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Museu do Ipiranga dobra de tamanho após reforma de R$ 211 milhões

Reforma do museu angariou o maior valor já captado na iniciativa privada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura; Banco Safra é um dos patrocinadores

Museu do Ipiranga

Com o novo espaço, de 6.800 metros quadrados, o Museu será reaberto nas comemorações da Independência do Brasil | Foto: Divulgação

O Museu do Ipiranga, fechado para reformas desde 2013, será reaberto no dia 7 de setembro, como parte das celebrações do bicentenário da Independência do Brasil. Com a finalização das obras de ampliação e restauro, o Brasil ganhará um dos mais completos e modernos museus da América Latina.

Nos últimos três anos, o Museu passou por uma reforma que angariou o maior valor já captado entre a iniciativa privada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura. O custo da reforma é estimado em R$ 211 milhões – além dos recursos incentivados, há investimentos privados sem incentivo fiscal e também aportes públicos. O Banco Safra está entre os patrocinadores da obra. A expectativa é de que, após as obras, o novo museu passe a receber entre 900 mil e 1 milhão de visitantes por ano. O museu pode ser visitado virtualmente neste link.

Saiba mais

A obra foi executada em duas grandes frentes: restauro do Edifício-Monumento e construção de um edifício ampliação. Na parte da ampliação, foi realizada uma escavação em frente ao prédio, na área da esplanada, que retirou 35 mil metros cúbicos de terra, o que equivale à capacidade de 2 mil caminhões.

Com o novo espaço, de 6.800 metros quadrados, o Museu irá dobrar de tamanho. A expansão abrigará a nova entrada integrada ao Jardim Francês, além de bilheteria, café, loja, auditório para 200 pessoas, espaços e salas para atendimento educativo e uma grande sala de exposições temporárias, com 900 metros quadrados. Pela primeira vez na história do Museu, a instituição estará apta a receber acervos de outras instituições, inclusive internacionais, graças à instalação de ar-condicionado.

O quadro mais conhecido do acervo do Museu – a icônica tela Independência ou Morte, de Pedro Américo – foi um dos primeiros trabalhos a serem restaurados | Foto: Reprodução

No restauro do Edifício-Monumento, foram realizados reparos em todos os detalhes da refinada arquitetura, incluindo os 7.600m² das fachadas, que pela primeira vez passaram por limpeza, decapagem, recuperação dos ornamentos, aplicação de argamassa, tratamento de trincas e, por fim, a pintura. Para pintar, foi utilizada uma tinta mineral – desenvolvida especialmente para o Museu – que permite a troca de umidade entre prédio de cal e o ambiente.

Um estudo estratigráfico (ramo da geologia que estuda as camadas de rochas) e o processo de decapagem também tornaram possível recuperar a cor original da construção do século 19. Tetos e paredes do interior
receberam tratamento similar. Os elementos de marcenaria, como as 450 portas e janelas, foram catalogados, retirados e restaurados em oficinas no canteiro de obras, e recolocados no mesmo lugar anterior, bem como os 1900 metros quadrados de assoalho que revestem o piso da edificação. Os 1500 metros quadrados de pisos de ladrilho hidráulico franco-alemão também passaram por um refinado processo de restauro.

Cerca de 1300 ladrilhos foram restaurados, enquanto aproximadamente 700 foram reproduzidos e substituídos. Com a instalação de elevadores, o Edifício-Monumento será, enfim, totalmente acessível.

Museu do Ipiranga é reaberto com moderno sistema contra incêndios

Outro quesito essencial no projeto do Novo Museu do Ipiranga são os métodos para prevenção de incêndios. O sistema de sprinklers adotado é do tipo “pré-ação” com tecnologia que antevê alarmes falsos, evitando disparos acidentais. Já o sistema de detecção de fumaça utiliza a técnica de aspersão (sucção do ar em intervalos fixos) para constante análise, podendo identificar partículas de resíduos queimados que podem prenunciar um incêndio.

Os sistemas comuns de detecção de fumaça são acionados apenas em caso de muita fumaça, ou seja, após o incêndio ter tomado certa proporção. Dessa forma, com a técnica de aspersão, garante-se a proteção do prédio por meio de um sistema mais efetivo.

As medidas anti-incêndio incluem também a implantação de proteção térmica em toda a estrutura do prédio. A parte elétrica foi integralmente reformada e envolvida em manta cerâmica, material capaz de reter altas temperaturas, normalmente utilizado em portas corta-fogo. As estruturas metálicas foram revestidas com pintura intumescente, que preserva a resistência ao fogo das peças em caso de temperatura elevada.

Mirante do Museu do Ipiranga: instalações devem receber cerca de 1 milhão de visitantes por ano | Foto: Divulgação

O telhado e coberturas também foram restaurados, ganhando camadas de proteção que garantem conforto térmico aos usuários e ao acervo nos pavimentos superiores. E os sistemas hidráulicos e de captação fluvial foram modernizados, para que não haja possibilidade de contato com o sistema elétrico (causa de muitos incêndios).

O prédio ganhou a instalação de vidros de baixa transmitância, que retêm o calor do raio solar, garantindo conforto térmico do prédio e melhor conservação do acervo. A iluminação é controlada ponto a ponto via sistema de automação, com lâmpadas LED, que gastam menos energia e emitem menos calor. Outra opção ecológica foi um sistema híbrido para a circulação de ar, que inclui aparelhos de ar-condicionado apenas na expansão do edifício – o que também preserva a integridade da construção histórica.

Prezando pela integridade do conjunto, o Novo Museu do Ipiranga também teve restaurado o Jardim Francês, localizado em frente ao Edifício-Monumento. Estimada em R$ 19 milhões e custeada pelo Governo do Estado, a obra previu a restauração de toda a área construída e de paisagismo, além da reforma do espaço da antiga administração para instalação de um restaurante, criação de infraestrutura para food bikes, restauro e
modernização da iluminação pública, requalificação das vias de acesso, contemplando também equipamentos de acessibilidade, a reativação da fonte central e a recuperação de duas fontes presentes no projeto original do jardim, que foram destruídas na década de 1970.

Restauro do Acervo

Mais de 3 mil objetos do acervo passaram por restauração. Dentre eles, encontram-se 122 pinturas e duas maquetes de grande porte. Ao longo de sua história, os acervos sempre foram tratados e conservados. Em momentos pontuais, algumas peças passaram por restauro, mas essa é a primeira ocasião em que as coleções são objeto de um plano amplo de restauração, com diversas obras sendo restauradas ao mesmo tempo.

Foram criadas 12 novas exposições que serão abertas ao público, contemplando cerca de 3.500 itens do acervo. No total, o acervo do Museu do Ipiranga chega a 450 mil itens e documentos.

O quadro mais conhecido do acervo do Museu – a icônica tela Independência ou Morte, de Pedro Américo – foi um dos primeiros trabalhos a serem restaurados, ainda em 2019. Mas a pesquisa para o restauro do quadro começou ainda em 2017. Em um processo bastante singular, o restauro foi realizado simultaneamente à obra, no Salão Nobre, espaço onde o quadro permaneceu, devido ao seu tamanho.

A tela, com dimensões de 415 cm x 760 cm, é maior do que as portas e janelas do salão, e foi montada originalmente no local onde está até hoje, sem nunca ter sido retirada. A equipe do Museu teve, portanto, a importante tarefa de protegê-la dos resíduos do restauro da sala, com um tecido especial que impede a entrada de pó permitindo que a obra “respire”.

Espaço mais importante do Museu, o Salão Nobre possui 182 metros quadrados e mais de 10 metros de pé-direito. Foi projetado para abrigar a tela de Pedro Américo, que figura o momento em que se anunciou a ruptura política com Portugal. O ambiente é o ponto culminante do chamado Eixo Monumental, que começa no saguão, no piso térreo, passa pelas escadarias, até chegar nesse espaço, que fica no ponto central do edifício.

Todo o acervo artístico do Eixo Monumental é patrimônio cultural tombado pelos órgãos de preservação, e será conservado em sua integridade na reabertura. Parte dos quadros aí expostos foi encomendada e produzida cerca de 100 anos atrás, para as celebrações do primeiro centenário da Independência. Outros, porém, são mais antigos, como o próprio Independência ou Morte, concluído em 1888.

A maquete do Museu do Ipiranga também foi restaurada e fará parte das novas exposições. Para elucidar a todos qual era sua ideia, o arquiteto italiano responsável pelo projeto do Museu – Tommaso Gaudencio Bezzi – construiu uma maquete com todos os detalhes da obra. A peça causava espanto pelo seu tamanho de 5 metros e, na época, impressionou D. Pedro II, que em uma visita a São Paulo foi à casa do arquiteto conhecer o modelo em gesso.

O prédio do Museu tem 123 metros de comprimento e 16 metros de profundidade, e a maquete foi feita numa escala 1:32. Uma de suas principais curiosidades é revelar como seria a aparência do Museu, caso tivesse sido construído conforme o sonho de seu projetista. Além do Edifício-Monumento que conhecemos hoje, a proposta incluía duas grandes alas laterais, nunca construídas, mas visíveis no modelo em gesso e que dariam ao prédio quase o dobro do tamanho.

O acervo do museu tem também uma representação da cidade de São Paulo. A miniatura retrata a capital paulista no ano de 1841, e foi projetada e confeccionada pelo holandês Henrique Bakkenist, que a terminou em 1922, ano em que o item passou a integrar o Museu do Ipiranga. A maquete começou a ser produzida em 1920, a partir de plantas e mapas da cidade, com o objetivo principal de reproduzir a São Paulo de 1822, ano da proclamação da Independência. No entanto, pela escassez de documentos sobre a capital paulista naquele período, a maquete foi elaborada para reproduzir a configuração da cidade no ano de 1841.

As obras do Novo Museu do Ipiranga são financiadas via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Patrocinadores e parceiros: BNDES, Fundação Banco do Brasil, Vale, Bradesco, Caterpillar, Comgás, CSN, EDP, EMS, Itaú, Sabesp, Santander, Banco Safra, Honda, Raízen, Postos Ipiranga, Pinheiro Neto Advogados, Atlas Schindler, Novelis, B3, GHT, Nortel e Dimensional, Goldman Sachs, Rede D’Or e Too Seguros.

Visita virtual ao Museu do Ipiranga.

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