Varejo e construção seguram Ibovespa em dia de mercado volátil
Índice acompanha cautela global, mas sinalização do Copom agradou investidores e favorece setores mais sensíveis aos juros
03/02/2022Empresas de varejo e da construção ajudam a segurar o Ibovespa em dia de mercado volátil após a alta dos juros no Brasil e queda nas bolsas de Nova York pelos resultados de grandes empresas, como a Meta, dona do Facebook
Investidores consideraram positiva a comunicação clara do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central, sinalizando redução de ritmo do aperto monetário após a elevação da Selic em 1,5pp para 10,75%.
O Ibovespa reduziu as perdas no período da tarde nesta quinta-feira, 3. Às 15h20, o índice cedia -0,11%, aos 111.767,5 pontos.
Nesse ambiente, o dólar opera em alta e flutua na faixa de R$ 5,30, diante da cautela externa com sinalizações e aumentos de juros lá fora. O Banco da Inglaterra, por exemplo, elevou o juro, enquanto o Banco Central da Inglaterra manteve a taxa, mas alertou para os riscos para cima da inflação. Como resultado, as bolsas europeias fecharam em queda (veja abaixo). Somado a isso, alguns resultados de empresas de tecnologia nos Estados Unidos têm desapontado, como Netflix e Meta (Facebook).
Saiba mais
- O que são e como investir em fundos imobiliários
- Setores financeiro e de energia devem render bons dividendos
- Confira a seleção de empresas para investir com base na sustentabilidade
“Num primeiro momento, reagiu ao Copom indicação de desaceleração no ritmo de alta da Selic”, diz Sidney Lima, analista da Top Gain.
“Em seguida, passou a olhar o exterior, com possibilidade de aumento de juros mais rápido do que o imaginado, abrindo espaço para um pouco de realização”, afirma Lima, completando que ainda pode ter atratividade de estrangeiros em relação a algumas ações de empresas brasileiras. “Indicadores fundamentalistas como o PL Preço/Lucro mostram que ainda há risco-retorno interessante.”
Na Europa, as bolsas fecharam em queda e em bloco:
- Stoxx 600, índice que reúne as principais ações no continente, encerrou a sessão em baixa de 1,76%, a 468,63 pontos;
- FTSE 100, índice de referência na Bolsa de Londres, encerrou em baixa de 0,71%, a 7.528,84 pontos;
- DAX, índice de Frankfurt, na Alemanha, perdeu 1,57%, a 15.368,47 pontos;
- CAC 40, em Paris, na França, recuou 1,54%, a 7.005,63 pontos;
- FTSE MIB, de Milão, na Itália, diminuiu 1,09%, a 27.088,96 pontos;
- PSI 20, de Lisboa, Portugal, teve retração de 0,87%, a 5.579,15 pontos;
- Ibex 35, em Madri, na Espanha, baixou 0,27%, a 8.689,40 pontos.
Em Nova York, o índice futuro Nasdaq cai perto de 2%, depois do lucro trimestral menor do que o esperado da Meta Platforms (controladora do Facebook), com ações da empresa chegando a despencar quase 23%.
Já no Brasil o lucro da Cielo surpreendeu positivamente, mas alguns dos indicadores a que o mercado costuma prestar mais atenção – margens, conversão de captura em receita e base de usuários – voltaram a cair, jogando as ações para o negativo.
Ibovespa se ajusta ao comunicado sobre juros
Além disso, o Ibovespa se ajusta ao comunicado do Copom, que indicou desaceleração no ritmo de alta da Selic à frente, o que chegou a animar algumas ações de varejo no começo do pregão.
"Copom é a notícia dos sonhos para o setor de varejo, que ontem sofreu bem. Teoricamente tende a aumentar o consumo", resume um operador.
Além disso, como Copom veio mais 'dovish', quem veio para o País pensando em juros, agora tem uma previsibilidade, observa estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, ponderando que, da mesma forma que o fluxo que tem entrado na Bolsa, o chamado smart money, veio de forma rápida, também pode sair.
A tendência, diz Laatus, é que o mercado olhe um pouco mais para outras questões, como a corrida eleitoral e o cenário externo. "Copom não surpreendeu nem para o positivo nem para negativo. Mercado fica livre para olhar para outras coisas como o externo", afirma.
"Vemos uma realização de lucros lá fora, com indicadores da Europa com resultados mistos. Porém o que preocupa é a inflação medida pelo PPI índice de preços ao produtor da zona do euro e isso gera contexto de preocupação quanto às decisões sobre juros. E os balanços nos EUA de ontem decepcionaram, gerando viés negativo", resume o economista-chefe do BV, Roberto Padovani, em comentário a clientes.
Sinalização do Copom indica desaceleração do ciclo de alta dos juros
Ontem, o Banco Central (BC) brasileiro elevou a Selic de 9,25% para 10,75% ao ano, como amplamente esperado. Porém, mesmo reconhecendo que a inflação de 2022 deve ficar acima do teto da meta, o BC BC sinalizou uma redução do ritmo de alta de juros no próximo encontro, nos dias 15 e 16 de março.
"O que veio um pouco diferente é visão quanto aos próximos aumentos", avalia em nota Maria Cândido, sócia da HCI Invest. "A grande questão será como o BC reagirá à inflação. Ele deixou Ele deixou de sinalizar um ajuste da mesma magnitude para a próxima reunião, como mencionado em meses anteriores. Todos os investimentos ligados à alta de juros é positivo. Só que investimentos atrelados a Selic, em vez de chegar a 12%, pode chegar de 11,5%", explica, completando que o cenário na Bolsa não deve mudar tanto.
No Brasil, a Cielo fechou o quarto trimestre de 2021 com lucro líquido de R$ 336,9 milhões, alta de 13% em relação ao mesmo período de 2020, e de 59% na comparação com o trimestre imediatamente anterior. (AE)