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Excesso de poupança derruba inflação e facilita trabalho do Banco Central

Produção nacional cresce acima da demanda interna, balança comercial bate recorde e ajuda a baixar a inflação, o que deve permitir a queda dos juros para 8,75% em 2024

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As exportações subiram 17%, impulsionadas por petróleo, minério de ferro, açúcar e soja. Enquanto isso, as importações pouco se mexeram | Foto: Getty Images

A balança comercial acumulou superávit inédito de US$ 11,9 bilhões no primeiro bimestre deste ano, substancialmente acima dos US$ 4,8 bilhões no mesmo período do ano passado e da média de US$ 2,2 bilhões dos últimos 5 anos. As exportações subiram 17%, impulsionadas por petróleo, minério de ferro, açúcar e soja. Enquanto isso, as importações pouco se mexeram.

A expansão do saldo comercial desde o início do ano passado tem sido acompanhada de uma significativa diminuição do déficit em transações correntes. Essa conta apresentou, ajustada para efeitos sazonais, ligeiro superávit nos últimos dois meses. No acumulado em doze meses, apresentou déficit de 1,1% do PIB, o melhor patamar desde 2008 e em forte contraste com déficit de até 4% do PIB em certos períodos desde lá.

Essa melhora das contas externas reflete a expansão da capacidade de oferta da economia brasileira, especialmente em commodities agrícolas e energéticas. Além disso, evidencia que a demanda doméstica não acompanhou o crescimento da produção, facilitando o superávit comercial.

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Esse superávit, com demanda fraca, auxilia o controle inflacionário, até pela ajuda que teve da queda dos preços internacionais de produtos
industrializados, inclusive intermediários, como o aço.

A conta de transações correntes também reflete a diferença entre a taxa de investimento e a taxa de poupança do país. Ao longo do ano passado, a elevada taxa de juros contribuiu para a retração da Formação Bruta de Capital Fixo. Por outro lado, as análises do Banco Safra capturaram aumento da poupança das famílias ao longo do ano passado, já que a expansão de 8% do consumo nominal foi sensivelmente inferior ao ritmo de crescimento da massa de renda nominal, de 12%.

Essa análise foi corroborada pela divulgação das Contas Nacionais do quarto trimestre do ano passado, quando a poupança nacional subiu para 16,7% do PIB e a formação bruta de capital fixo caiu para 15,9% do PIB, ambas com ajuste sazonal.

O excesso de poupança nacional em relação aos investimentos significa que exportamos a parte não utilizada da nossa poupança ao exterior, em outras palavras, ajudamos a financiar as importações de outros países no final do ano passado. Essa discrepância evidencia a existência de recursos financeiros que poderiam ser destinados aos investimentos.

A timidez dos investimentos privados é a grande incógnita de 2024. Apesar disso, alguns sinais encorajadores foram dados pela pequena expansão da fabricação de bens de capital registrada na mais atual pesquisa mensal do IBGE sobre a indústria, e pelo alento que o setor de construção civil tem encontrado em fontes de financiamento subnacionais, como programas de casa popular financiados por estados.

O impacto no investimento e nas importações dos recentes anúncios no setor automobilístico não deve ser capturado nas contas nacionais imediatamente. As expectativas de investimentos no setor de energia também continuam moderadas, em vista do excesso de oferta no curto prazo e apesar de numerosos projetos de biometano e outras fontes de biomassa.

A aceleração do investimento no setor de transportes é ainda potencial, dependendo da disposição dos principais operadores ferroviários e da definição das alternativas entre alguns portos do Atlântico, assim como do sucesso das renegociações e licitações de rodovias federais planejadas para o primeiro semestre; no caso das licitações, o impacto no investimento deve se dar somente ao longo de 2024.

Portanto, o elevado saldo comercial reflete a expansão da demanda doméstica em ritmo aquém da capacidade brasileira de produção agregada, o que contribui para a desinflação. Esse quadro facilita o banco central trazer a taxa Selic até 8,75% ao ano nesse ano, o que, por sua vez, incentiva a recuperação dos investimentos das empresas nos próximos trimestres.

Íntegra da análise macroeconômica do Banco Safra.

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