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Para a OMS, mutação do vírus não justifica alarme

Organização Mundial de Saúde destaca que as vacinas são eficazes mesmo contra o vírus mutante

Vacina

Avanço da vacinação não segurou onda de pessimismo nos mercados / Foto: Getty Images

O temor de mais prejuízos na economia provocados por uma variação do vírus do coronavírus de propagação mais acelerada abalou os mercados nesta segunda-feira, 21 de dezembro, incluindo a bolsa brasileira. A nova mutação do vírus, com potencial de contaminação 70% maior, foi confirmada no domingo pelo Reino Unido.

No entanto, a reação foi exagerada, no entendimento da Organização Mundial de Saúde. A OMS confirmou a informação, mas destacou que não há indicações de mudança na forma de contágio da mutação e, por isso, os atuais protocolos de prevenção devem ser mantidos – e até mesmo ampliados.

A Organização pediu cautela frente ao que chamou de um grande alarme em torno da nova cepa, mencionando que isso era uma parte normal do desenvolvimento da pandemia.

Até o momento, segundo as autoridades de saúde, não há informações de que a mutação cause aumento da mortalidade entre os contaminados.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson argumentou que não há razões para acreditar que a nova cepa do coronavírus descoberta no país seja mais “perigosa” que as já existentes, embora provavelmente seja mais transmissível. “Fomos rápidos ao agir para frear disseminação da nova variante do vírus”, afirmou em entrevista coletiva nesta segunda-feira, 21.

O premiê comentou que entende as preocupações de outros governos com a mutação, que levou vários deles a proibirem voos vindos do Reino Unido. Johnson disse que conversou hoje por telefone com o presidente da França, Emmanuel Macron, e que ambos concordaram em continuar coordenando a resposta à pandemia.

O líder britânico acrescentou ainda que a variante do vírus não afetou a logística de distribuição da vacina. Segundo ele, já foram entregues mais de 500 mil doses do imunizador em território britânico. “Temos todas as razões para estar esperançosos quanto à habilidade de nosso país de se recuperar da crise da covid-19 no próximo ano”, disse Johnson.

Em conferência de imprensa online, Mark Ryan, principal especialista em emergências da OMS, destacou aspectos positivos da descoberta da mutação. “Ser capaz de rastrear um vírus tão de perto, tão cuidadosamente, cientificamente em tempo real é um desenvolvimento realmente positivo para a saúde pública global, e os países que fazem esse tipo de vigilância devem ser elogiados”, disse ele.

Ryan destacou ainda que a ocorrência é algo que os cientistas já esperavam: “É importante deixar claro que isso é uma parte normal do desenvolvimento do vírus”, afirmou.

De todo modo, a repercussão imediata – e também elogiada pela OMS – foi a tomada de medidas de proteção contra a proliferação da nova forma do vírus. Por precaução, já no domingo mais de uma dezena de países anunciaram a decisão de suspender voos com origem na Grã-Bretanha, incluindo Itália, Áustria, Itália, França, Índia e Bélgica.

Nesta segunda-feira, Hong Kong e Índia tomaram medida semelhante, assim como Canadá, Israel e Turquia, Dinamarca e Polônia. Ao final da tarde já passava de 40 países a lista dos que suspenderam voos de procedência britânica.

Vacina da Pfizer-BioNTech liberada na UE

Boa notícia foi a informação da Comissão Europeia nesta segunda-feira de que concedeu autorização condicional para a distribuição da vacina para o coronavírus desenvolvida pela Pfizer, em parceria com a BioNTech. A medida segue aval da Agência de Medicamentos Europeias (EMA, na sigla em inglês), que hoje cedo emitiu relatório em que atesta a eficácia e a segurança do imunizador.

As primeiras doses devem ser entregues aos países do bloco na próxima sexta-feira, 26, e a previsão é de que a imunização comece no sábado, 27. A União Europeia espera distribuir 200 milhões de doses até setembro de 2021.

“Hoje acrescentamos um capítulo importante a uma história de sucesso europeia. Aprovamos a primeira vacina segura e eficaz contra a covid-19. Mais vacinas virão em breve”, afirmou a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen.

Biden toma a primeira dose

O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, recebeu nesta segunda-feira, 21, a primeira dose da vacina da Pfizer contra covid-19. Biden tomou a vacina em Delaware. De acordo com a mídia americana, vice-presidente eleita, Kamala Harris, receberá o imunizante na próxima semana.

Após receber a vacina, Biden disse que a vacina é o primeiro passo para superar a pandemia, mas que levará algum tempo até que isso aconteça. Por isso, ele pediu para que as pessoas continuem usando máscaras, mantenham o distanciamento social e, se possível, não viagem.

Impacto nos mercados

O Ibovespa fechou em queda de 1,86%, aos 115,8 mil pontos, poucos dias após ter recuperado as perdas do ano aos 118 mil pontos. Nos Estados Unidos, o S&P 500 perdeu 0,39%, aos 3,7 mil pontos.

O dólar terminou o dia em alta de 0,80%, cotado a R$ 5,12. Já o euro avançou 0,88%, para R$ 6,28. Nem a expectativa do novo pacote fiscal de US$ 900 bilhões que está para ser aprovado nos Estados Unidos ajudou a segurar os preços dos ativos.

De manhã, o impacto mais forte havia se dado na bolsas da Europa. O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou o pregão em baixa de 2,30%. As restrições aos vôos do Reino Unido afetaram os papéis de empresas áreas.

O índice FTSE 100 fechou em queda de 1,73%, a 6,4 mil pontos. Já o DAX, de Frankfurt, encerrou o pregão em baixa de 2,82%, a 13,2 mil pontos. Em Paris, o índice CAC 40 recuou 2,43%, a 5,4 mil pontos, com a ação da Peugeot caindo 2,30%, ante as preocupações com a fusão entre a montadora francesa e a italiana Fiat, aprovada no dia pela Comissão Europeia.

O fechamento das fronteiras fez surgir advertências de que poderiam levar à escassez da cadeia de suprimentos e prateleiras vazias dos supermercados.

E já há confirmação de mutações semelhantes do vírus que compartilham traços com a variante britânica foram detectadas na África do Sul e na Holanda.

O primeiro-ministro Boris Johnson convocou uma reunião de seu gabinete de emergência para coordenar uma resposta às proibições de viagens internacionais e decidir por novas medidas mais drásticas de isolamento social.

As interrupções na fronteira acontecem menos de duas semanas antes de o Reino Unido cortar seus últimos laços com a União Europeia, apesar de ambos os lados não terem conseguido chegar a um acordo comercial para o Brexit.

Um dos impactos mais temidos de um Brexit “sem acordo” são as interrupções generalizadas ao longo das fronteiras da Grã-Bretanha – um cenário que parece já materializado e que pode colocar pressão adicional sobre o primeiro-ministro Boris Johnson, que está sob críticas pelo tratamento dado às negociações do Brexit e à pandemia do coronavírus.

Ouro e petróleo

O preços do petróleo que estiveram em alta nas últimas semanas diante do avanço da vacinação também sofreram.

O contrato para fevereiro do WTI negociado na Nymex fechou em queda de 2,58% (US$ 1,27), a US$ 47,97 por barril, enquanto o Brent para o mesmo mês comercializado na Intercontinental Exchange (ICE) também baixou 2,58% (US$ 1,35), para US$ 50,91 por barril.

Após ultrapassar a marca de US$ 1,9 mil por onça-troy, o ouro devolveu os ganhos e fechou em leve baixa. Investidores monitoraram notícias relacionadas ao avanço do coronavírus no mundo, enquanto aguardavam a aprovação do novo pacote fiscal no Congresso americano.

O contrato para fevereiro do ouro negociado na Comex, a divisão de metais da New York Mercantile Exchange (Nymex), fechou em queda de 0,32%, a US$ 1882,80 por onça-troy.

O movimento de queda, entretanto, deve ser apenas pontual, na avaliação de economistas, que veem mais potencial de alta para o metal. O Bank of America projeta o ouro a US$ 2,1 mil por onça-troy em 2021.

Segundo o Commerzbank, o metal vem sendo impulsionado pelo recente enfraquecimento do dólar – que torna o ouro mais barato para os investidores que operam outras moedas – o avanço das expectativas de inflação e a redução dos rendimentos reais na renda fixa.

Com mais uma rodada de estímulo fiscal nos EUA, crescem as especulações em torno da sustentabilidade da dívida americana, o que tende a impulsionar a busca por ouro. As incertezas em torno da recuperação econômica global, diante das restrições adotadas pelos países para combater a covid-19, também alimentam a atratividade do metal precioso.

(Com AE)

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