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Lixo começa a ser usado para gerar energia no Brasil

Com novos leilões de energia, o País começa a tirar do papel o plano de aproveitar resíduos urbanos para alimentar usinas termoelétricas

lixão

O Plano Nacional de Resíduos Sólidos prevê que 15% do lixo urbano será destinado para as usinas de lixo até 2040 | Foto: Getty Images

Uma nova fonte de energia começa a nascer no Brasil com o aproveitamento do lixo urbano para geração, através da queima de resíduos em usinas térmicas. Trata-se de um enorme potencial, considerando a geração de mais de 80 milhões de toneladas de resíduos por ano em aterros e lixões sem destinação adequada. O primeiro passo para transformar lixo em energia devem ser dados nos leilões de energia previstos para ocorrer em 16 de setembro deste ano.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) incluiu 19 projetos de resíduos sólidos urbanos (RSU) na disputa. A Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren) acredita que o setor tem condições de viabilizar pelo menos três novas unidades de recuperação energética, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

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O Leilão A-5 e A-6 deve garantir o suprimento de energia em até cinco e seis anos – a partir de 2027 e 2028. A aposta da Abren é que as usinas URE Caju, no Rio de Janeiro, com 31 MW; a URE Mauá, em São Paulo, com 80 MW; e a URE Consimares, em Nova Odessa (SP), com 20 MW, poderão vencer o leilão. A potência total chegaria a 131 MW de potência.

Segundo a Abren, o preço da geração com lixo deve ser dmantido em R$ 639,00/MWh, como no Leilão A-5 de 2021 (atualizado pelo IPCA o valor é de R$ 684,00/MWh).

Brasil vai começar a aproveitar lixo urbano para a geração de energia

O Brasil ainda não tem usinas de tratamento térmico de resíduos em operação, mas apenas usinas de aproveitamento de biogás de aterros sanitários (350 MW de potência instalada). Usinas de biodigestão anaeróbia de biogás em aterro sanitário geram outros 5 MW de com lixo orgânico urbano e lodo de esgoto.

O pontapé inicial de geração de energia a partir do lixo foi dada no Brasil no ano passado, quando a primeira usina de recuperação energética (URE), a Orizon Valorização de Resíduos, venceu o leilão e vendeu 12 MW, ou 75% de sua capacidade total.

O presidente da associação, Yuri Schmitke, avalia que o segmento será competitivo para ocupar mais espaço na matriz elétrica nacional, além de destravar investimentos. Nos cálculos da entidade, a estimativa é que a energia do lixo chegue a 3% da demanda nacional. Apesar da limitação da fonte na matriz total, ele defende a importância do aproveitamento dos resíduos, considerando os benefícios socioambientais.

O Brasil tem mais de 3 mil aterros e lixões a céu aberto e aterros inadequados. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos prevê que 15% do resíduo sólido urbano será destinado para as usinas de lixo até 2040, o que representa 1GW de potência instalada.

Potencial de geração de energia a partir do lixo na Grande São Paulo

A Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (ABREN) fez um levantamento sobre o potencial de geração de energia a partir do lixo urbano da Região Metropolitana de São Paulo. De acordo com o estudo, a região tem potencial para gerar uma economia superior a R$ 20 bilhões em 40 anos, considerando-se somente os benefícios à saúde pública e a mitigação de danos ambientais.

De acordo com estudo da ABREN, a conta leva em consideração os benefícios à saúde pública e a mitigação de danos ambientais Segundo o levantamento, a região tem a possibilidade de receber 23 usinas de recuperação energética (URE), com 20MW de potência instalada cada, totalizando um potencial de mais de 460 MW de potência instalada, com uma produção de energia limpa e renovável na ordem de 3,7 milhões de MWh/ano.

A ação envolveria investimentos de aproximadamente R$ 16,6 bilhões e pode ser viabilizada por meio de um consórcio entre os municípios que compõem a Região Metropolitana de São Paulo, como prevê o novo Marco Legal do Saneamento (Lei nº 14.026/2020).

A recuperação energética contribui diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), potencializando os benefícios oferecidos à população. Além disso, auxilia no tratamento dos resíduos, conforme determinação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

Segundo a ABREN , existem cerca de 2.500 usinas de recuperação energética no mundo e muitas dessas plantas estão localizadas no centro das cidades, como em Paris (França), que conta com 3 grandes usinas, sendo que uma delas está a menos de 2km da Torre Eiffel. Além de facilitar a logística do resíduo devido à sua localização urbana, a usina reduz consideravelmente a emissão de gases de efeito estufa.

A América Latina não conta com nenhuma URE em operação até o momento. O Brasil possui alguns projetos para construção de usinas em andamento. Em 2021, a URE Barueri se tornou a primeira usina desse segmento a vencer um leilão de energia do Governo Federal. Com potência de 20 MW, a planta deve consumir cerca de 300 mil toneladas de resíduos por ano quando começar sua operação, o que deve acontecer em 2025.

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