inflação brasileira.
O Banco Central do Brasil deve manter o ciclo de redução da taxa Selic e suportar a recuperação da demanda doméstica, incluindo os investimentos em máquinas e equipamentos.
Íntegra do Safra Report com recomendações de investimentos para fevereiro.