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Declaração de Lula sobre meta fiscal derruba a Bolsa aos 113 mil pontos

Bolsa cai 1,29% e dólar volta a R$ 5 com fala de Lula contra os esforços da do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre déficit zero em 2024

Queda nas contações no celular e computador

O dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,46%, cotado a R$ 5,01 | Foto: Getty Images

A fala do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a meta de déficit zero para as contas públicas em 2024 sobressaltou o mercado na tarde desta sexta-feira, invertendo o sinal do dólar e dos DIs futuros na sessão, carregando consigo o Ibovespa que, até então, operava entre leves avanços e recuos. Ao fim, a Bolsa fechou em queda de 1,29%, aos 113.301,35 pontos, renovando mínimas do meio para o fim da tarde, o que limitou a alta da semana a 0,13%, após perda de 2,25% acumulada na anterior. O dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,46%, cotado a R$ 5,0131

No piso da sessão, o Ibovespa cedeu nesta sexta 1,59%, aos 112.953,38 pontos. No mês, o índice da B3 cai 2,80%, limitando o avanço do ano a 3,25%. O giro financeiro desta sexta-feira foi a R$ 23,0 bilhões. A queda do Ibovespa sucedeu alta de 1,73% na sessão anterior, que o havia devolvido aos 114,7 mil pontos.

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Em encontro nesta sexta-feira com a imprensa em Brasília, Lula, que completou nesta sexta 78 anos, afirmou que o mercado é “ganancioso” por cobrar meta de resultado primário do governo, a qual, segundo ele, não será cumprida por não fazer “sentido”. A declaração – no mesmo dia em que o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, havia reiterado, de manhã, compromisso da equipe econômica com o cumprimento da meta – agitou a última sessão da semana, até então modorrenta.

Aos jornalistas, Lula disse que eventual déficit primário de 0,25% ou 0,5% do PIB seria algo como “nada”, e que o saldo do próximo ano “não precisa ser zero”. Ele também indicou que não gostaria de iniciar o próximo ano cortando bilhões em obras “prioritárias” para o Brasil. O sinal de Lula vem na semana em que precisou trocar o comando da Caixa Econômica Federal para abrir mais espaço ao Centrão na base de apoio ao governo – em paralelo, a agenda econômica deu passos à frente na semana, na Câmara como no Senado.

Fala de Lula sobre déficit zero preocupa investidores

As palavras de Lula nesta sexta-feira foram vistas pelo mercado, majoritariamente, como um sinal contrário aos esforços empreendidos pela equipe comandada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Outro fator de dúvida que tem se imposto desde o ataque do Hamas a Israel no último dia 7 é o efeito que o conflito, ainda sem desfecho previsível, trará aos preços do petróleo, uma das correntes de transmissão mais potentes quando se trata de inflação global.

A principal incerteza ainda diz respeito a eventual envolvimento mais próximo do Irã junto aos seus aliados Hamas, em Gaza, e Hezbollah, no sul do Líbano, não apenas pelo papel do país persa na produção e exportação da commodity, como também pelo controle estratégico do Estreito de Ormuz, por onde passam cerca de 20% a 30% da oferta global de petróleo. A parte mais estreita da passagem marítima fica inteiramente em águas territoriais do Irã ou de Omã – o correspondente a 12 milhas náuticas em relação ao litoral de um país ou de outro, pelo direito internacional.

Nesse contexto, em que o escrutínio dos resultados corporativos se combina ao acompanhamento de cenário macro volátil, especialmente no exterior, as ações de Petrobras (ON -0,72%, PN -0,73%) voltaram a se descolar nesta sexta do sinal do petróleo, em alta na casa de 2% para o Brent e o WTI na sessão, em semana na qual o mercado ponderou mudanças propostas ao Estatuto da empresa, consideradas com desconfiança pelo efeito que podem trazer à governança da estatal. Assim, na semana, Petrobras ON e PN cederam, respectivamente, 5,71% e 6,37% – acima de perdas na casa de 2% a 3% para o petróleo no mesmo intervalo.

Mirando a perspectiva para a mineradora no quarto trimestre, em meio a alguns sinais mais favoráveis sobre a demanda asiática, a ação da Vale fechou nesta sexta em alta de 3,48%, no dia seguinte ao balanço do terceiro trimestre. O papel da mineradora foi um dos sete da carteira de 86 ações do Ibovespa que conseguiram fechar o dia em alta, ao lado de Usiminas (+4,18%) e Bradespar (+2,24%). Na ponta perdedora do índice de referência da B3, destaque nesta sexta-feira para Hypera (-8,25%), Soma (-6,89%) e Gol (-5,59%). Entre os grandes bancos, as perdas na sessão ficaram entre 1,03% (Bradesco PN) e 2,54% (Banco do Brasil ON).

Efeito fiscal eleva cotação do dólar

O risco fiscal voltou a dar as cartas no mercado de câmbio doméstico na tarde desta sexta-feira, 27, e levou o dólar à vista a ultrapassar novamente a marca de R$ 5,00. Falas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, admitindo a possibilidade de déficit primário em 2024, na contramão do previsto pelo arcabouço fiscal e defendido reiteradamente pela equipe econômica, levaram a uma deterioração dos ativos domésticos.

Em queda firme pela manhã e no início da tarde, em sintonia com as perdas da moeda americana na comparação a divisas emergentes, o dólar ganhou força rapidamente e não apenas trocou se sinal como correu até a máxima a R$ 5,0191 na segunda etapa de negócios. Pela manhã, a divisa havia registrado mínima a R$ 4,9317 e, por volta das 14 horas, rondava os R$ 4,97.

É verdade que houve uma deterioração do apetite ao risco no exterior à tarde, com piora das Bolsas em Nova York e avanço do petróleo, mas o dólar seguiu com sinal predominante de queda no exterior, em especial em relação aos pares latino-americanos do real e o rand sul-africano. Apesar do agravamento das tensões no Oriente Médio, o mercado de moedas ainda ecoava a perspectiva de que o Fed mantenha a taxa de juros inalterada na semana que vem, após dados mistos de inflação e renda pessoal nos EUA divulgados pela manhã.

Por aqui, o dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,46%, cotado a R$ 5,0131. Na semana, a moeda ainda acumula baixa de 0,36%. Levando em conta que a divisa chegou a superar R$ 5,05 na semana passada, o valor de fechamento desta sexta significa uma mudança relevante do nível da taxa de câmbio. Operadores observam, contudo, que a arrancada da moeda à tarde foi súbita e expressiva. (AE)

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