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Emprego nos Estados Unidos aponta para desaceleração em 2024

Relatório do Banco Safra analisa a tendência de desaceleração da economia dos Estados Unidos, que deve ser confirmada hoje pelo Payroll

Payroll eua emprego

Alta dos juros e esgotamento da poupança pessoal vão esfriar o consumo no futuro não muito distante, levando a uma atividade mais fraca nos Estados Unidos | Foto: Getty Images

O relatório de empregos (payroll) de novembro, o último antes da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve, deve confirmar hoje a desaceleração da economia dos Estados Unidos. Um relatório do Banco Safra com análise dos dados mais recentes da economia norte-americana destaca sinais da desaceleração como o mercado de trabalho bem comportado, setor imobiliário estagnado e condições financeiras ‘preocupantes’ em diversas regiões.

“Tanto o aumento das taxas de juros quanto o esgotamento da poupança pessoal são fatores que vão esfriar o consumo no futuro não muito distante, levando a uma atividade mais fraca nos Estados Unidos ao longo do próximo ano, conforme nossa projeção de crescimento médio entre trimestres da ordem de 0,1%”, destaca o relatório semanal de macroeconomia do Safra para clientes.

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O relatório destaca as informações do chamado Livro Bege, publicado pelo banco central americano, o Fed – uma resenha de respostas de atores econômicos coletadas pelas diversas unidades regionais do sistema, os chamados distritos, conhecidos pela cidade em que se localizam. A edição de novembro do livro Bege, publicada pelo Fed no dia 29 de novembro aponta para o esfriamento da economia americana, de forma mais forte do que as estatísticas e índices de sentimento empresarial talvez venham sugerindo até agora.

O cenário que se extrai da publicação coincide em boa parte com aquele projetado pelo time de macroeconomia do Banco Safra, de amenização da inflação, convergência para menos de 2,5% no ano que vem, e possível retração da economia por algum tempo, diminuindo grandemente a necessidade e conveniência de novas altas de juros, ou manutenção das atuais taxas do Fed para além do primeiro semestre de 2024.

As informações contidas no Livro Bege podem ser organizadas em quatro grupos, cobrindo o ritmo de atividade, os mercados de trabalho, a evolução dos preços e as distinções entre os diversos distritos, permitindo distinguir nuances regionais no desempenho da economia americana.

Atividade mais devagar

O Livro Bege de novembro reforçou a indicação de que a atividade econômica no conjunto está mais devagar desde o último relatório, com crescimento modesto em quatro distritos, estagnação em dois e pequena queda em seis. A demanda por bens duráveis, como eletrodomésticos, continua positiva, mas os consumidores estão mais atentos a preços e produtores com perspectivas mais pessimistas.

Entre os setores de serviços, turismo continua com bom desempenho, enquanto transportes desacelera. A demanda por crédito corporativo caiu ligeiramente, enquanto aquela de crédito ao consumidor continua forte, mas os bancos assinalaram aumento da inadimplência.

O setor imobiliário comercial continua sofrendo com a fraqueza na demanda por escritórios e agora também por apartamentos de aluguel. As vendas de imóveis residenciais continuam baixas, com aumento do estoque de unidades à venda em vários distritos. Principalmente, a expectativa para o nível de atividade econômica nos próximos seis a doze meses piorou.

Mercados de trabalho cresce menos

O aperto no mercado de trabalho continua diminuindo, com crescimento baixo do emprego na maior parte dos distritos e aumento da oferta de trabalho na maioria deles. Além disso, há queda na rotatividade e aumento da taxa de atrito em muitas empresas, com algumas dispensando os empregados menos produtivos, apesar da falta de trabalhadores qualificados em diversos distritos. Nesse ambiente, aumentos salariais continuam entre fraco e moderado na maior parte dos distritos, com muitos deles identificando uma queda nos salários iniciais, não obstante a competição por talentos qualificados.

Preços seguem moderados

O aumento de preços continua moderado, mas acima da meta, apesar da queda no preço do frete e de materiais de construção em vários distritos. Os preços de alimentos, seguros e serviços como água, luz e aquecimento por outro lado, vêm subindo. A avaliação é que os provedores de serviços têm conseguido repassar custos mais facilmente que as indústrias, e que os preços em geral devem continuar subindo moderadamente.

Distinções regionais da economia dos EUA

Na costa leste, a atividade foi mais fraca no distrito de Boston, especialmente na manufatura, onde a desaceleração já dura algum tempo, afetando o mercado de trabalho e a inadimplência, que ainda deve subir. Em Nova Iorque, os destaques são a queda no consumo, sem melhora, no entanto, na desaceleração dos preços, e sinais de estabilização do mercado imobiliário residencial, apesar da pouca disposição das pessoas botarem casas à venda.

Entre os distritos com atividade em queda estão o de Filadélfia e de Cleveland, com salários e inflação desacelerando, vendas caindo e aumento da oferta de trabalho. As empresas em Cleveland notaram maior dificuldade de repasse de preços por conta da menor demanda e maior concorrência.

Os distritos de Richmond e Chicago apresentaram crescimento da atividade, puxado pelas vendas ao consumidor no caso de Richmond. O mercado mobiliário comercial continua em queda nos dois distritos, os contatos em Chicago notando também condições financeiras mais apertadas. Por outro lado, a atividade também está desacelerando em Dallas, com estagnação dos serviços, queda no imobiliário e contração na concessão de crédito. As perspectivas econômicas pioraram, com entrevistados expressando preocupação com a geopolítica e os juros.

O crescimento na área de Atlanta foi fraco, assim como as pressões salariais, com queda de vários custos para as empresas. Do lado positivo, as vendas de automóveis foram robustas. Tanto em St. Louis quanto em Minneapolis e Kansas City a atividade econômica perdeu velocidade, com o mercado imobiliário sentindo os efeitos dos juros em ambas as jurisdições. Salários continuam com alguma pressão em Minneapolis, mas consumidores cuidadosos, optando por itens mais baratos. A pressão da pobreza tem sido sentida no Missouri, apesar dos aumentos salarias, com registro de preocupações sobre preços dos grãos nos próximos meses.

A atividade econômica também se enfraqueceu na costa oeste, com vendas estagnadas e os setores imobiliário e o financeiro mais fracos, criando certa demanda por serviços sociais.

Conclusão sobre o futuro da economia norte-americana

O relatório do Banco Safra conclui que apesar de aspectos individuais em cada distrito, a imagem final é de uma economia em desaceleração, com mercado de trabalho bem comportado, imobiliário estagnado e condições financeiras preocupantes em diversas regiões.

“Destacamos, em particular, como a visão cautelosa em relação à atividade e ao emprego e relativamente benigna da inflação encontrada no relatório corrobora dois aspectos do nosso
cenário para os EUA em 2024. Em primeiro lugar, o aperto monetário impactando negativamente a concessão de crédito e o mercado imobiliário está sendo sentido ao redor do país. Olhando os textos de cada distrito, notamos que, em todos eles, o juro mais alto foi indicado como responsável pelo arrefecimento da construção residencial, comercial ou do crédito ao consumidor. Por exemplo, muitos projetos imobiliários têm sido cancelados indefinidamente (como reportado em Chicago e St. Louis – um contato do Fed em Memphis reporta que toda construção foi interrompida com exceção de residências familiares unitárias). Além disso, o mercado imobiliário, como indicado pelo distrito de Atlanta, tem esfriado porque famílias com financiamento
residencial com taxa de juros fixada se mostram pouco dispostas a colocar suas casas à venda, sabendo que a compra de outro imóvel iria implicar em um financiamento a taxas muito mais caras, o que esfria tanto a oferta quanto a demanda no mercado residencial. Contatos do Fed em Cleveland pareceram particularmente preocupados com o aumento das taxas de juros.

O outro aspecto que podemos destacar é o esgotamento da poupança acumulada pelas famílias americanas a partir das transferências federais pós-covid. Um banco do distrito de Cleveland atribuiu o aumento das taxas de delinquência à utilização de crédito por famílias de renda média e baixa, que esgotaram seu excesso de poupança. Contatos em Kansas City reportam fenômeno semelhante. Tanto o aumento das taxas de juros quanto o esgotamento da poupança pessoal são fatores que vão esfriar o consumo no futuro não muito distante, levando a uma atividade mais fraca nos Estados Unidos ao longo do próximo ano, conforme nossa projeção de crescimento médio entre trimestres da ordem de 0,1%”.

Íntegra do relatório semanal de macroeconomia do Banco Safra.

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