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Dia do Mar: plástico biodegradável feito de cana vira adubo após três meses

Bioplástico pode atenuar danos ambientais no Brasil, país que produz mais de 11 milhões de toneladas de lixo plástico por ano e recicla só 145 mil

Bioplástico

Empresário brasileiro Kim Fabri investiu no bioplástico após visitar praia nordestina cheia de lixo plástico que demora séculos para desaparecer | Foto: Getty Images

O Dia Nacional do Mar, comemorado no Brasil em 12 de outubro, chama atenção para um problema crescente: a poluição dos biomas marinhos, que tem o plástico como um dos principais causadores. Dados da ONU apontam que cerca de 80% do plástico utilizado no planeta vai parar nos oceanos. São cerca de 13 milhões de toneladas por ano, volume que deve triplicar até 2040. Mantido esse ritmo, é possível que até 2050 exista mais plástico do que peixes no oceano, de acordo com projeção feita pela Fundação Ellen Macarthur. Não há uma solução única para resolver esse problema, mas o conjunto de alternativas já existe.

Uma das formas de se combater esse problema é a redução do uso de plásticos, aliada à reciclagem. Mas ela não é 100% eficaz, tanto quando o assunto é coleta quanto em relação ao processamento dos materiais. Apenas 4% dos resíduos sólidos que poderiam ser reciclados são enviados para esse processo no Brasil, segundo dados da International Solid Waste Association (ISWA). Faltam usinas de compostagem e redes de coleta mais amplas, além de políticas que conscientizem a população sobre a necessidade de separar corretamente o lixo.

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O Brasil produz mais de 11 milhões de toneladas de lixo plástico por ano, de acordo com o Fundo Mundial para a Natureza (WFF) – desse montante, somente 145 mil toneladas são recicladas. Com objetivo de mudar essa realidade e fomentar o consumo consciente, a greentech brasileira Earth Renewable Technologies (ERT) desenvolveu um bioplástico 100% biodegradável e compostável que, ao fim da vida útil, se torna adubo em cerca de 180 dias – a título de comparação, o plástico comum leva mais de 200 anos para sumir por completo.

Desenvolvida em escala industrial, essa resina é feita de poliácido lático (também conhecido como PLA), obtido pela fermentação da cana-de-açúcar. A tecnologia, patenteada e desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Clemson, na Carolina do Sul, nos Estados Unidos, surgiu com a intenção de trazer uma alternativa sustentável para a substituição do plástico comum. No início, o foco era apenas no desenvolvimento de pesquisas laboratoriais. Foi em 2017 que o projeto passou a ter prospecção comercial, quando o empresário brasileiro Kim Gurtensten Fabri se mudou para os Estados Unidos, conheceu o produto ainda no laboratório e optou por investir no negócio.

Lixo plástico em praia do Nordeste inspirou criação do bioplástico

“Tive a experiência de andar em uma praia cheia de lixo uma vez no Nordeste brasileiro, que acumulava inclusive materiais que se dizem sustentáveis, como copos de papel que, na verdade, usam películas de plástico”, conta Fabri. “Quando me deparei com o bioplástico compostável, vi que ali havia um comprovado potencial de transformação”, conta Fabri.

Ainda nos EUA, a ERT, motivada pela demanda do mercado local no setor de cannabis, criou seu primeiro produto usando a fibra da planta na mistura com o PLA (poliácido lático). A partir dessa iniciativa, foram prospectadas inúmeras possibilidades de uso de compostos orgânicos para materializar um bioplástico que fosse útil em diferentes aplicações.

Motivado pelo desejo de melhorar seu país, Fabri trouxe a fábrica para o Brasil em 2021, e inaugurou a sua primeira fábrica em Curitiba, mudando gradativamente o mercado de bioplásticos no país. Atuando no mercado B2B, a greentech possui parceria com transformadores de plástico, como Embalixo, Baviplast e Perfectta. Os produtos finais já estão nas mãos dos consumidores, sob a forma de sacolas plásticas utilizadas para entregas do aplicativo iFood, da lavanderia 5aséc e Havaianas, entre outras marcas.

No ano passado, a empresa levantou R$ 50 milhões com clientes da XP Private e sócios da corretora e, em 2023, captou R$ 32 milhões com a Positivo Tecnologia. O aporte impulsiona seu plano de expansão, que inclui a construção de uma nova fábrica em Manaus, prevista para entrar em operação em janeiro de 2024.

“Identificamos, tanto no mercado nacional quanto no do exterior, um potencial enorme para mudar um padrão de consumo. O planeta não suporta mais o impacto da poluição do polímero comum, e muito menos o consumidor de receber produtos “pintados de verde” afirma Fabri, que também é o CEO da ERT.

Já Gabriela Gugelmin, diretora de estratégia e sustentabilidade da empresa, destaca o enorme potencial de uso da matéria-prima, principalmente como alternativa a produtos que não permitem destinação sustentável. “O bioplástico com fim compostável é a solução ideal para a substituição de plásticos de uso único, como sacolas de supermercado, copos, pratos e talheres descartáveis, que não contam com uma cadeia de reciclagem apropriada e, portanto, não são reaproveitados”, explica.

Bioplástico é 100% sustentável

Hoje, é impossível substituir totalmente o plástico. Isso porque mesmo alternativas fabricadas em papel, como canudos e embalagens de comida, podem conter uma película plástica de impermeabilização. Para esses produtos de uso único, o bioplástico compostável surge como alternativa 100% sustentável, pois vira adubo em até 180 dias e não gera microplásticos.

“O problema do excesso de lixo e da poluição climática, inclusive nos mares, não será resolvido com apenas uma solução. Para encontrarmos a saída mais apropriada é preciso levar em consideração os produtos que geram a poluição e seu uso. O bioplástico com fim compostável é a solução ideal para plásticos de uso único, como sacolas de supermercado e copos, pratinhos e talheres descartáveis, que não contam com uma cadeia de reciclagem apropriada e, portanto, não são reaproveitados”, afirma Gabriela Gugelmin, diretora da sustentabilidade da ERT, empresa pioneira na produção do bioplástico no Brasil.

Hoje, o bioplástico chega ao consumidor sob a forma de sacos de lixo, sacolas de supermercado, frascos, embalagens e descartáveis, como copos, canudos, talheres e pratos. A ERT, por exemplo, possui parceria com transformadores de plástico, como Embalixo, Baviplast e Perfectta. Além disso, sua matéria-prima está presente nas sacolas plásticas utilizadas para entregas do aplicativo iFood e nas embalagens da lavanderia 5aséc, entre outras marcas.

Gabriela destacada ainda que tanto no Brasil quanto no cenário internacional há um enorme potencial de crescimento desse mercado. “Existe uma demanda crescente por alternativas sustentáveis. O planeta não suporta mais o impacto da poluição do plástico comum”, completa.

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