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Brasil vai barrar viajantes de seis países africanos; mercados têm dia de pânico

Mercados caem no mundo inteiro diante da descoberta de uma nova variante do vírus da covid; Ibovespa vai 3,39% e preço do petróleo, 13%

nova cepa

Nova cepa mais contagiosa agrava os temores sobre a resuperação da economia mundial | Foto: Getty Images

O Brasil vai fechar as fronteiras aéreas para passageiros vindos de seis países do sul da África a partir da próxima segunda-feira, 29, devido à nova variante do coronavírus. A informação foi anunciada pelo ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, através de uma rede social nesta sexta-feira, 26. Uma portaria deve oficializar a medida no Diário Oficial da União neste sábado, 27.

A decisão, segundo o ministro, foi tomada em conjunto pela Casa Civil e pelos ministérios de Infraestrutura, Saúde e Justiça e Segurança Pública. “O Brasil fechará as fronteiras aéreas para seis países da África em virtude da nova variante do coronavírus. Vamos resguardar os brasileiros nessa nova fase da pandemia naquele país”, disse Nogueira.

A restrição vale para passageiros da África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue. Mais cedo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) havia recomendado ao governo brasileiro a restrição de voos destes países. Outras nações também anunciaram o fechamento das fronteiras para eles após o descobrimento da variante B1.1.529 do coronavírus, batizada “Ômicron” pela Organização Mundial da Saúde.

Nova variante da covid causa pânico no mercado financeiro

O dia foi de pânico global nos mercados com a descoberta da nova variante do vírus da covid-19, que foi batizado hoje com a letra grega omicron. Há tempos não se via tamanha onda de aversão a risco, com a referência americana de petróleo, o WTI, mergulhando 13% no pior momento e o Brent, a referência global, saindo da casa de US$ 81 para baixo de US$ 72 por barril, também em correção de dois dígitos.

Em Nova York, em sessão mais curta após o feriado de Ação de Graças, a Black Friday assumiu conotação nova em 2021, com perdas superiores a 2% nos índices de ações, ainda assim, bem inferiores às vistas na Europa, onde Paris fechou em queda de 4,75%, Frankfurt, de 4,15%, e Londres, de 3,64%.

Na B3, contendo um pouco a correção na etapa final da sessão, o Ibovespa cedeu 3,39%, a 102.224,26 pontos, devolvendo boa parte da recuperação de 3,61% acumulada nas três sessões anteriores, que o colocava em terreno positivo no mês e na semana. Assim, a referência fecha a semana com perda de 0,79% e põe a do mês a 1,23%, estendendo a série negativa iniciada em julho com apenas a segunda e terça-feira faltando para o encerramento de novembro.

OMS batiza cepa do vírus de omicron

Batizada pela Organização Mundial de Saúde como omicron, a nova variante do coronavírus identificada no sul da África lançou o Ibovespa em retração de 4,08% no pior momento do dia, no começo da tarde, um nível de perda não visto em fechamento desde 22 de fevereiro (-4,87%), no auge do temor quanto à intervenção no comando da Petrobras e de interferência do governo na política de preços da estatal.

As perdas vistas no pior momento desta sexta-feira superavam por pequena margem as do encerramento de 8 de março passado (-3,98%), quando o mercado reagia ao retorno do ex-presidente Lula ao jogo eleitoral.

Ao final, a queda de hoje foi também menor do que a de 8 de setembro (-3,78%), quando a reação do mercado era ao presidente Jair Bolsonaro e a seu discurso no feriado da Independência, na Avenida Paulista – e não muito distante, hoje, da observada em 19 de outubro (-3,28%), quando emergiam com força os temores sobre a viabilização do Auxílio Brasil em contexto de deterioração da situação fiscal.

Nesta sexta-feira, a OMS observou que o número de casos da nova variante parece estar em ascensão em quase toda a África do Sul, enquanto, no Brasil, o Ministério da Saúde emitiu “comunicação de risco” em que recomenda a manutenção do uso de máscara e do distanciamento social, ainda que a vacinação “provavelmente” contribua na resposta à cepa, identificada também como B.1.1.529.

“Vindo de feriado nos Estados Unidos ontem, era pra ser um fechamento de semana mais tranquilo, com o Ibovespa em recuperação nas últimas três sessões. Mas essa variante pegou todo mundo de surpresa, desprevenido mesmo. Os governos já começam a reagir e é preciso esperar um pouco para ver o grau de restrição à mobilidade e o efeito que poderá ter na atividade global, que vinha em recuperação a ponto de alterar a perspectiva das políticas monetárias”, diz Mauro Orefice, diretor de Investimentos da BS2 Asset.

Câmbio reflete realinhamento entre euro e dólar

Assim, o câmbio hoje já refletiu um realinhamento entre euro e dólar, na medida em que o viés da política monetária no bloco da moeda única vinha se mantendo mais ‘dovish’ do que o ajuste em andamento nos Estados Unidos, ora em retirada de estímulos como reação ao avanço da inflação. Dessa forma, apesar da enorme aversão a risco desde o exterior, que afeta as moedas de emergentes e de países exportadores de commodities, como o Brasil, o real fechou o dia relativamente acomodado, com o dólar à vista em alta de 0,55%, a R$ 5,5958, saindo de máxima na sessão a R$ 5,6629.

“Com o real já muito depreciado, esse movimento de euro e dólar pode contribuir para segurar um pouco por aqui com relação à moeda americana. Desde o fim de outubro, houve retirada de prêmio na curva de juros, aqui. E os longos podem continuar fechando, com a reavaliação decorrente dos efeitos econômicos dessa nova variante, sobre a atividade e a inflação. Os preços de commodities como o petróleo já reagiram com muita intensidade hoje. Há muita incerteza ainda. É preciso aguardar os desdobramentos, com muita atenção também ao fim de semana”, acrescenta Orefice, observando que a aversão a risco generalizada que prevaleceu nesta sexta-feira levou o yield de 10 anos dos Estados Unidos de 1,67% para 1,48%, de ontem para hoje, em movimento abrupto.

A demanda por proteção em Treasuries é compreensível: a percepção de risco sobre a nova onda de Covid-19 na Europa se conjuga agora à emergência de nova variante sul-africana, sobre a qual não se sabe a eficácia das vacinas atualmente disponíveis, nem o grau de transmissão e de efeito sobre a saúde humana – a nova variante teria 50 alterações, das quais mais de 30 no ‘spike’, o esporão que conecta o vírus às células. Assim, hoje na B3, a mínima intradia de 101.494,70 pontos correspondeu ao menor nível para o Ibovespa desde 9 de novembro de 2020 (100.953,95 no intraday). O encerramento, contudo, ficou acima do último dia 22 (102.122,37), segunda-feira, o menor nível de fechamento do ano.

Com as perdas generalizadas nesta última sessão da semana, apenas duas ações da carteira Ibovespa conseguiram escapar da correção (Suzano +0,15%, Taesa +0,11%), e as perdas se mostraram mais acentuadas, naturalmente, nas empresas associadas a transporte e viagens, como Azul (-14,18%), Gol (-11,81%) e CVC (-11,06%), na ponta negativa do índice nesta sexta-feira. Entre as blue chips, destaque para a correção em Petrobras (ON -4,36%, PN -3,88%), Vale ON (-2,64%) e também nas ações de grandes bancos (Bradesco PN -4,00%). Com exposição a commodities, os preços nas ações de siderurgia chegaram a cair 6,58% (Usiminas PNA), considerando o fechamento.

Em sessão tradicionalmente mais curta na Black Friday, Dow Jones fechou em baixa de 2,53%, S&P 500, de 2,27%, e Nasdaq, de 2,23%. Na B3, com o desempenho desta sexta-feira, o Ibovespa passou do positivo ao negativo na semana e no mês, após perda de 3,10% na anterior. No ano, cede agora 14,11%. O giro financeiro de hoje ficou em R$ 28,5 bilhões.

Anvisa recomenda suspensão de voos vindos da África devido à nova variante da covid-19

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou nesta sexta-feira, 26, a adoção de medidas restritivas de caráter temporário em relação aos voos e viajantes procedentes da África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue em decorrência da nova variante de coronavírus identificada como B.1.1.529.

A Anvisa informa que enviou à Casa Civil da Presidência da República nota técnica sobre as restrições, que só passam a valer se forem acatadas em ato interministerial do governo.

Em nota, a agência retoma a avaliação feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que analisa nova variante com maior taxa de transmissibilidade e provavelmente relacionada ao aumento contínuo de infecções pela covid-19 nesses países, cuja cobertura vacinal ainda está baixa.

A Anvisa recomenda a suspensão imediata dos voos procedentes da África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue e suspensão, em caráter temporário, da autorização de desembarque no Brasil de viajantes estrangeiros com passagem pelos países nos últimos 14 dias.

A agência faz ainda a recomendação de quarentena, logo após o desembarque no Brasil, para viajantes brasileiros e seus acompanhantes legais, com origem ou histórico de passagem pelas seis nações nos últimos 14 dias que antecedem a entrada no País.

Para os analistas, a descoberta de uma nova variante do coronavírus adiciona mais um elemento de preocupação ao cenário já desafiador para a recuperação da economia global.

Aumento de casos na Europa força novas restrições

Nas últimas semanas, o aumento dos casos de covid na Europa fez com que alguns países retomassem as restrições à circulação de pessoas, um novo baque para a economia em um momento em que já se começava a imaginar uma retomada mais consistente das atividades normais, com o avanço da vacinação.

Segundo a avaliação do banco Credit Suisse, a preocupação do mercado com a nova variante do coronavírus parece compreensível, dado seu forte potencial de contaminação.

De acordo com o banco, as leituras de hospitalização e mortes ainda são pouco conclusivas, mas lembra que a vacinação na África do Sul (origem da variante) são muito baixas e que o país não teve uma forte onda da variante Delta.

A consultoria Capital Economics diz que ainda é cedo para saber ao certo quão grande é a ameaça da nova cepa da covid-19 para a economia global. A consultoria projeta que mesmo as restrições já sendo lançadas por outras nações não devem impedir a disseminação do vírus, “particularmente se ele for tão contagioso como atualmente temido”.

Na opinião dela, isso poderia fazer, por exemplo, bancos centrais adiarem planos de aperto monetário, até que a situação esteja mais clara.

Nova cepa traz risco para países com baixa cobertura vacinal

Para os países com cobertura vacinal ainda baixa, o principal ponto é se a nova cepa é mais transmissível e tem mais chance de causar casos graves ou mortes. No mundo em geral, porém, o principal é saber se a nova variante pode ou não contornar em alguma medida a proteção dada pelas vacinas, comenta. A Capital Economics lembra que essa é uma questão para os cientistas, não para os economistas, e que pode levar várias semanas até a resposta para ela surgir.

Por conta da nova cepa, a Comissão Europeia já informou que pretende propor um veto à entrada de pessoas de países do sul da África. Nesse contexto, ações de companhias aéreas sofrem fortes baixas no mercado europeu – Deutsche Lufthansa recuava 10,12% em Frankfurt, Ryanair caía 8,00% em Londres e Air France-KLM, 8,47% em Paris.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, falou sobre a piora da covid na Europa, durante evento virtual com empresas do mercado imobiliário. “Hoje os mercados estão sentido isso bastante. Mas, localmente, o Brasil está indo bem contra a covid porque tem baixa rejeição à vacina”, disse. (AE)

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