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Deflação e queda de juro destravam crédito e aumentam otimismo no 2º semestre

Economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados e Joaquim Levy, do Safra, analisam os fatores que favorecem a economia brasileira nos próximos meses

José Roberto Mendonça de Barros e Joaquim Levy: cenário atual era inimaginável no início do ano | Foto: Reprodução

O segundo semestre está começando com uma onda de otimismo graças a um conjunto de fatores que eram inimagináveis no início do ano, segundo análise do economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados e ex-secretário de Política Econômica. Ele debateu o tema com o diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados no Banco Safra, Joaquim Levy, no programa Papo de Especialista, disponível no canal do Banco Safra no Youtube

Entre os fatos que melhoram a perspectiva para o segundo semestre estão a queda da inflação, o iminente início do ciclo de corte dos juros, a aprovação do arcabouço fiscal e o avanço da reforma tributária, a mudança estrutural nos impostos brasileiros que vem sendo negociada há décadas. “Esse conjunto de fatores é surpreendente, era impossível imaginar isso no início do ano, quando se temia o descontrole de gastos e o avanço da inflação”, comenta Mendonça de Barros. Ele acrescenta que a melhora do cenário vai estimular o aumento dos investimentos, o que ajuda a incentivar crescimento, especialmente na construção civil, que depende de crédito.

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Segundo Joaquim Levy, a queda dos juros ajuda a destravar o crédito pessoal, especialmente o consignado. Muitos empréstimos podem ser refinanciados, aumentando a capacidade de pagamento dos correntistas. “Só no crédito consignado pode haver uma injeção de recursos na economia de cerca de R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões, o que vai ajudar a impulsionar o consumo e a retomada do crescimento em 2024, independentemente das exportações, o que permite um crescimento mais equilibrado, capaz de estimular novos os investimentos”.

Mendonça de Barros destaca que o Brasil vai precisar enfrentar uma segundo desafio, de garantir a sustentabilidade. “Temos uma melhora de desempenho e de bem estar para a população, mas vamos precisar de uma segunda rodada do arcabouço que garanta a sustentabilidade”, afirma.

“As expectativas em 15 de janeiro eram de um governo politicamente forte, mas com uma política econômica preocupante. Havia muito pessimismo no ar. Agora, após cinco meses, vemos o cenário oposto: o governo relativamente fraco politicamente, dependendo de apoio de outros partidos no Congresso, mas a agenda econômica andou muito melhor do que poderíamos esperar. As expectativas são muito positivas”, comenta Mendonça de Barros.

Mendonça de Barros: cenário externo favoreceu o Brasil

Ele destaca dois fatores que mais contribuíram com a melhoria das expectativas: o cenário internacional favoreceu o Brasil, e a safra agrícola foi muito melhor do que se esperava. Exceto no Rio Grande do Sul, o clima foi muito favorável, e a safra saltou de 280 para 320 milhões de toneladas, com produção e produtividade muito altas. A primeira parte da entrevista, com a análise do cenário externo, também está disponível no canal do Safra no Youtube.

A combinação de cenário externo melhor com o choque positivo agrícola foi muito positiva para a economia, com um bônus adicional inesperado: o sistema não teve condições de armazenar e escoar toda a produção, o que levou a um deságio nos portos e redução dos preços no interior, o que derrubou os preços no atacado, e essa deflação agora está chegando ao varejo.

O fluxo cambial aumentou com os resultados da balança comercial e também com o maior fluxo de capital estrangeiro, o que derrubou o dólar para abaixo de R$ 5. Isso levou à deflação nos bens industriais.

“A política monetária efetiva pelo banco central leva a uma inflação decadente, que favorece a atividade econômica. Isso deve ficar mais evidente no segundo semestre, quando os preços caírem ainda mais no varejo, com promoções e descontos”, analisa Mendonça de Barros. Joaquim Levy destaca que o índice de preços no atacado está negativo há meses, e a deflação vai chegar ao bolso dos brasileiros no segundo semestre.

Boa parte do avanço deve-se ao mérito da equipe econômica, responsável pelo novo arcabouço fiscal, pois isso afastou o risco de descontrole de gastos, destaca o economista da MB Associados.

“Longe de ser uma regra completa, é uma primeira formulação, que elimina o risco de descontrole, e o avanço da reforma tributária melhora ainda mais o cenário”, afirma. Joaquim Levy lembra que o País já pode ter a inflação dentro dos limites (bandas) da meta de inflação já em 2023, com o IPCA caindo a cerca de 4,5% no fim do ano.

“O Banco Central sinalizou que a taxa de juros pode começar a cair em agosto. Mesmo que venha a baixar 1% a cada três meses, ainda estaremos com a política monetária contracionista por mais tempo. No final do ano os juros devem estar em 8%. Ainda continuará a ter efeito de esfriar a economia e segurar os preços”, diz Levy.

Ele comenta que a renda fixa já antecipou boa parte da queda de juros, e quem investe em ativos pós-fixados vai ver o rendimento caindo um pouco, “mas ainda bastante generoso”. Ele acrescenta que os mercados já se antecipam, e a Bolsa começa a se recuperar, podendo crescer mais 15% ou 20% em 2023.

Joaquim Levy defende a importância de orientar a economia e evitar risco de descontrole de gastos e cita o plano de transição ecológica do ministro da Fazenda Fernando Haddad. Ele acrescenta que o País pode crescer de maneira mais equilibrada no ano que vem, e precisa pensar o que vem depois.

“O Brasil precisa aproveitar todas possibilidades dessa economia vibrante, junto com o sistema financeiro, que cada vez é mais comprometido com as questões de sustentabilidade climática”.

Mendonça de Barros acrescenta que o Brasil tem outra grande vantagem, que começa a ser reconhecida: “Mais de 85% da nossa matriz energética é sustentável, o que está muito acima da média global. Temos muitas coisas nessa direção que favorecem o Brasil no atual contexto internacional”.

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